Irmãs Superioras e Irmãos Superiores, Irmãos e Irmãs participantes desta Assembléia Geral da CRB. O encontro com tantos religiosos e religiosas, expressão da Vida Religiosa da Igreja no Brasil, faz nascer uma palavra de gratidão. Louvar a Deus por tudo o que a vida religiosa é e faz na Igreja do Brasil. Agradecer à CRB o cuidado que terão com as crianças órfãs e mutiladas do Haiti.  Quem tem os olhos fixos em Cristo Jesus vê a sua presença nos mais pequeninos e abandonados: “Quem acolhe um destes pequeninos é a mim que recebe” (Lc 9, 48). A presença das religiosas e dos religiosos faz a Igreja no Brasil ser mais fecunda. Como bispo agradeço esse dom dado por Deus à sua Igreja.

  1. Ver é graça! Graça maior é ser visto! Ver realidades, ver coisas, ver ações, ver paisagens, ver animais, ver pessoas. Vemos! No ver de nossos olhos, todo o nosso ser vê!; toda a nossa pessoa vê! As imagens das cidades destruídas pelas chuvas no Nordeste, pelo terremoto no Haiti; casas destruídas, pessoas vagando pelas ruas inexistentes, mãos cavando os escombros na busca de entes queridos, estremeceu, comoveu toda a nossa pessoa, não nossos olhos. Toda a nossa pessoa era atingida na medida em as imagens nos penetravam e fomos tomados de compaixão. Vemos!
  2. As mãos, na delicadeza e sensibilidade dos dedos perpassando o rosto do filho recém-nascido, suscitam no coração paterno a imagem de suas entranhas. E no rosto iluminado vem à fala a visão. Na leitura delicada e reveladora dos dedos ele vê!
  3. Vemos injustiça, estruturas injustas, pobreza, miséria; vemos grandeza, compaixão, fraternidade, solidariedade. Vemos pessoas generosas, acolhedoras; vemos Comunidades reunidas, vemos nossa Vida religiosa, vemos a Igreja em prece, em movimento; a vemos como presença do Reino! Vemos o Evangelho vivo nos gestos e nas palavras de tantos irmãos e irmãs. O nosso ser que vê em vendo se situa, e se lança na busca da realização e da maturação em conformidade com o Evangelho. Ver é graça!
  4. Graça maior é ter sido visto! Na dinâmica do amor vemos depois de termos sido vistos. Nossos olhos repousam sobre a pessoa amada depois de ter sido visto. O olhar de Deus repousou sobre a humildade de sua serva (Lc 1, 48) e nela sobre cada um, cada uma de nós. Fomos vistos, fomos atingidos pelo olhar amoroso de Deus em Jesus Cristo. N’Ele fomos encontrados! (Bento XVI). Desejoso de ver-nos, tomou nossos olhos, isto é, nossa humanidade e fragilidade e, assim, deu-nos novos olhos em nossos olhos. Porque vistos, agora vemos o Pai, vemos o Espírito; vemos novas todas as coisas; novo céu e nova terra; o Reino anunciado e visibilizado n’Ele.
  5. Os olhos da bondade repousaram sobre cada um, cada uma de nós, e, assim, nos tornamos, como religiosos e religiosas, as testemunhas da vida que “os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu o que Deus preparou para os que o amam” (1Cor 2,9).
  6. Com os olhos fixos n’Ele desenrolemos o Livro do Evangelho, Jesus Cristo, escolhamos a passagem onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres; aos cegos a recuperação da vista, para dar liberdade aos oprimidos, e proclamar um ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,16-20). Perceberemos com limpidez a nossa vocação e missão na Igreja. Olhos fixos n’Ele, isto é, perscrutadores, buscadores, enamorados, porque n’Ele vemos o abismo maravilhoso e estupendo do Amor que não é amado (S. Francisco de Assis). Fixos n’Ele: disposição, exposição, correspondência de amor, enamoramento! Nada estático, intimista, mas dinâmico, impulsionador, abridor, despertador, abridor de novos horizontes, novos envios, nova missão.
  7. E com os olhos assim fixos n’Ele, nossos olhos n’Ele transformados (Sto Agostinho, Discursos) pois bem-aventurados os puros de coração, porque vêm, (Mt 5,8), somos anunciadores⁄as do novo tempo, o da graça, a graça do novo Reino; pregadores da justiça como testemunhas de uma nova relação, de uma nova humanidade em Cristo.
  8. “Que ele ilumine os olhos de vosso coração, para que conheçamos a esperança à qual ele vos chama, a riqueza da glória que ele nos dá em herança entre os santos…” (Ef 1, 18). Com os olhos fixos em Jesus Cristo, somos pessoas de esperança num tempo de mudança de época (DGAE 2008 – 2010). As mudanças “nos afligem, mas não nos confundem” (DAp, n. 20). Desafiam-nos “a discernir os ‘sinais dos tempos’ à luz do Espírito Santo, para nos colocarmos a serviço do Reino, anunciado por Jesus, que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (DAp, n. 33). Veremos os sinais dos tempos, as realidades de miséria e opressão; mas veremos que no fundo do fundo das realidades de dor, sofrimento, morte, está o Senhor Crucificado, redimindo, libertando, salvando, o seu povo. E nós n’Ele! Sim, pessoas de esperança, pois, nossos corações, nossas vidas, estão fixas no Senhor! Só por isso valeria uma vida!
  9. Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura dizia o poeta (Carlos Drumond de Andrade). Com os olhos fixos n’Ele, e vendo-nos n’Ele, somos convidados a termos a estatura de Cristo. Com esses olhos, os nossos n’Ele, Ele nos nossos, os nossos olhos feitos Ele, os d’Ele feito nossos, veremos, nos será dado ver.
  10. Com um tão grande número de testemunhas (religiosas e religiosos) em torno de nós… corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixos no autor e consumador de nossa fé, Cristo Jesus (Hb 12,1-3).

Grato.

Leonardo Ulrich Steiner

Assembléia da CRB

Brasília, 19/07/2010

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