Preparando o Natal em Família

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba (PB)

Em vista do Santo Natal do Senhor, as igrejas cristãs orientam os fiéis para estreitar os vínculos de amor recíproco, vivido na família – a igreja doméstica. Para tal intento estão disponibilizados milhares de exemplares da Novena de Natal, motivando os membros da família à oração e reflexão à luz da Palavra de Deus. A temática natalina enfatiza os relacionamentos familiares, com enfoque especial na juventude. O verdadeiro sentido da vida reside no sentimento de pertença efetiva na família. A vida adquire sentido quando se busca a comunhão e a participação entre as pessoas que se querem bem, não obstante erros e fraquezas de cada um. A mensagem do Natal visa integrar os filhos e as filhas de Deus, ainda que estejam dispersos ou afastados. Nada supre o convívio de amor no seio familiar!

Por mais que as propagandas comerciais fascinem-nos ou tentem aliciar nosso apetite de consumo, ninguém substitui o calor humano, vivido no encontro entre os membros de uma família. Ainda que cercados de benesses materiais, nós chegamos a nos afastar dos parentes, acabando por nos dispersar. Nem as comunicações virtuais suprem o sentimento de afeto e de segurança, construído no dia-a-dia do convívio familiar. Pouco vale a correria às compras de fim de ano, na tentativa de compensar o afeto e bem-estar que somente se encontra no aconchego de um abraço sincero. A verdadeira felicidade não se alicerça no excesso de exterioridades que, cedo ou tarde, deixam o espírito vazio, frustrado.

Não raro sentimos decepção pela falta de motivação para que a família reúna-se. Um bom almoço pode ajudar, mas não podemos trocar as pessoas pelas coisas. Não se vai à casa de alguém por causa de comida e sim pelas pessoas a quem se quer bem. Essa é a lógica espiritual que nos aproxima da ceia do Senhor, a mesa da comunhão eucarística, sinal de unidade, vínculo de amor. Receber a comunhão não é prêmio, mas é força, é vigor, é remédio, é conforto para quem precisa se encontrar na vida, encontrar-se com os outros e se integrar numa comunidade, numa família.

Provocações, intrigas, divisões entre as pessoas, entre comunidades e povos resulta da ausência do cultivo da espiritualidade do amor partilhado. O medo da verdade condena-nos à escravidão do egoísmo. O medo de se libertar das mentiras da existência é o medo de amar de verdade! Somente o amor efetivo, encarnado, cultivado em momentos especiais, pode reverter o comportamento adverso, agressivo, suspeito, negativo. Foi exatamente isso que o Cristo veio trazer à humanidade! Ele se encarnou por nós e por nossa salvação da mentira, do ódio, das divisões.

Enquanto Cristo veio como luz dos povos, há gente por aí que insiste em apagar o brilho dos outros para que brilhe somente sua estrela. A mania de tirar vantagem sobre os outros, a excessiva preocupação com a imagem e sucesso pessoal, o despreparo para conviver em sociedade, o egoísmo, a inveja, os ciúmes, enfim, as misérias de nossas vaidades, não deixam espaço para o amor e a verdade de Deus. Enfrentemos as contradições da sociedade de consumo que prescinde dos valores espirituais sem agredir ou se julgar melhor que alguém. Aprendamos em tudo a amar e a servir pela palavra e pelo exemplo.

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