Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Um dos maiores problemas da atualidade é a preservação do ambiente. Semelhante à paranoia nuclear do auge da “Guerra Fria”, a crise ecológica impõe mudança de atitudes e de paradigmas. Os cenários atuais são dramáticos. O projeto de vida moderna e a ideologia do progresso sacrificaram muitas vidas, espécies e ecossistemas. Emerge uma nova radicalidade em relação à natureza.
Percebe-se, hoje, uma crise sem precedentes, e civilizações serem abaladas não é um fato inédito. O específico, porém, deste tempo é que, pela primeira vez, corre-se o risco da destruição do gênero humano. As mudanças climáticas e suas consequências destruidoras apresentam uma nova realidade ao ser humano atual: enquanto desfrutava do conforto consumista com o pressuposto domínio sobre a natureza, tida como ilimitada, não se imaginava a ilusão que se vivia e o quanto o estilo de vida predatório, ainda vivido na sociedade, causa a morte do Planeta.
A atual situação do mundo expressa o fracasso da modernização e do progresso, o qual provocou a atual crise ecológica. A degradação da natureza é apenas uma parte de uma tragédia maior: o esgotamento dos recursos, a elevação dos índices de pobreza e miséria, o consumo desenfreado nos países ricos, a violência urbana e a injustiça social, as guerras, a corrupção sem limites e as relações econômicas.
Percebe-se como a História apresenta uma bela fachada de progresso, de um futuro promissor através da evolução da ciência e da técnica, mas esconde o lado apocalíptico, escuro e mortal das massas “sobrantes” do Planeta e da crise ecológica que ameaça a vida humana na Terra.
Há uma ambiguidade fundamental na atual fase do mundo. Enquanto uma minoria do Planeta já vive no futuro da informática, do mundo digital, do conforto e da facilidade que a tecnologia pode oferecer, a grande maioria da população global vive no passado, sem direito à saúde, educação, alimentação e moradia. Um sistema econômico alicerçado na cobiça, a promoção da competição e o padrão de produção e consumo desenfreado forçarão a Terra para além de sua potencialidade regenerativa.
O hiato entre o padrão de vida de quem já está no futuro e a falta de condições mínimas de vida dos que estão no passado da sobrevivência, cresce como um abismo intransponível. Resultado desse processo é a crescente violência urbana, a expansão da drogadição para aqueles que desejam eternizar o presente e a exploração desiquilibrada do meio ambiente a partir dos princípios do mercado global que deve crescer: custe o que custar!
A preservação do ambiente e da vida humana não pode ser apenas com vistas a um futuro remoto. A questão exige uma nova centralidade, pois se reflete sobre todos os saberes. Há uma responsabilidade comum em vista da sobrevivência. Hoje, se deve agir como se o futuro inteiro do gênero humano estivesse nas mãos da atual geração. O tempo da salvação da Terra é o presente. As previsões são desanimadoras, principalmente no que se refere aos recursos hídricos, pois o problema da escassez de água potável, em muitas regiões do Planeta, tende a se alastrar.
Assumir a responsabilidade ecológica não significa fazer alarde ou prever infortúnios, mas alertar, pedagogicamente, sobre os riscos que corremos. Precisamos tomar uma nova posição: evitar toda violência sobre a natureza e buscar um novo paradigma de convivência pacífica e de coexistência. Contra a acelerada exploração dos recursos naturais, a fé no futuro da Criação tem uma dimensão terapêutica para o Planeta.