Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

 

O apóstolo Paulo, grande educador e catequista nas primeiras comunidades cristãs, partilha heranças perenes, atualizados ensinamentos para mente e coração dos cristãos, dos homens e mulheres de boa vontade. Paulo disse, na bela e atual carta aos Efésios: “De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e fazer bem a quem ouve”. Essa recomendação preciosa é remédio que cura o exercício da cidadania em tempos de notícias falsas, emolduradas pelas facilidades e velocidades na circulação de opiniões, juízos e outros enunciados nas redes sociais. As lições de Paulo reforçam que o direito à liberdade de se expressar não desobriga os cristãos de cuidar daquilo que será dito, em qualquer circunstância.  

Reconheça-se a responsabilidade sobre o que se expressa, os possíveis impactos provocados por tudo aquilo que se diz. Todos, particularmente os cristãos, são instados a refletir e a discernir bem – antes de emitir juízos, pronunciar palavras, considerando a força determinante da linguagem. A palavra expressa, dentro da liberdade cidadã, tem consequências que não podem ser relativizadas. É capaz de edificar e de destruir, causar confusões e animosidades. O direito de expressão é sagrado, mas as palavras não devem estar contaminadas por sentimentos alinhados às estreitezas humanas, nem por visões parciais, manipuladas. A sociedade é edificada – com avanços na promoção do desenvolvimento integral, na superação de equívocos nos campos da política e da economia, na promoção da igualdade social – com a força de palavras que geram clarividências, indicando soluções na priorização do bem comum.  

As palavras tecem o tergiversar que é próprio da política, compõem discursos político-partidários. São essenciais na construção de entendimentos para discernir a respeito de escolhas. As palavras possibilitam a vivência civilizada, o relacionamento entre pessoas e grupos. A instrução do apóstolo Paulo precisa, pois, ser “regra de ouro”, especialmente quando se considera este ano eleitoral. Essa “regra de ouro” aplicada e vivenciada poderá reorientar a vida cidadã, contribuindo para a superação de amargos atrasos sociais. Sem o adequado uso das palavras, os atrasos se agravarão, não serão alcançadas soluções para os problemas contemporâneos. A postura adequada, diz o apóstolo, é abandonar a mentira e sempre dizer a verdade. E dizer a verdade não significa se achar no direito de espalhar desaforos, de buscar vitórias ou a própria defesa a partir de discursos que alimentam o ódio, os preconceitos. Trata-se de uma irracionalidade a estratégia de se gerenciar a própria imagem, tentando conquistar credibilidade, a partir da disseminação de inverdades, de difamações sobre os outros.   

Especificamente quando se considera a tergiversação própria da política, todos os cidadãos, especialmente os cristãos – por um compromisso de fé -, devem sempre buscar a promoção do bem, combatendo narrativas, e até mesmo providências legislativas, que buscam simplesmente manipular opiniões, por meio de dinâmicas destrutivas.  A permanência de mentalidades e procedimentos dentro dessas dinâmicas das manipulações leva a atrasos civilizatórios, ao crescimento da violência, impondo prejuízos a todos, especialmente aos pobres. A sociedade precisa reconhecer que são favoráveis as condições para a abertura de novos ciclos, mas é imprescindível que sejam vencidos apegos pelo poder, por situações que beneficiam apenas oligarquias e, especialmente, sejam assumidas as responsabilidades pelas palavras expressas, para qualificar o relacionamento humano.  

Neste horizonte, os cristãos têm obrigação, por princípios e valores ético-morais, de contribuírem determinantemente para que a liberdade de expressão seja exercida sempre de modo adequado. Retoma o apóstolo Paulo, aconselhando: “Não se ponha o sol sobre vossa ira, e não deis lugar ao diabo”. O Apóstolo contribui para ser vivida a experiência espiritual e humana de não fazer da própria boca “uma caverna” de palavras maliciosas, mas fonte de palavras que edificam, enraizadas na experiência de uma vida em Deus, pela paixão, morte e ressurreição de Cristo Jesus. Cada um priorize edificar, por gestos e palavras, a própria estatura segundo a estatura de Cristo. Um percurso que pode começar exitosamente ao obedecer a recomendação: “De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e fazer bem a quem ouve.” 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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