Dom Geraldo M. Agnelo
Cardeal Arcebispo Emérito de Salvador (BA)
Nesses dias de angústia , desespero, de muitas lágrimas diante de tantas mortes, ponho-me a pensar mais uma vez por que o primeiro homem e todos os seus descendentes, incluindo o Filho de Deus que se fez homem, morrem?
A morte não é a última coisa, mas é somente a penúltima. Última será a ressurreição em Cristo e a vida eterna em Deus. Para o cristão a morte permanece um mistério iluminado pela fé. Também Jesus Cristo morreu, mas com a sua ressurreição Deus Pai o tirou da morte, e nós sabemos, porque Jesus nos disse, que tirará da morte a nós e a nossos caros. O discurso cristão sobre a morte é uma novidade inaugurada pela ressurreição de Jesus.
Às vezes sentimos nossos defuntos tão longe, mas a fé nos faz sentir vizinhos. Na realidade, não existe um reino dos vivos e um reino dos mortos. Existe somente o Reino de Deus; e nós, vivos ou mortos, estamos todos dentro.
A Palavra de Deus nos ilumina. O profeta Isaias 25,8, anunciava ao seu povo: O Senhor “eliminará a morte para sempre, enxugará as lágrimas em cada rosto”. O livro de Jó dá esta certeza sobre o além e sobre a visão de Deus: “Verei a Deus. Eu o verei, eu mesmo, e os meus olhos o contemplarão” (19,27). Desejava e pedia que as palavras de sua firme convicção “fossem fixadas em livro, impressas com estilete de ferro sobre o chumbo, esculpida para sempre sobre a rocha” (19,23).
Um sábio de Israel descreveu assim “o destino reservado aos justos: “As almas dos justos estão nas mãos de Deus: nenhum tormento as tocará. Aos olhos dos estultos parecia que tinham morrido, o seu fim foi uma desgraça, sua partida de nosso meio uma ruína, mas eles estão na paz”. Isto ocorre porque “Deus os provou e os encontrou dignos de si”.
O sábio acrescentou que esta é a magnanimidade de Deus: “Os que lhe são fiéis viverão junto dele no amor, porque a graça e a misericórdia são reservadas a seus eleitos” (Sabedoria 3,1-9).
Sobre os destinos do homem o Novo Testamento traz uma luz de pleno conforto para nós. Uma luz que nasce antes de tudo das palavras de Jesus. O Senhor nos revelou “a vontade do Pai”: todo aquele que vê o Filho e nele crê, tem a vida eterna”. E precisou: “Eu o ressuscitarei no último dia” (João 6,40).
Jesus foi mais explícito com os apóstolos: “Na casa do meu Pai há muito lugar. Eu vou preparar-vos um lugar. Voltarei, e vos tomarei comigo. Assim também vós estareis onde eu estou” (João 14, 2-3).
Devemos ao evangelista João, na visão do Apocalipse, projeta luz sobre o futuro do homem. “Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra. Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, pronta como uma esposa adornada para o seu esposo. Eis a morada de Deus com os homens! Ele morará conosco, e nós seremos o seu povo, e ele será o Deus conosco. E enxugará toda lágrima de nossos olhos; não haverá mais a morte, nem luto, nem lamento, nem preocupação porque as coisas de antes passaram… Eu faço novas todas as coisas. Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim” (Apocalipse 21,1-5).
São Paulo é claro: “Somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo”. Conforto para nós: “Os sofrimentos do momento presente não têm comparação com a glória futura!” (Romanos 8,16-18).
Jesus porém precisou quem são os filhos de Deus destinados ao Reino. Eles são os homens das bem-aventuranças. Não aquele que diz Senhor, Senhor!, mas “Bem-aventurados os pobres em espírito, os aflitos, os pacientes, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os operadores de paz, os perseguidos por causa da justiça…” Por que bem-aventurados? É claro: “desses é o reino dos céus” (Mateus 5,1-11).
Jesus mostrou que são filhos de Deus os operadores das obras de misericórdia, com a parábola do Juízo universal. O Senhor dirá a quem cumpriu as obras de misericórdia: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo”. Por que benditos? “Porque eu tive fome e sede, fui forasteiro, nu, doente, encarcerado… e me assististes” (Mateus 25,31-46).
A morte não é a última coisa; é só a penúltima.