Os discípulos do Ressuscitado

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

 

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Neste segundo domingo da Páscoa, lembrado também como o “Domingo da Divina Misericórdia”, nos reunimos para celebrar a fé em Cristo Jesus ressuscitado. A cada domingo, dia da ressurreição de Cristo, a comunidade de fé é convidada á reunir-se para “ver o Senhor”. É um dia de alegria porque, como na Páscoa e “oito dias depois”, o Senhor ressuscitado se faz presente aos seus discípulos, aquece os seus corações, abrindo-os para que possam compreender as Sagradas Escrituras, e, ao partir o pão, abre também seus olhos para que possam reconhecê-lo.

Nesses dias continua a ressoar na Igreja o anúncio da ressurreição, que fez reascender a chama da esperança no coração dos discípulos, que viram o Senhor crucificado e morto na cruz, mas também ressuscitado, a mãe Igreja, cuja missão é anunciar o Reino de Deus, nos convida a celebrar o Domingo da Divina Misericórdia com o coração em festa pela presença do Senhor ressuscitado, que caminha conosco, em nossa peregrinação para a casa do Pai. A Divina Misericórdia vê, com os olhos da compaixão, as feridas da nossa alma, provocadas pelas nossas realidades existenciais, mas sem deixar de olhar com amor e ternura, para os que estão à margem do caminho, relegados ao abandono, pelas injustiças sociais, que empobrecem socialmente e também ferem a dignidade do ser humano nos seus direitos básicos.

A espiritualidade dos discípulos do Ressuscitado não é alheia ou indiferente à dor dos irmãos e irmãs que padecem pela brutalidade das guerras, pelas injustiças que roubam a dignidade dos mais fragilizados e os sonhos e esperança dos jovens, em relação ao futuro.  Os discípulos do Ressuscitado são homens e mulheres imbuídos de uma forte espiritualidade, que “a exemplo do bom samaritano” manifestam um profundo amor pelo seu semelhante “ferido e caído à beira do caminho” e pela humanidade.

Os discípulos do Ressuscitado conseguem ouvir o grito e o lamento daqueles que padecem por falta de pão, de justiça e de paz no mundo. Podem ser cristãos do silêncio, mas não pactuam com o silêncio da indiferença; participam daquele silêncio que gera comunhão, através do diálogo, de uma presença conciliadora, que procura empenhar-se na construção de uma sociedade da não violência, marcada pela fraternidade segundo os valores do Evangelho.

São João Paulo II foi um grande propagador da devoção à Divina Misericórdia. Nos seus olhos refletia a ternura de quem via o sofrimento que estava no coração das pessoas. Tinha um ideal de humanidade, que procurou levar nos lugares e no encontro com as pessoas durante o seu pontificado. Sofreu com a violência da guerra na sua juventude, mas isto não fez dele um homem que deixasse de acreditar no ser humano. Sofreu com a violência que quase lhe tirou a vida como Papa, mas isso não fechou o seu coração ao perdão e à misericórdia. Soube abraçar e perdoar quem lhe feriu, e não deixou de continuar sendo um peregrino do amor, da ternura e da misericórdia de Deus pelo mundo.

Entregou-se à Virgem Maria, a quem tinha uma devoção filial, que o acompanhou em todos os momentos de sua vida. Na alegria da missão e na dor da provação, ele tinha a confiança de que a mãe de Jesus, que esteve sempre tão próxima de seu Filho e não o abandonou, nem mesmo quando agonizava na cruz, também o acompanhava na sua missão de levar Jesus ao coração das pessoas. Que o seu testemunho de fé, nos ajude a mantermos aberta a porta do nosso coração. Só assim poderemos agir como Cristo Jesus nos ensinou, e nos revestirmos de sentimentos de compaixão, de bondade, mansidão, caridade, que favoreçam a construção do Reino de Deus.

 

 

 

 

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