Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Caros diocesanos. Continuamos no Tempo Pascal, que indica novos caminhos a seguir, a partir da morte e ressurreição de Jesus Cristo, especialmente neste tempo da pandemia. Já apontamos em outras mensagens que, em meio aos sofrimentos e apreensões do covid-19, há também aprendizagens e experiências que indicam para novos caminhos, apontam para os valores essenciais e contribuem para renovar o próprio sentido da vida. Esses podem ser verdadeiros sinais de graça, de vida nova ou sinais de Páscoa entre nós. Hoje apresentaremos a síntese de algumas aprendizagens que um sacerdote refletiu com seus fiéis numa homilia, depois de passar pela experiência dos graves efeitos do coronavírus, no final de 2020. Compartilhou, em síntese, o presbítero convalescente:
- Quando enfermos, damo-nos conta que somos radicalmente humanos: frágeis, fracos, vulneráveis, sujeitos a doenças, mortais. No hospital podemos ouvir ou sentir próxima a palavra “morte”. Ninguém deseja ouvi-la, sobretudo, nestas condições. Não somos sobre-humanos, mas mortais. A vida desfalece facilmente. Aqui entendemos um pouco o que significa que Deus se fez carne, se fez humano para estar conosco;
- Na enfermidade grave, aprendemos que na vida há valores essenciais e há outros que não o são. Há coisas que valem a pena e outras não importam ou importam pouco, são secundárias, passageiras, acidentais. O essencial é a vida, a saúde, os bons amigos, a família, a fé. O resto é insignificante, absolutamente nada, também o dinheiro. Nem um multimilionário pode comprar um minuto de vida;
- Nos momentos de crise, como na doença grave, se tornam importantes as pessoas que amamos; caem as aparências, os interesses, as necessidades. Destaca-se o coração, o qual sabe amar com capacidade extraordinária. Gestos de afeto, de atenção, de cuidado, tornam-se remédio. Manifestações da família, da comunidade, dos amigos também curam. Ali está o coração, o amor, a salvação que necessitamos. Junto com o tratamento deve estar o coração, o amor;
- Nas situações de crise as explicações, a lógica, os sistemas, os discursos cedem seu lugar. Só permanece o “estar”. O que serve é uma palavra discreta, uma lágrima, uma oração, uma promessa, um gesto de amor, um sofrimento compartilhado. Coisas muito simples. O que serve é alguém presente, nada mais;
- Na enfermidade grave só Deus basta. Sem fé nada tem sentido e nada podemos. Se não cremos, já morremos. Quando tudo está perdido, somente Alguém (letra maiúscula) fica e pode consolar: Aquele que é Pai-Abbá, com coração de mãe. Deus age em todos e através de todos. Deus manifesta-se como medicina, como tratamento, como médico, como terapia. O amor e a oração também são medicina;
- Para o enfermo tudo pode ser adiado, cancelado. Somente o viver não pode ser interrompido. E se vive no presente. Por isso, vivamos hoje. Não sabemos se haverá amanhã. E não basta sobreviver de forma medíocre. Amanhã, o doente pode ser você;
- Quando enfermos, tudo parece perder o valor. Por que dinheiro, aparências, títulos, cargos, quando estamos desnudos no leito de hospital, totalmente dependentes? Por que tanta soberba? No leito da enfermidade, nada parece servir, apenas tentar viver;
- Recuperar a saúde é receber a graça de nova oportunidade que Deus concede. É novo caminho: Ressurreição. Deus pode tirar a vida da morte. Saibamos aproveitar o kairós, o tempo de Deus. Aprendamos a viver com olhos abertos e coração palpitante. Isso se pode aprender, quando passamos pela doença.