Presidência da CNBB concede entrevista à rádio Vaticano, após audiência com o Papa

Após a audiência com o Papa Francisco hoje, 31 de outubro, às 10h30 (horário de Roma), no Palácio Apostólico, ponto alto da visita de três dias a Dicastérios e Congregações do Vaticano, a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) concedeu uma entrevista ao jornalista Silvonei José Protz, da rádio Vaticano, no estúdio que leva o nome do São João Paulo II, local onde o então papa gravou 21 programas, tendo sido inaugurado mais tarde pelo papa emérito Bento XVI.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, o presidente da entidade, dom Jaime Spengler, primeiro vice-presidente, dom Mário Antônio da Silva, segundo vice-presidente e o secretário-geral, dom Joel Portella Amado se revezaram nas respostas a perguntas sobre a visita à cúria Romana e ao Papa Francisco, sobre os desafios pós Sínodo para a Pan-Amazônia, a caminhada da Igreja no Brasil e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora. Os religiosos também falaram sobre a acolhida aos imigrantes venezuelanos e às Campanhas da Fraternidade e para a Evangelização. Veja abaixo a íntegra da entrevista.

Silvonei José Protz – Vocês estão vindo, como presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, numa sequência de encontro com vários Dicastérios e Congregações da Cúria Romana e que culminou com audiência com o Papa Francisco.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Nós somos agradecidos por este encontro que como você lembrou culmina em nossa visita, como presidência da CNBB, às instâncias da Cúrias Romana e ao Papa. O encontro com o Santo Padre é um encontro da mais alta importância. Tivemos a oportunidade de falar a ele de nossa adesão e de nossa alegria de estarmos juntos nesse caminho que a Igreja procura agora percorrer como novas respostas, fortalecendo nosso coração e nossa missão. Portanto, é um momento de muita alegria. Quero compartilhar que o Santo Padre é um homem de Deus, aberto, próximo, simples. Uma referência muito importante para nós. Estamos neste caminho juntos para que o Evangelho de Jesus Cristo seja anunciado e a nossa Igreja se torne cada vez mais missionária em todo canto porque essa é a nossa tarefa e a alegria de nosso trabalho. Tivemos cerca de uma hora de encontro com ele, de conversa, de partilha nos fortalecendo. E queremos também repassar a todos os nossos irmãos nesse caminho de nossa Igreja.

Como foi esse encontro como presidência da CNBB? O senhor também traz a realidade da Igreja no Brasil?

Dom Walmor – Esse encontro teve, de fato, uma singularidade porque oportunizou a nós, como presidência, colocar no coração do Santo Padre o caminho de nossa Igreja, nossas preocupações, os desafios que enfrentamos mas ao mesmo tempo as esperanças que temos. E, ao mesmo tempo, ouvir dele. Ao ouvi-lo nosso caminho se torna também mais fortalecido. Portanto, uma experiência muito bonita, muito gratificante e que nos fortalece trazendo também o coração de cada irmão bispo, de cada Igreja particular, de todo o nosso Brasil. É assim que nós nos sentimos muito agradecidos e fortalecidos.

O Santo Padre conhece a realidade do Brasil?

Dom Jaime Spengler – Conhece. Ele está acompanhando muito de perto, com muita atenção e muito interesse o dia a dia de nosso povo, da nossa gente e, diria, da nossa Igreja sobretudo. Ele conhece em profundidade a nossa realidade. Já tive a oportunidade de encontrar o Papa em diferentes momentos. O ano passado estive aqui no Sínodo para a Juventude. Tivemos três semanas de trabalho, convívio e oração junto com ele. Uma oportunidade sempre única, singular. Cada vez é especial.

O senhor também teve a oportunidade de encontrar o Papa várias vezes durante o Sínodo para a Pan-Amazônia. Mas é sempre um momento único cada encontro?

Dom Mário Antônio da Silva – É verdade. Durante o Sínodo, a convivência é muito fraterna. Nesta audiência agora com os membros da Presidência da CNBB é algo muito intenso. Mas, ao mesmo tempo, de muita paz e sabedoria. Digo paz não pelo olhar, pela espontaneidade do nosso diálogo com o Papa Francisco. Do entendimento e preocupação dele com aquilo que é a Igreja no Brasil não só por hoje mas também pela história tanto de nossas comunidades e da CNBB. E de sabedoria. Quando a gente convive com uma pessoa sábia, a gente fica alimentado. Alimentar-se deste encontro para que prossigamos no serviço que é o mais importante, de toda nossa vida e de toda a nossa vocação.

Dom Joel Portella Amado – Foi entregue pelo papa pelo secretário das Campanhas o texto base da Campanha da Fraternidade 2020. Que é um pouco também uma grande referência do espírito evangelizador da Igreja no Brasil. Mais do que trazer alguma coisa para o Papa, trouxemos a nossa confiança, nossa unidade e nossa comunhão. E, como já foi dito aqui, receber dele a confirmação é algo importante para, que já estive com ele no início de seu pontificado. Gostaria de ressaltar a tranquilidade interior do Santo Padre. Às vezes nos assustamos com pequenas coisas. Ele que conhece a realidade do Brasil e do mundo, é um homem tranquilo, com uma tranquilidade que brota do Evangelho e leva ao Evangelho.

Como está o Papa, todo mundo sempre pergunta. Que visão o senhor tem?

Dom Walmor – O Papa está ótimo. Sereno. Bonito. Alegre e acolhedor. O que nos fortalece, é para nós um exemplo e nos faz perguntar: de onde vem esta fonte? Certamente, de uma intimidade profunda com Deus que todos nós temos que cultivar que gera também beleza física.

O dia a dia do Papa é complicado. Sempre voltado à oração, no início do dia, mas depois com uma série de audiências a longo do dia. E já começamos a olhar para a próxima viagem internacional do Santo Padre ao Japão com um fuso horário de diferença de 8h em relação à Roma. Quem sabe você não o recebem de novo no Brasil?

Dom Walmor – Será sempre uma alegria. E todas as pessoas que falam comigo pedem: convidem o Papa. Nós esperamos que isto possa acontecer, quem sabe.

Se encerrou no último domingo o Sínodo para a Amazônia. Como foi esta experiência?

Dom Walmor – Eu considero a experiência do Sínodo exatamente a oportunidade do diálogo, da escuta, da partilha e do ato de nos debruçarmos sobre a realidade da Amazônia em si, o que nos ensina muito para todo canto do mundo e do Brasil. Mais do que simplesmente um texto, aliás esperamos aquilo que o Papa vai nos dizer. Porém, aquilo que está no horizonte é um grande convite, forte e permanente, à conversão. Seja pastoral, ecológica, cultural, sinodal, esse é o caminho. Mas mais do que aquilo que se escreveu, é aquilo que ficou marcado em nosso coração e, portanto, marcado para o caminho missionário de toda nossa Igreja. Somos todos aprendizes. Há um longo caminho a percorrer e respostas novas nós precisamos e poderemos dar com a graça de Deus.

Durante o caminho Sinodal vimos muitas críticas, depois aqui nas três semanas um caminho percorrido de muita unidade entre os bispos. O que acontece?

Dom Mário – Foram três semanas de continuidade do processo anterior das escutas de nossas comunidades. Pelo documento preparatório e depois também pela devolutiva ao Instrumento Laboris. Essas três semanas aqui com o Papa Francisco foram uma possibilidade de aprofundamento daquilo que já havia proposto numa discussão. E foi algo para reflexão, complementação, para aprofundamento e de muita oração. A dinâmica e a metodologia do Sínodo é feita de intervenções, falas, mas também de reflexão e oração. E aquilo que concluímos no documento final e entregamos ao Papa foi fruto de discussões, debates, opiniões, de consenso. Mas é inegável que foi fruto de oração, inclusive de quem nos acompanhou no Brasil e no mundo. A oração continua sendo necessária para este momento que entregamos ao padre as propostas e temos consciência de que, como padres sinodais, como comunidades e como Igreja na Amazônia, os caminhos já consagrados, reabriram os novos caminhos que às vezes ficaram esquecidos. Com os novos caminhos propostos, o Papa, tudo indica, vai nos brindar com uma nova Exortação e vai exigir de nós mais empenho, mais interpelação e até mesmo espírito de conversão contínua, à luz da oração e da participação de todos. Foi o meu primeiro Sínodo marcante e singular nesta experiência de vida cristã e de vida episcopal que penso que na oração e caridade produzirá muitos frutos para a Amazônia, América Latina e Brasil e também para todo mundo.

Lá em Porto Alegre como o senhor acompanhou o Sínodo?

Dom Jaime – Nós acompanhamos o processo do Sínodo. Seja da preparação, seja da realização e celebração da Assembleia Sinodal propriamente dita por meio dos meios de comunicação, mas também partilhando com o nosso povo, nossa gente aquilo que podíamos compartilhar. Certamente, a perspectiva do Sínodo nos desafia a todos. O Sínodo para a Amazônia sim, mas o subtítulo traz uma provocação enorme para todos nós: novos caminhos para Igreja. Como ser presença de Igreja na realidade marcada, por exemplo, por esta característica profundamente urbana? Segundo aspecto, como responder aos desafios da secularização muito presente nas nossas sociedades? Como transmitir a fé às novas gerações? Eu creio que são questões que dizem respeito a vida de toda Igreja. Certamente, a realidade da Amazônia serve como uma espécie de pano de fundo. Uma realidade que instiga, provoca e exige de nós uma resposta. Esta resposta certamente repercutirá na vida de toda a Igreja. O caminho iniciado tem o seu lugar, seu tempo. Há uma segunda ou terceira etapa do Sínodo que precisa ser desenvolvida até isto, depois, chegar às nossas comunidades como indicações viáveis para que a Igreja possa ser essa presença vigorosa junto a vida de nossa gente e de nossos povos. Então temos um caminho longo e bonito pela frente e que, certamente, o Espírito de Deus há de orientar a todos nós.

Em Brasília que perguntas se fazia na imprensa e também qual o sentimento sobre o Sínodo durante a realização?

Dom Joel – Havia muitas perguntas a respeito, principalmente a partir do “Instrumento de Trabalho”. Nós sempre procuramos responder dizendo que o Sínodo tem um tema e tem um método sinodal. Por exemplo descrito no testemunho de dom Mário. Muito mais importante do que qualquer tema que se possa tratar. Em princípio, qualquer tema pode ser tratado por um Sínodo. Mas quando se substitui o papel pelo rosto e pelo convívio, como dom Mário indicou, nós vimos a surpresa de que todas aquelas possíveis problemáticas que poderiam gerar cisões e incompreensões não aconteceram. Em Brasília foi assim. Nossa Assessoria de Comunicação acompanhou a cada dia, nossa Assessora de Comunicação esteve no Vaticano produzindo boletins diários e as informações. A cada dia se firmava para nós uma certeza: a beleza da comunhão se concretizava naquele encontro conduzido pelo Santo Papa.

Destacamos a beleza da construção deste Sínodo, com opiniões divergentes, mas com uma metodologia que propiciou a escuta e se chegou a consensos.

Dom Walmor – Oportuniza sua reflexão a dizer que nada é mais importante na Igreja que a comunhão. Não é uma comunhão simplesmente pelas nossas afinidades ou pelo modo de pensar igual. Mas é uma comunhão que se funda exatamente na Trindade, no Pai, no filho e no Espírito Santo e constitui a base do caminho espiritual e de vida de todos nós. Por isto que na Igreja Católica, as diferenças que existem muitas criam tensões. São tensões em razão de nossa condição humana. São confrontos, mas temos a possibilidade de fazermos de nossas diferenças, pela força da comunhão que está para além de nós em nossa fonte que é Deus, uma grande riqueza. E um Sínodo é esta experiência de colocações e perspectivas, às vezes diferentes, na busca de novos caminhos que foi e continua sendo uma experiência muito bonita porque quem conduz a Igreja é o Espírito Santo. Quando há comunhão, não há vencedores e nem vencidos. Todos estão no seu lugar certo dando sua contribuição porque o que vale é a comunhão e o amor.

Esperamos agora a Exortação Apostólica, quem sabe como um presente de Natal.

Dom Walmor – Esperamos, assim o Papa Francisco sinalizou. Estamos rezando e em comunhão e será certamente muito importante chegar essa sua palavra como fruto deste caminho que empenhou tantas pessoas e tantas comunidades. E que a partir das comunidades da Amazônia interpelou a Igreja no Brasil e no mundo a novos caminhos e respostas.

A CNBB publicou recentemente uma nota sobre o vazamento de óleo no Nordeste brasileiro cobrando, à luz do Sínodo, uma profunda conversão ecológica.

Dom Joel – Há uma pergunta muito simples de fazer porém complexa de assumir como desafio: o que é que estamos fazendo com a criação que Deus colocou em nossas mãos? O que estamos fazendo com os seres humanos e com as pessoas? Vemos inúmeras situações de dor e sofrimento. E o que é que estamos fazendo com o Planeta? Eu não tenho clareza técnica para dizer da origem do óleo. Mas nem me pergunto pela origem. Seja acidental seja o que for, ele ali está como sinal de que alguma coisa precisa ser feita. Senão impedir que aconteça, pelo menos com um pouco mais de rapidez se apure para que não se repita e se resolva as sequelas ali deixadas que são muito grandes.

Os senhores também citaram o ímpeto de homens e mulheres que se colocaram voluntariamente para salvar o meio ambiente.

Dom Joel
– Sim, o mundo precisa disto. Precisa de pessoas que acreditam na causa de Deus, do ser humano e do planeta. Pessoas que, se for preciso, até doam a vida para resolver os problemas da humanidade. No âmbito ecológico mas também em tantos outros âmbitos. Vendo dom Mário aqui me lembra a situação lá dos refugiados venezuelanos. Quantos voluntários, quantos corações generosos nós temos. Ou se quiser voltar na questão do Sínodo quantas pessoas no silêncio do dia a dia da Amazônia anunciam o Evangelho e dão a vida pela paz. Esta é a beleza que exatamente faz a diferença no mundo.

Eu jogo a bola para dom Mário que na sua realidade acolheu em Roraima tantos venezuelanos que vieram ao Brasil em busca de melhor qualidade de vida.

Dom Mário – O fluxo migratório da Venezuela para o Brasil nos faz viver uma experiência não muito rotineira em nossa vida. Estamos acostumados escutar que brasileiros migram. Mas não estamos acostumados a acolher migrantes em nossas localidades. Roraima tem feito essa experiência desde 2015. Claro que hoje, em 2019, todo o Brasil e muitos outros países da América Latina e Europa já receberam também imigrantes venezuelanos. Eles continuam com o direito de migrar devido à crise militar em seu país e com o direito à uma vida digna necessitando de acolhimento, de alimento, de saúde, educação, possibilidade de trabalho para sustentar a si mesmo e também aos seus familiares. A grande necessidade que encontramos hoje em Roraima, a respeito dos irmãos e irmãs vindos da Venezuela, é que o Brasil todo também possa continuar acolhendo-os para possibilitar a eles uma vida com dignidade. A migração é também uma oportunidade de viver a solidariedade, a prática da justiça e da caridade. O Sínodo nos fez perceber que a nossa Amazônia grita por evangelização sim, compromisso e empenho nosso, mas grita também por justiça no tocante aos migrantes e a tantos outros necessitados que convivem conosco, que merecem nossa atenção e o nosso arregaçar mangas para fazer o melhor no espírito de solidariedade e partilha do que somos e temos.

La no Rio Grande do Sul, no caso em Porto Alegre, a Igreja que se move com relação a isso?

Dom Jaime – A solidariedade está muito presente nas nossas comunidades. Temos recebido no território da Arquidiocese venezuelanos que o poder público envia para nossas cidades. É muito bonito ver o espírito de abertura e acolhida das comunidades. O que seria das nossas comunidades sem essa generosidade que as distingue. O quanto bem se realizar em prol dos menos favorecidos de nossa sociedade e realidade por meio da generosidade muitas vezes não vista, não publicizada e que não entra em nossas estatísticas oficiais e planilhas contábeis. É realmente um batalhão de pessoas que se colocam na perspectiva que aponta Pedro, nos Atos dos Apóstolos, quando pergunta: quem é Jesus? E a resposta ali é belíssima: “um homem que passou por nós fazendo o bem”. Todos nós compreendemos que nosso povo sem racionalizar, sem conceitualizar este aspecto, exercita isto de uma forma extraordinária.

Quais são os projetos imediatos e campos prioritários da CNBB?

Dom Walmor – A CNBB tem uma história de 67 anos. Portanto, um caminho evangelizador e missionário muito rico. O que para nós é uma grande referência. Estamos num momento novo que se deve às exigências e aos desafios postos para a sociedade não só brasileira mas mundial no âmbito das grandes mudanças culturais e também diante dos desafios que temos que dar respostas como Igreja na evangelização e nesta tarefa importante e bonita, que é nova para nós, da qual somos todos aprendizes, não apenas do ponto de vista pessoal mas também de operações mais técnicas e com força de mudança no âmbito ambiental. A Igreja nossa está num caminho muito bonito. Eu destacaria, em primeiro lugar, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil como um caminho bem traçado, com um horizonte muito rico e que tem uma força muito especial de articular o caminho evangelizador da nossa Igreja para essas novas respostas.

Também olho, de modo muito especial, para o âmbito da comunicação. Estamos aqui nos comunicando. Este é um âmbito fundamental para o caminho da Igreja para mudar mentalidades, para produzir compreensão, para ajustar entendimentos e para abrir novos contextos de relacionamento. Por isto, nós como CNBB estamos empenhados neste trabalho de uma boa comunicação, tecnicamente qualificada, tecnologicamente bem equipada e certamente com a força do Evangelho e dos conteúdos que temos.

Gostaríamos de dizer ainda a nossa preocupação com toda a questão. É muito importante. Não me penso aqui apenas à formação de padres, diáconos, seminaristas mas também de leigos numa Igreja que é chamada a ser profundamente ministerial e de serviços. Este também é um campo importante para nós.

O terceiro ponto, eu gostaria de dizer, é uma preocupação fundamental que se refere à gestão administrativa e financeira. A tudo aquilo que diz respeito ao modo como usamos o que é importante para nós. Por isso, conversando com o Santo Padre, no horizonte que foi indicado pelo Sínodo, nós vamos trabalhar para instituir um Fundo Nacional para a Amazônia em missão. Portanto, este é um campo muito fundamental com coisas muito sérias e importantes porque quando nós falamos de transparência, de credibilidade, olhando governos, o que é importante, nós olhamos também para nós porque temos que ser credíveis e exemplares. Então, neste horizonte bonito, com o trabalho das muitas comissões com frentes missionárias e com muitos projetos estamos no caminho de muito trabalho, alegria e esperança.

Neste âmbito, o relacionamento com as Igrejas irmãs, vimos no Sínodo a presença de representantes da Assembleia de Deus. Como está na Igreja no Brasil este caminho concreto do ecumenismo e do diálogo inter-religioso?

Dom Joel – Existe uma continuidade histórica nestes anos que dom Walmor lembrou de um diálogo muito rico, enquanto conferência episcopal, com nossos irmãos que creem em Cristo e também um diálogo inter-religioso com outras religiões. Assim que cheguei, um pouco mais de um mês, já começávamos a celebrar juntos os 20 anos da declaração conjunta católico-luterana sobre a Doutrina da Justificação. Teremos também a Campanha da Fraternidade Ecumênica em 2021. Portanto, em torno de Jesus Cristo e em torno da construção da justiça e da paz no Brasil temos construído uma relação muito positiva e significativa.

Como tem sido o relacionamento com o governo federal?

Dom Joel – Tem sido um relacionamento de respeito e de diálogo. Uma coisa muito clara para nós, enquanto Conferência Episcopal, não há nem uma identificação total nem há um distanciamento total. Nós temos uma responsabilidade que brota do Evangelho, que é a responsabilidade de dialogar com o governo. Fizemos as visitas protocolares que são previstas, temos sempre, que necessário, conversas, com inúmeras instâncias, não é o caso de entrar em detalhes aqui, mas eu diria que aqui está o nosso papel: partir do diálogo fundamentado, acima de tudo no Evangelho na defesa do ser humano e dos grandes valores da Doutrina Social nos indica, para conversar, dialogar, dar as razões de nossa esperança na sede da CNBB e em cada um de nós aqui uma porta aberta para o diálogo. Não há como construir alguma coisa se não for a partir da comunhão e do diálogo. Podemos até pensar de maneira diferente, mas não podemos de maneira alguma considerar alguém que pensa diferente de nós como alguém que não possa ser ouvido. Sempre bom ouvir um pensamento diferente e ver onde podemos chegar.

A Campanha da Fraternidade 2020 tem o tema: “Fraternidade e Vida: dom e compromisso” e o lema inspirado no Bom Samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

Dom Jaime – É bonito este tema da Campanha da Fraternidade 2020. E se coloca, por assim dizer, numa sequência dos temas anteriores. Há uma continuidade e também digno de destaque é a referência com a canonização com a Santa Dulce dos Pobres com o cuidado da vida e a relação toda especial com este evento que marca a história da Igreja no Brasil com a sua canonização. O cuidado e a promoção da vida sempre estiveram e estarão no centro da missão da Igreja.

Temos duas campanhas, a Campanha para a Evangelização e a Campanha da Fraternidade que falamos. Aqui entra o senhor que como bom samaritano está cuidando dos venezuelanos.

Dom Mário – Ainda na questão da migração, na pergunta anterior, na questão dos voluntários. Temos imensa gratidão a pessoas que sem nenhuma paga investem suas economias para acolher e ajudar os imigrantes. E também o testemunho de muitas congregações religiosas, dioceses e paróquias, das Cáritas brasileira e diocesanas, da CNBB que nos presenteou por meio do Fundo Nacional de Solidariedade, com um projeto que desempenhamos por um ano para assistir nossos irmãos migrantes e também possibilitar seu deslocamento para outras regiões do Brasil. Este projeto é fruto da Campanha da Fraternidade do ano do 2018, fruto do coração e da partilha. Eu creio que as campanhas têm esta finalidade: a partilha. Quem partilha participa com o coração e não apenas com o dinheiro. Às vezes eu digo, nas mobilizações para campanhas e o dízimo: é dinheiro por fora mas é graça por dentro. É uma doação que nos faz participantes das causas mais nobres da nossa Igreja e do Reino de Deus. . Quem cuida da vida, Deus cuida da felicidade dele. Queremos ser felizes, partilhemos e cuidemos da vida sem e nenhum interesse.

Dom Jaime – Solidariedade sem nenhuma paga. Talvez diante dos critérios do mundo. Estes dias num evento escutei uma expressão muito bonita e profunda: “quando nós somos capazes de cuidar da dor do outro Deus cuida da nossa”. Então certamente, essa abertura e disponibilidade de tantos de generosamente se pôr a serviço, sem visibilidade e publicidade, mas certamente sem criar o conceito se deixam guiar por esta ideia tão bonita.

Dom Joel – Eu tenho dito o seguinte: quem tem fé ama, quem ama cuida, quem cuida partilha e abre espaço para Deus. Esta é a lógica que está regendo a campanha da Fraternidade e a Campanha da Evangelização. Não vou entrar em detalhe do mérito porque são muitos. Mas aquela reunião analisando e julgando os pedidos de apoio do projeto do Fundo Nacional de Solidariedade, composto com a coleta da CF, me impressiona como que com R$ 10.000, que prá muita gente é pouco, as pessoas são capazes de, somada a um voluntariado que não se consegue quantificar em valores monetários, como se consegue fazer o bem. Silenciosamente temos este jeito de “a mão direita não saber o que a esquerda faz”, mas eu fico impressionado. Se alguém vai visitar a sede da CNBB eu levo a dois lugares: à capela e à sala do FNS para que se possa ver o quanto a generosidade do povo brasileiro é capaz de fazer, seja doando durante as campanhas seja por meio desta administração do Fundo devolvendo às comunidades mais necessitadas. O quanto é feito com a média entre 10 e 15 mil reais.

Dom Walmor – No horizonte desta beleza de reflexão eu vou aproveitar agora para ser bem pragmático. Existe o voluntariado mas temos ainda um longo caminho para fazer. A nossa cultura brasileira é generosa, mas precisamos ser muito mais generosos e podemos e teremos condições de fazer mais. Em relação a Campanha da Fraternidade e a Campanha para a Evangelização é preciso que os cristãos contribuam materialmente porque temos muitas demandas de lugares, de projetos importantes de missão que não estão sendo feitos exatamente por falta de recursos, por exemplo na Amazônia, um grande desafio. Portanto, todos são convidados a refletir, tocar o coração e como se diz colocar a mão no bolso porque é preciso ajudar concretamente muita gente e muitos projetos importantes. O espírito é este que nos toca, nos converte, nos faz viver diferentes. Mas é preciso que nos exercitemos mais concretamente e generosamente a nossa parte.

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