Palavras de Dom Aldo Mongiano após da decisão do STF

Vocês podem imaginar como estou  feliz com a sentença do Supremo Tribunal Federal, apesar das condições anexas deixarem a possibilidade de alguns conflitos.

Belíssima a carta do Dr Paulo Daniel. Ele  merece todos os parabéns por ter dado e ainda dar tantos anos da sua vida pela causa indígena.

Importante agora que os índios vivam unidos, orientados pelos valores tradicionais que se aproximam muito dos valores da ética cristã. Nas comunidades indígenas não há pobres, porque a partilha  é a lei que os orienta. Agora que o problema maior foi resolvido, é preciso olhar para o futuro próximo e encontrar o caminho  que oriente as comunidades.

O fato de ter tanta terra para desfrutar e alguns ainda receberem salário  do governo não deveria dar espaço para  alguns  viverem e enriquecerem, como acontece na sociedade dos brancos. Seria um erro criar classes  com indivíduos que têm melhores condições, crescem e enriquecem enquanto outros ficam num nível inferior. Dentro das áreas indígenas não deveria  haver classes. Pelo contrário deveriam respeitar  a norma  tradicional dos povos indígenas: os bens são da coletividade. Se alguém desejar viver como a sociedade dos brancos (cultivar rebanho em próprio, ter carro, casas) deveria residir fora da área indígena. As normas das coletividades  indígenas  deveriam ser respeitas em toda a área da TIRSS. Os que recebem salário do Estado podem cair na tentação de enriquecer ou quem sabe  produzir mais, ter melhor vida  sem se importar com os que são mais fracos que ficam cada vez mais pobres.

São sugestões minhas, de quem está longe, embora com o coração muito perto. A sociedade indígena deveria  considerar a si própria  como uma grande cooperativa na qual todos são trabalhadores, acionistas, atores e beneficiários do bem comum. Teriam assim a grande força da coletividade e o grande benefício do bem comum.

Esta visão social deveria ser sugerida aos tuxauas, professores, catequistas, todas as lideranças das malocas para que haja  uma correta visão da nova situação social  que  nasceu  com  a homologação e agora com a  sentença definitiva do STF. Guardando sua cultura, seus costumes e tradições no modo de cultivar a terra em busca da auto-sustentação darão sua contribuição própria e original para o desenvolvimento do Estado de Roraima. Assim os planos de desenvolvimento conservarão o espírito comunitário e a conquista do bem comum, frutos da igualdade, da fraternidade e da justiça social.

É o que brota de meu coração neste momento histórico da conquista de TIRSS e desejo partilhar com os índios e aquelas pessoas que os apóiam.

Deus nos abençoe e nos acompanhe.

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