Dom Aldo Pagotto
Arcebispo Metropolitano da Paraíba
A missão dos pais é dar formação integral aos filhos. Hoje o papel inverte-se. Pais patrocinam as vontades dos filhos, aliciados pelo consumismo. Crianças, adolescentes, pré-jovens tornam-se escravos dependentes de modas e modos. Shoppings, “fast-food”, eletro-eletrônicos, tatuagens, tênis. Pais são obrigados a patrocinar despesas supérfluas e caríssimas impostas ditatoriamente por filhos cheios de conveniências e melindres. Pais omissos subservientes às reivindicações dos filhos: não esperem compromisso co-responsável, nem gratidão, nem gratuidade.
Pais que buscam diversões sadias para os filhos frustram-se, pois raramente conferem uma agenda educativa e um local seguro. O que se encontra são forrós eletrônicos, zoada ritmada com letra pornô. A agenda só traz “balada” que só tem graça se regada à bebida alcoólica e outras drogas. Isso tudo está na ordem do dia, espontaneamente.
Por que nos submeter, nós e nossos filhos, à mesmice, sem qualidade artística, além da profusão de bebedeira e outras drogas? O poder público não patrocine empresários espertalhões que enchem as burras de grana, sem retorno para os serviços públicos. Que fiscalizem os “points”, barracas, bares, carros de som nas calçadas onde, em meio à ditadura da zoada e da droga, menores usam bebida alcoólica sem controle.
O povo paraibano aplaude o governador Ricardo que sustou o apoio financeiro do Estado aos governos municipais que promovem a si próprios, sob pretexto de incentivo ao turismo e à cultura. O lucro desses eventos fica mesmo com donos das “bandas”. Entanto, trata-se dos nossos impostos aplicados. Promover esses eventos que estimulam a mediocridade é ganho de simpatia de eleitores, reproduzindo cacifes eleitoreiros.
Na verdade, os jovens nem conhecem outras dimensões da arte e da cultura, a começar pelo resgate do forró “pé de serra” que aos poucos cede espaço a produções comerciais das “bandas”. Já conseguiram destruir grande parte da nossa genuína cultura, ricamente construída. Empresários reagem com frase manjada: “isso vai gerar desemprego, afastar turista”.
Entanto, pais e mães não dormem até que filhos cheguem. Numa madrugada receberão ligação: “sua filha sofreu acidente e foi levada ao Trauma”. Ou ainda, após algum tempo, descobre-se que a filha pegou um bucho ou que abortou numa clínica clandestina. Triste!
Um fato que causa compaixão: sem orientação na vida, adolescentes identificados como “emos” se juntam nas adjacências do centro histórico. Promiscuidade descomplexada, usando-se mutuamente. Alguém dirá: “Você tá por fora. A cabeça da juventude tá em outra. O papo é isso aí”. Ora, cabe a todos nós, pais, mestres, autoridades, formadores de opinião, apresentar às crianças, adolescentes e jovens diversões formativas, pedagógicas, sadias.
Existem projetos nesse sentido? Há mais de cinco anos, na capital paulista são oferecidos aos adolescentes e jovens projetos artísticos e culturais clássicos, “inculturados” na alma do povo de origem humilde, incluindo moradores das periferias. Projeto de inclusão, projeto inteligente!