Um renomado cronista brasileiro, fazendo uma leitura da vida da população, escreveu, com uma particular percepção: “Nos planos de Deus, a vida seria de graça. Mas, depois daquela história da maçã, o homem foi condenado a comer o pão regado com o suor do rosto. E a mulher, a parir seus filhos com dor. Tanto o pão quanto o parto custam caro.” Parece que, no entendimento do cronista, se não fora o pecado, a vida humana na terra seria um “dolce far niente”, conforme a expressão italiana. Biblicamente, o pão está associado ao trabalho; o “ganha pão” resulta do esforço, do suor do rosto de qualquer trabalhador.
Como ensina o Genesis, pelo lugar que ocupa no plano e no ato da criação, Deus deu ao homem e à mulher o poder de se multiplicar e de dominar peixes, aves, animais, sementes, árvores, frutos. (cf Gn 1, 26-31) Obviamente, por sua natureza e condição, o homem não se realizaria apenas tendo “sombra e água fresca”. Portanto, a sobrevivência seria conquistada com sua inteligência, participação, iniciativa, trabalho. Porém a experiência do pecado interferiu profundamente na condição humana. (cf Gn 3, 1-13) O trabalho tornou-se um ônus para o homem. (cf Gn 3,17-18) Apesar disso, em qualquer tempo e, de maneira muito visível, nos dias atuais, a falta do trabalho constitui um peso maior do que aquele exigido pela mais dura atividade braçal. A mulher, em particular, experimenta a dor do parto. (cf Gn 3, 16) Em que pese essa face da dor, o momento do nascimento de uma criança, expelida, naturalmente, ou extraída, cirurgicamente, é uma experiência impar, reservada unicamente às mulheres, carregada de uma alegria imensa, por vir à luz o fruto de suas entranhas.
Os dois itens enfocados – pão e parto – estão entre aqueles que envolvem toda a população. Em relação à alimentação, estatísticas brasileiras, recentemente divulgadas, e depoimentos de “donas de casa” em supermercados e feiras livres, confirmam o aumento dos preços na feira semanal ou mensal. Os produtos alimentícios têm uma contribuição destacada na contabilidade da inflação, não obstante a sua manutenção em patamares administráveis, desde o início da adoção do Real, quando comparada com o descontrole de décadas passadas, com as conhecidas repercussões na vida da população. A alimentação é uma prioridade básica na vida de todos e para as camadas populares torna-se desafio da sobrevivência. O outro item, que compreende gestação, parto e pós-parto, também pesa na contabilidade familiar. A assistência dos Poderes Públicos é reconhecidamente insuficiente e, em muitos lugares, inexistente. Os Planos de Saúde que, na prática, estão se universalizando, representam um encargo pesado nas contas domésticas. Ante a fragilidade da criança, todas as famílias enfrentam custos especiais com a prevenção e com a medicação; via de regra, a Saúde Pública não oferece um serviço de qualidade nessa matéria. Enfim, todos sabem, por experiência, que, além do pão e do parto, itens como moradia, educação, segurança, transporte e tantos outros incidem nos custos da vida e da sobrevivência familiares; assim, “Viver custa caro.” Mas, como não pode ser diferente, tudo isso faz parte da “Luta pela vida”, de que falava Hobbes.
Diante dos custos cotidianos, afirmou o cronista: “O consumidor final não pode estrilar. É pagar ou morrer. Termina a vida pagando e morrendo. Em todo o caso, há uma lei compensatória nisso tudo. O presidente da República já estava no avião para ir a Davos e foi tirado de bordo por causa da pressão alta. Acredito que não tenha pago nada, tudo fica por conta da mordomia do Estado.”