O Reino de Deus está próximo

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

 

Depois das celebrações natalinas, a liturgia entra no Tempo Comum. Neste ano será o evangelista São Marcos que vai revelar progressivamente quem é Jesus Cristo, chegando a confissão do centurião ao vê-lo morto na cruz: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Este domingo marca o início da pregação de Jesus, segundo São Marcos (Jonas 3,1-5.10, Salmo 24, 1 Coríntios 7,29-31 e Marcos 1,14-20).  

São Marcos vai direto à pregação de Jesus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho”. […] Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Temos aí um resumo programático de como se desenvolveu a missão evangelizadora de Jesus.  

Em primeiro lugar Jesus fala que “o tempo já se completou”. Revela que a história da salvação, em Jesus Cristo, alcançou sua plenitude. A Carta aos Hebreus começa afirmando: “Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nosso pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, […] Ele é o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser”. (1,1-3). O que o Antigo Testamento indicou, agora se tornou realidade e tudo que virá pela frente deverá ser lido a partir de Jesus Cristo. O tempo que Jesus anuncia não é o cronológico, rigidamente marcado pelo relógio e o sistema solar. Fala do tempo kairós, palavra grega que designa o tempo vivencial. Na vivência uma hora pode parecer que dura uma eternidade quando estamos aflitos ou que passa rápido demais numa situação agradável. O tempo de Deus não se prende, portanto ao cronológico, mas é tempo oportuno e tempo para não perder as oportunidades. São Paulo fala que o “tempo está abreviado” e que “figura deste mundo passa”.  

A segunda declaração é que “o Reino de Deus está próximo”. O Natal revelou que Deus assume a natureza humana, as realidades humanas em todas as dimensões, menos o pecado. Revela que há um projeto da parte de Deus para a humanidade. Um plano já iniciado com a presença de Jesus Cristo que perdurará até a eternidade. No dia de Natal, foi lido o anúncio do profeta Isaías: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: “Reina teu Deus” (52,7). 

O anúncio de Jesus é feito a pessoas livres. Ele convida e não escraviza. “Convertei-vos e crede o Evangelho”. A resposta dos convidados se manifesta, antes de tudo, pela conversão. É a mudança de mentalidade e na mudança de rota. É um chamado a uma existência moral. É um chamado a abraçar os valores do Reino de Deus. No prefácio da Festa de Cristo Rei, celebrada na conclusão do Ano Litúrgico, serão rezados estes valores: “um reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. 

A conversão e o crer no Evangelho são um caminho só. A mudança que Jesus propõe envolve a pessoa inteira. Conhecer e assimilar racionalmente os ensinamentos propostos, levá-los ao coração, pois é o centro das decisões segundo a compreensão bíblica, e transformá-los em modo de viver. É uma mudança interior na vida da pessoa que se torna o fundamento das mudanças estruturais na família e na sociedade. Todos os fiéis precisam viver num perene “estado de conversão; é essa disposição pessoal que marca a característica profunda na peregrinação de todo homem pela terra em sua condição itinerante” (São João Paulo II – Dives in misericórdia,13). O único cristão completo foi Cristo. 

 

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