Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)
O novo ano representa um caminho que se abre, uma oportunidade para recomeçar e uma possibilidade renovada de ser feliz. Caminho pressupõe passos. O primeiro deles exige um olhar sereno e sincero sobre as próprias falhas e limitações, dispondo-se a superá-las. Trata-se do passo da serenidade. Não se pode simplesmente apagar o que foi vivido, mas é possível aprender com os erros e dispor-se a uma vida nova. Não se pode ir em frente carregando peso nas costas e amargura no coração. Cargas pesadas acabam enfraquecendo as pernas, impedindo avançar no caminho novo e fazendo sofrer o coração. Há muita coisa a ser deixada prá trás para poder recomeçar. Mágoas, ressentimentos e vinganças devem ceder lugar ao perdão, à reconciliação e à paz.
O segundo passo requer disposição para caminhar juntos, compartilhando alegrias e dores. É o passo do amor fraterno, da amizade e da ternura, que tornam possível trilhar o novo ano com ânimo, leveza e alegria. O caminho pode ser longo e difícil, mas percorrido juntos se torna leve e agradável. Um novo ano traz novas oportunidades de fazer amizades e fortalecer as existentes. O terceiro passo é o da esperança diante do novo caminho. O novo pode ser desafiador, mas não deve ser visto como ameaçador, por maiores que sejam os desafios. Olhar para frente com esperança, realizando sonhos e cultivando novas atitudes.
O quarto passo é o da gratidão de quem acolhe o novo ano como dom e não como um fardo a ser carregado. A cada dia, o renascer do sol representa a possibilidade do novo. A vida deve ser acolhida e saboreada como dom precioso do Criador e como fruto do amor de quem caminha conosco. O quinto passo é o da responsabilidade diante da vida e do caminhar. Ser feliz, vivendo de um jeito novo, não é fruto do acaso, por mais que acontecimentos imprevistos possam definir o caminhar. Depende de nós, de como construímos a vida e a história, não apenas pessoal, mas também familiar e social. Somos corresponsáveis pela construção de um mundo novo, através do amor, da justiça e da paz.
O sexto passo é o da simplicidade. É preciso dispor-se a saborear o valor das coisas simples e a experimentar a beleza dos pequenos gestos em contraste com o consumismo desenfreado e a ambição desmedida, que provocam gastos e desgastes. Por fim, o sétimo passo que não pode faltar para os caminheiros do novo ano é o da fé. A fé em Deus sustenta a esperança, ilumina e orienta o caminho a seguir. Fé a ser alimentada por momentos de oração e meditação pessoal. Fé a ser cultivada e celebrada em comunidade. Deus caminha conosco! Querer caminhar com Ele é sinal que a luz da fé está brilhando na vida ou, ao menos, que a chama que ainda fumega está querendo crescer no coração. Outros passos podem ser acrescentados. Começar por estes poderá ajudar a alcançar o desejado feliz ano novo.