Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Prezados leitores/as!
Desde o dia 13, em que celebramos o 30º aniversário da realização do XII Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Natal, a nossa Igreja Arquidiocesana entrou no processo sinodal convocado pelo Papa Francisco. Isso porque o Papa tomou a iniciativa de convocar uma fase preparatória do Sínodo dos Bispos, cuja Assembleia Geral Ordinária, a 16ª, acontecerá em 2023. A fase preparatória é chamada de “Fase Diocesana” e é a primeira parte do caminho que se concluirá em 2023. Toda a Arquidiocese é convocada a entrar nesse processo. Não se trata de uma atividade extra ou entrada em vigor de um novo processo. A realidade pastoral, bem como a participação dos fiéis em movimentos, associações, e a vivência de serviços em nossas paróquias e comunidades, tudo é vivido na sinodalidade. Caminhamos juntos, graças a Deus.
O caminho sinodal se reveste de uma necessidade diante dos desafios em que nos encontramos a enfrentar. De fato, na sociedade em que vivemos sempre nos rodeia a tentação do individualismo, da autorreferencialidade e do clericalismo. O Papa Francisco já tinha apresentado essas tentações e outras mais, que rondam os agentes pastorais, na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: “uma acentuação do individualismo, uma crise de identidade e um declínio do fervor”; vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração”; “a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre”; “falsa autonomia que exclui Deus, mas pode também encontrar na religião uma forma de consumismo espiritual à medida do próprio individualismo doentio”; “o mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, e com isso, buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal”; “alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança econômica” (ver números 76 a 98). Ceder à essas tentações faz muitos fiéis ferirem a natureza da fé e da participação na Igreja. Por isso, a convocação à “sinodalidade” se apresenta como um grande incentivo à conversão pastoral, a entender a dinâmica criativa do Espírito Santo em nossa vida e nas nossas comunidades, a experimentar a alegria de Deus que se comunica a nós, formando comunidade, dando-se a nós, ofertando a comunhão trinitária, fazendo-nos entrar na graça do encontro com Jesus Cristo e com os irmãos e irmãs, para sermos sinais da vida justa e plena.
A participação de todos no processo de escuta, na valorização de cada agente pastoral, bispos, presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, leigas e leigos, fomente, em todos, a alegria de fazer parte da grande comunidade que é a Igreja. Que a sinodalidade, como dimensão própria da Igreja, unida à sua Unidade, Santidade, Catolicidade e Apostolicidade, dê a cada um a força para seguir o caminho. Caminho de escuta, de discernimento, de experiência de comunhão, participação e missão.
Permitam-me terminar com um excerto da oração “Adsumus”, oração rezada pelos bispos presentes no Concílio Vaticano II, o grande evento eclesial responsável pela retomada de uma Igreja sinodal: “Aqui estamos diante de Vós, ó Espírito Santo, Senhor nosso; aqui estamos cônscios dos nossos inúmeros pecados, porém unidos de modo particular em Vosso nome santo. Vinde a nós e ficai conosco: dignai-vos de penetrar em nossos corações. Sede guia das nossas ações, indicai-nos aonde devemos ir, e mostrai-nos o que devemos fazer, a fim de que, com o Vosso auxílio, em tudo possa ser-vos agradável a nossa obra”. Amém.