Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)

                Apesar dos avanços na redução do tabagismo, como a proibição de fumo em ambientes fechados, o número de fumantes no Brasil é ainda grande. Durante a pandemia, o tabagismo tem crescido. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao menos 34% passaram a fumar mais, elevando o risco para complicações da covid-19. A ansiedade em meio à crise e o regime de teletrabalho, dentre outros fatores, têm favorecido esse crescimento.

            Embora, para muitos, fumar seja considerado simples hábito pessoal ou costume cultural, o assunto continua a gerar discussões. Os conhecimentos científicos, especialmente, no campo das ciências biomédicas, têm contribuído muito para uma compreensão aprofundada da questão, desvendando o que está por trás da fumaça.

             Dados científicos têm sido frequentemente divulgados mostrando as consequências danosas do fumo no organismo, podendo afetar gravemente vários órgãos vitais, causando vasta gama de doenças e tornando-se uma das principais causas de morte evitável no mundo. Não há consumo de tabaco sem riscos para a saúde. Por isso, as embalagens de produtos com tabaco trazem advertências e imagens chocantes.  Além disso, estão cada vez mais claras as consequências nocivas do fumo também para as pessoas expostas à fumaça do cigarro, denominadas “fumantes passivos”. As restrições legais e as normas adotadas limitando os espaços nos quais se permite fumar não se devem apenas ao incômodo sentido por não fumantes, mas pelas consequências negativas para a saúde deles.

             O abuso ou a dependência do fumo, por seu caráter compulsivo, privam a pessoa da verdadeira liberdade. O real significado psicológico de fumar deve ser situado no conjunto da vida que se tem para ser bem compreendido. Comportamentos compulsivos como comer, beber e fumar, não são soluções efetivas para os problemas existenciais; ao invés, podem representar fuga da realidade, com a permanência e o agravamento de problemas. A nicotina, presente no tabaco, pela sensação momentânea de prazer favorece seu uso abusivo e causa dependência. O hábito de fumar, enquanto comportamento compulsivo, atenta contra a vida, a saúde e a liberdade da pessoa.

             Apesar dos avanços na superação do tabagismo, há muito para ser feito, especialmente junto aos adolescentes e jovens. É preciso colocar a questão em pauta nos meios de comunicação, escolas, famílias e comunidades, e oferecer oportunidade de tratamento, pois o tabagismo é um grave problema de saúde pública. É preciso focar na prevenção e ajudar a parar de fumar o quanto antes. Fumaça de cigarro não é incenso que agrada a Deus, pois não resulta apenas da queima do cigarro, mas do próprio fumante e dos que o rodeiam. Acima do direito de fumar está o direito à vida e à saúde.

                                                   

 

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