A Romaria dos Parlamentares, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo, com o tema “Fratelli Tutti, amizade social e a política”, contou com três palestras ao longo dia. A primeira delas foi sobre a temática “a relevância da política à luz da Palavra de Deus”, com a assessoria do arcebispo de Curitiba (PR), dom José Antônio Peruzzo.
Em sua fala inicial, o arcebispo destacou o quanto a Palavra de Deus tem, em suas raízes, experiências profundamente políticas e o quanto a fé transforma a política, realçando o significado de santidade:
“Santo não é aquele sujeito todo cheio de perfeições. A palavra santo, no Antigo Testamento, na origem do termo, é aquele que irradia aos outros a bondade de Deus. Não é que ele não erra, não é o perfeito, àquele acerca do qual não há nada há corrigir”, disse.
Dom Peruzzo ressaltou que, nas celebrações das missas, invoca-se “Santo, Santo é o Senhor”. E disse que, quando o Senhor se revelou, foi para mostrar a sua bondade. “Na política é possível viver a santidade”, disse.
Ele também, em sua fala, destacou o significado das palavras Romaria e Peregrinação. A Romaria, segundo ele, quer dizer àquele que faz uma viagem para um lugar de devoção. Já a palavra Peregrino significa viagem longa (em saída); estar a caminho de algo; em busca, em saída de sí.
“Jesus estava todo dia em saída. Ele é o filho de Deus que está à procura daqueles que Deus quer reencontrar e aqui também estamos à procura e em saída”, disse dom Peruzzo.
Se faltar experiência de fé desconfigura a política
Dom Peruzzo também evidenciou a diferença de experiência religiosa e experiência de fé. De acordo com ele, a experiência religiosa é a busca da transcendência. “Rito, ritmos, expressões, cantos, tudo tem uma expressividade manifesta. Não necessariamente é uma mudança interior. As novenas são expressões fortes de religiosidade”, comentou.
E a experiência de fé, segundo ele, modela a própria interioridade. “Minhas escolhas, minhas opções, critérios, diálogos recebem uma configuração inspirada no que eu creio. Se faltar experiência de fé desconfigura a política”, completou.
A política é o grau maior da caridade
Se baseando em uma frase do Papa Pio IX, de que a política é o mais alto grau da caridade, dom Peruzzo afirmou que é importante entender a política como uma maneira sublime de amar o próximo.
Sobre a relevância da política à luz da Palavra de Deus, o arcebispo destacou a passagem do Exôdo e também o Evangelho de Lucas (3,1-2), para demonstrar que “a política é um ótimo lugar para mostrar o bem ou fazer o mal”.
“Nós padres, por exemplo, temos um ótimo poder para praticar o bem ou fazer o mal e vocês políticos também”.
Se dirigindo aos parlamentares, dom Peruzzo argumentou que todos estão em saída, em peregrinação. “Vocês estão procurando lugares em experiência de fé’, disse. E complementou dizendo que, quem mais precisa dos políticos precisa ser olhado primeiro. “Ser rico não é bondade, mas ignorar o fraco é desvio”, finalizou.
Fratelli Tutti e a Amizade Social
Na sequência, o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer (SP), abordou a temática “Fratelli Tutti e a Amizade Social”, ressaltando a Campanha da Fraternidade deste ano que teve como tema principal a “Fraternidade e Amizade Social”.
Dom Odilo explicou aos parlamentares a CF 2024 foi inspirada na Encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti”, ressaltando a necessidade do assunto, apesar de muito acolhido, ser mais refletido para que todos possam perceber suas implicações e consequências.
“É uma Encíclica de ensino social, propõe um modo de viver em sociedade, sob o olhar da fé cristã. Tem aplicações para a vida política, social”, disse.
Junto aos parlamentares, o arcebispo fez uma reflexão sobre o tipo de pergunta que deve ser feita hoje: “que tipo de sociedade temos e que tipo de sociedade deveríamos buscar a partir dos valores que nos orientam”?
Segundo dom Odilo, o Papa Francisco escreve a Encíclica com um olhar para uma sociedade do conflito e de guerra. “Ele aborda o tema da fraternidade humana, lembrando o princípio que afirma que somos todos irmãos”.
“A amizade social é o amor desejoso de abraçar a todos. É a vocação natural dos seres humanos. Irmãos que acolhem, colhem e que se cuidam mutuamente”, disse.
A amizade social é a expressão do amor vivido entre o próxim
Na sequência, o cardeal Odilo convidou os parlamentares a refletirem sobre como ir ao encontro das necessidades e dignidades de quem mais necessita.
“A amizade social enquanto amizade política é o acolhimento de todos, criação de oportunidades e iniciativas que favoreçam o bom convívio social e a promoção das pessoas e o seu desenvolvimento integral”, completou o cardeal.
Amizade social é contrária à polarização
Dom Odilo também ressaltou que a amizade social é para 0s católicos a extensão do amor ao próximo. É, segundo ele, o contrário da polarização e do fechamento em bolhas.
Amizade social e política
Já a terceira e última palestra do dia foi proferida pelo professor Rodrigo Guerra López, secretário executivo da Pontifícia Comissão para a América Latina. Ele abordou a vocação que os fiéis leigos tem para a política e sua responsabilidade de construir a amizade social. Se dirigindo aos parlamentares, ele afirmou que “a parte mais decisiva da fé cristã é agradecer os dons de Deus e que a presença de Maria é um fator fundamental de todos os povos da América”.
Encontro pessoal com Jesus Cristo é maior que qualquer projeto político
O professor também salientou que a fé é a certeza que se tem de que a presença de Cristo é abundante em nossas vidas. “Quando entendermos assim a fé, imediatamente entenderemos que o encontro pessoal com Jesus Cristo é maior que qualquer projeto político”, disse.
“A pessoa de Jesus Cristo é irredutível a qualquer ação política. A partir dessa premissa, podemos descobrir que através de nossa fé somos irmãos e que nossas diferenças politicas são legítimas. Nossa própria posição política nunca deve ser a gota da incompreensão política”.
O professor incentivou os parlamentares a, cada vez mais, se familiarizarem com o que Jesus Cristo tem pedido: “O mais importante é a unidade católica daqueles que trabalham com a política”, disse.
Para ele, a única radicalidade possível e aceitável está em dedicar a vida para que o povo não sofra e não se desgaste. “A igreja não se limita a ajudar o nosso povo a viver mais fraternamente e aí está a Amizade Social, que o Papa Francisco tanto pede”, argumentou.
“A Fratelli Tutti é uma carta magna para a sociedade do futuro”, finalizou.