Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
No próximo domingo, o 2º da Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Misericórdia Divina. Instituída por São João Paulo II, durante o Jubileu do Ano 2000, inspirado pelos escritos de Santa Faustina Kowalska, canonizada pelo santo pontífice polonês no mesmo ano, a Festa da Misericórdia se insere no significado do Tempo Pascal: esse é o tempo da misericórdia. De fato, celebramos a misericórdia do Senhor manifestada na Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Nesta semana que estamos concluindo, a Oitava da Páscoa, nós contemplamos. na Liturgia da Palavra, as aparições ou manifestações do Ressuscitado aos seus discípulos, em primeiro lugar, àquela que foi denominada por Papa Francisco de “Apóstola dos Apóstolos”, Santa Maria Madalena.
Vemos em todos os relatos dessas aparições como Jesus, o Crucificado e Ressuscitado, age com misericórdia em relação aos seus seguidores. Sabemos que após Jesus ser preso muitos deles fugiram com medo. Apenas São João, o discípulo amado, é apresentado junto à Cruz com Maria, a mãe de Jesus. Já na Cruz vemos expressa a misericórdia do Filho de Deus: em relação àqueles que o estavam crucificando – ele pede que o Pai os perdoe – “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”; em relação a um dos malfeitores que foi crucifica com Ele – “Em verdade, em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”; em relação à sua mãe e ao discípulo amado – entregando a Virgem mãe a João, vemos não somente o cuidado do filho para com sua dolorosa mãe, mas a atenção dele para com todos os seus seguidores, fazendo dela a Mãe de Misericórdia; em relação ao desígnio de Deus, ao seu projeto de salvação – “Tudo está consumado”, “Pai, em tuas mãos eu entrego meu espírito” – sinal da misericórdia, a realização da vontade de Deus e a plena e total e incondicional entrega de sua vida nas mãos de Deus mostra para todos nós que, sendo Deus misericordioso, cumprir nossa missão ou fazer até o fim a sua vontade nos conduzirá à verdadeira vida, à plenitude da felicidade.
Na Ressurreição de Jesus encontramos a vitória da misericórdia. Assim, na aparição à Maria Madalena, diante de sua angústia, pois pensava que tinham tirado o seu Senhor do túmulo, Jesus se manifesta. Ele dá sentido novo à sua vida – “Não me retenhas… Subo ao meu Pai e vosso Pai…”. a misericórdia significa que Deus é nosso Pai e não nos deixa desamparados; para as outras mulheres, o Ressuscitado traz alegria e dá a missão – “Alegrai-vos”, “Ide anunciar aos meus irmãos… Lá eles me verão” – a misericórdia divina nos instiga a não entristecer-se, mas a está na companhia dos irmãos; aos dois discípulos que se afastam de Jerusalém, indo para outro povoado, a manifestação do Ressuscitado misericordioso se expressa na partilha dos sinais da misericórdia: Palavra e Pão – “Não ardia o nosso coração…Os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão” – assim é a Misericórdia: constantemente Deus fala conosco, “como a amigos” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática sobre a Revelação divina Dei Verbum, n. 2) e nos alimenta do Pão da Vida que é seu Filho ressuscitado, o Vivente; outro dom do Ressuscitado: Ele “abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”, pois elas proclamam que Ele traz a conversão e o perdão dos pecados para todas as nações; a partir da Ressurreição “o Senhor” está sempre conosco, Ele “ceia” com a comunidade dos seus seguidores e sua presença não amedronta nem afugenta, mas é manifestação de ternura e compaixão por cada um de nós. Por fim, no segundo domingo da Páscoa, Ele entrega o dom por excelência, o ápice de sua misericórdia: “Recebei o Espírito Santo”. E o que ele faz: realiza o ministério da Reconciliação – “A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados”.
Vivamos, pois, este tempo de misericórdia. Ela, para sempre, torna-se o estilo de vida dos seguidores e seguidoras de Jesus, o Crucificado-Ressuscitado, o Vivente, o Mediador por excelência para todos nós.