Perguntas sobre o futuro

Cardeal Geraldo Majella Agnelo

O evangelista Lucas, 21, 5-19, nos apresenta Jesus no Templo de Jerusalém. Interrogado sobre acontecimentos futuros de Israel e da humanidade, Jesus prevê  agitações e perseguições, e convida a seus discípulos a perseverar na fé.

Também nós somos conduzidos a refletir sobre o sentido dos acontecimentos humanos: presentes e futuros pessoais e da humanidade; agora, no tempo, e ao final dos tempos.

Junto ao belo Templo de Jerusalém, coração da nação e da religião hebraica, Jesus está ali, com os discípulos, e com a gente. Todos admiram o Templo, e o louvam. Mas Jesus arrefece os entusiasmos. “Virão dias em que de tudo isso que admirais, não ficará pedra sobre pedra”. E imediatamente choveram perguntas, alarmadas. De fato, se o templo será destruído, é porque Jerusalém será destruída, e a nação será apagada por seus inimigos. Por isso a pergunta: “Mestre, quando acontecerá”. E se abre o debate sobre o futuro.

Sobre o futuro do Templo de Jerusalém e do povo eleito, para dizer a verdade, os hebreus eram tão cuidadosos das suas coisas, que não conseguiam distinguir e separar a destruição do Templo, do fim do mundo: se cair Jerusalém, cairá o universo. É isso que o profeta Malaquias chamou o “dia do Senhor”. Jesus aceita responder sobre o futuro, mas ao mesmo tempo desilude as expectativas das curiosidades. Existem pessoas que gostariam de conhecer as datas, as circunstâncias, os sinais, e não terão respostas. Jesus, ao contrário, exorta os seus discípulos à perseverança, ao empenho na construção do Reino de Deus. E assegura: “com a vossa perseverança salvareis as vossas almas”.

Jesus lhes explica que o tempo presente á a hora da vigilância confiante, da laboriosidade plena de esperança, e da perseverança no bem. Depois do anúncio “não ficará pedra sobre pedra”, precisa que o acontecimento amadurecerá no clima  de expectativa do messias, com gente enganadora que dirá: “Sou eu!” Não precisa seguir tais pessoas, não se deixar enganar.

Naqueles dias se falará de guerras e revoluções, e os discípulos deverão pagar pessoalmente pela sua fidelidade ao Senhor. Haverá perseguições: “Vos perseguirão, vos entregarão às prisões, vos arrastarão diante de reis e governantes”.

As previsões são inquietantes: “Sereis entregues por fim pelos genitores, pelos irmãos, pelos parentes e pelos amigos; e alguns de vós serão entregues à morte.

Tudo isso porque a fidelidade ao Senhor tem um preço: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome”. Mas Jesus os exorta a não ter medo. Antes, a colher o aspecto positivo das desgraças próximas a acontecer, porque “tudo isso vos dará ocasião de dar testemunho”. E Jesus lhes sugere como testemunhar. Diz não deveis preparar a vossa defesa: eu vos darei a palavra e a sabedoria, de modo que os vossos adversários não poderão nem resistir, nem rebater. Prevê o êxito final: Nenhum cabelo cairá de vossa cabeça sem que Deus o permita. Naturalmente, visto que alguns serão levados à morte, isso está compreendido na visão global da existência humana, que não se desespera mas se entrega à vida em Deus. Assim, conclui Jesus: Com a vossa perseverança salvareis vossas almas.

Jesus explica aos discípulos que o tempo presente é a hora da vigilância confiante, da laboriosidade plena de esperança, e da perseverança no bem.

As palavras de Jesus se verificaram plenamente no que diz respeito ao Senhor. Sabemos que Jesus preso, processado pelo sinédrio, pelo governador romano e por Herodes, enfim condenado à morte. Por isso no livro do Apocalipse Jesus é chamado o testemunha fiel. E Paulo recorda que Jesus Cristo deu o seu belo testemunho diante de Pôncio Pilatos (1Timóteo).

Também os primeiros cristãos em Jerusalém, seguindo o exemplo de seu mestre, conheceram a mesma sorte. Pedro e João foram fechados na prisão, Estevão lapidado, Paulo aprisionado e processado. E tantos outros, perseguidos, preferiram perder a vida neste mundo para depois reencontrá-la, como Jesus, na vida eterna.

“As pequenas coisas são verdadeiramente pequenas, mas ser fiel nas pequenas coisas se torna uma coisa grande” (S.Agostinho).

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