O 1º Seminário Paraibano sobre Violência Doméstica Infanto-juvenil foi realizado recentemente em nossa Capital, capitaneado por Soraya Escorel, Promotora da Infância e Juventude. O evento abordou uma série de temas ligados ao fenômeno da violência doméstica. Entre outras formas inusitadas que incidem na destruição da vida das crianças e adolescentes encontram-se os abusos e a exploração sexual. O uso e o abuso de menores para fins libidinosos estão ocorrendo dentro de casa, cada vez aumentando o índice de registros, chegando-se aos 87% (Note bem: do que é registrado e não do que acontece na realidade, bem pior do que se imagina). “Os gritos no silêncio do lar” é uma expressão que traduz o objetivo do seminário para a erradicação do abuso e exploração sexual infanto-juvenil. O que se passa dentro do “lar” é mantido em cúmplice silêncio e conivência covarde. É difícil esperar que as vítimas denunciem seus opressores, pela questão das represálias inconfessáveis.
Abuso e exploração caminham juntos na prática bestial. Equipara-se às épocas de barbáries pagãs descomunais. A exploração compõe-se de formas sofisticadas, atualizadas conforme novas modas, lançadas exclusivamente com fins lucrativos. A título de precocidade duvidosa, hoje crianças de três ou cinco aninhos são “lançadas como modelos”. Há pais que se promovem com isso, especialmente na classe A ou B. As outras classes mais humildes imitam o que fazem aqueles, referenciais de “status”, de bem-estar. Hoje, a pessoa adquire valor pela produção da sua imagem sensual. A vida passa a valer pela aparência de prazer e felicidade, evidentemente com muita grana para curtir.
A violência doméstica possui características variadas. Trata-se de uma fenomenologia que se espalhou pelo mundo; está presente em todas as classes sociais. Por certo o fenômeno da violência generalizada está vinculado diretamente à falta de oportunidades para as classes empobrecidas. A inclusão social com o resgate da dignidade humana é a resposta para erradicação da violência. Assim, o desencadeamento da violência progride na medida em que se negam as oportunidades de formação, através do estudo e do trabalho. Educação e profissionalização é a resposta. Porém, não basta. É preciso investir nas dimensões constitutivas do ser humano – os valores éticos e morais, que formam sua personalidade, modelando sua dignidade inalienável.
Urge uma espécie de “escola” que ajude a formação de pais e de voluntários, responsáveis pelos filhos, promovendo bons relacionamentos, coibindo crimes e injustiças de maus tratos e abusos sexuais, que, repita-se, ocorrem no seio das “famílias”. Todos os profissionais que, por força do ofício sagrado, lidam com a formação das crianças e adolescentes precisam contar com os pais ou responsáveis. Não pode haver divórcio entre a orientação que se recebe na escola e cumplicidade em abusos praticados dentro de casa, lugar insuspeito. Em caso contrário, nada dará resultado. Antes, daí se descobre que “pais venham tirar satisfações” com a direção da escola quando existe algum problema de mau comportamento de alunos.
Hoje, sabemos o que nem daria para imaginar até a pouco tempo atrás: o que se passa no ambiente familiar. Quem poderia suspeitar que no aconchego protetor do lar pudesse ocorrer o que se patenteia escancaradamente – o abuso sexual? A realidade hoje é cruel. O estilo de vida livre, os relacionamentos familiares mudaram radicalmente a partir da década de 60, especialmente com a revolução sexual e com a contestação às instituições e às autoridades, incluindo a própria família. Como não há nada de oculto que um dia não venha a ser conhecido à luz do dia, o ambiente sadio de casa foi desmistificado.
Ontem e hoje, crianças e adolescentes alimentam a sanha dos seus exploradores. Pais ou tutores ou todo tipo de parentela. A sociedade se encontra, de um lado, em estado de choque. De outro, há quem já aprove tudo isso como sendo muito espontâneo, natural. A verdade é que todos nós, em quaisquer áreas profissionais, incluindo a dimensão de fé e bons costumes, devemos nos mobilizar para a educação de crianças e adolescentes, sem deixar de colaborar com a reeducação dos adultos – o que se constitui como desafio nada fácil. Deus nos livre da mentira e nos proteja da violência!