No limite da paciência

Assim se define o sentimento das pessoas em relação à lista interminável de prioridades que estão no horizonte da sociedade brasileira – e que exigem atitudes e encaminhamentos rápidos e marcados por um aguçado sentido de utilidade. É incontestável que a mobilização em prol da Lei Ficha Limpa revela a impaciência da sociedade com a forma como os cargos são exercidos no executivo e no legislativo. Essa impaciência precisa chegar ao judiciário, alcançando aqueles considerados “ficha suja”. Está em curso um movimento que trará à tona o desejo e a necessidade de moralidade nos exercícios de governos, responsabilidades, tarefas e missões assumidas.

Essa exigência toca setores da vida social, política, econômica, religiosa, familiar e profissional. Não se pode correr o risco de abafar essa vontade de moralidade na sociedade. Trata-se, é verdade, de uma luta insana. Não é fácil. Ainda com sinais fortes desse desejo de moralidade, vencer a crosta formada pelas práticas abomináveis de corrupção, manipulações e interesses mesquinhos no tratamento da coisa pública. Esse é o desafio de construir o tecido de uma nova cultura. A cultura da moralidade traduzida na honestidade de atos, gestos e palavras na vida pessoal de cada cidadão, articulando ações transparentes pela obediência e respeito a valores e princípios, superando a sedução espúria do poder e do dinheiro.

Essa cultura nova da moralidade exige esforços educativos e a correção nos funcionamentos dos processos para permitir, com mais rapidez, que os valores morais, o respeito à justiça e à solidariedade se tornem elementos e referências na vida comum, em todas as circunstâncias.

Este ano eleitoral guarda uma oportunidade de ouro para se avançar nessas conquistas. Não basta apenas escolher nomes das listas apresentadas para que sejam sufragados nas urnas. É preciso que a sociedade, em nível local e nacional, faça o debate sobre a lista de suas prioridades, verificando a competência e real capacidade de ação imediata dos que governam e estão oferecendo seus nomes para o exercício de responsabilidades e tarefas que, acima de tudo, têm que tratar e encaminhar concretamente as necessidades básicas do povo. É preciso estourar a habitual bolha de promessas eleitoreiras deste tempo de campanha.

Nesse horizonte, os eleitores e cidadãos precisam ter clareza a respeito das prioridades e urgências, no contexto dos seus municípios, micro regiões e regiões metropolitanas. É necessário atentar para os entraves que, determinados tipos de cultura, podem estar fomentando atrasos, tolerando justificativas e se deixando encantar por discursos paliativos no tratamento dessas mesmas prioridades e urgências. O déficit habitacional é um mal no cenário brasileiro, também em Minas Gerais, com particularidades na sua região metropolitana. Essa urgência está de braços dados com a inadiável qualificação da educação, sob pena de assorear uma cultura rica como é a de Minas – precipitando-a em esvaziamentos e no nascimento de uma cultura sem valores e referências religiosas, familiares e relacionais. É hora de novas posturas governamentais.

É o momento de contar com figuras representativas, no executivo, no legislativo e no judiciário. Assim também o âmbito religioso e cultural precisa de figuras mais proativas, de visão larga e com audácias, que saiam da cozinha e coloquem Minas, cada vez mais no seu merecido lugar, confirmando a história e sua tradição, no cenário nacional. As escolhas e os encaminhamentos todos precisam contar com figuras que tenham presente nossa história, para garantir renovação, avanços e não simplesmente a conservação. Isso para não corrermos o risco de dar um uso tacanho às riquezas, tradições e tudo de especial que a sociedade mineira possui.

Na lista grande que se abriga no arco do limite da paciência: déficit habitacional, educação qualificada, e amplamente oferecida, trabalho para todos, defesa da vida em todas as etapas, está o caos rodoviário que coloca Minas, em razão das mortes, em situação de guerra. As estatísticas são aterrorizantes. A BR 381, é um exemplo de morosidades, com justificativas de processos que não se comparam com a gravidade da situação. Eleições 2010, em âmbito nacional e local: oportunidade para analisar nomes e tudo que está no limite da paciência.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Tags:

leia também