No dia 7 de fevereiro comemorou-se o centenário de nascimento de Dom Helder Câmara. A grata efeméride foi lembrada pela Igreja em todo o Brasil, com muito respeito e admiração por esse prelado que marcou a vida de milhares de pessoas, leigos e religiosos, e foi um marco na História da Igreja no Brasil. Cognominado o Profeta da Paz, desde que foi indicado para o Prêmio Nobel, na década de 70, sua presença foi um sinal da ação de Deus em nosso meio.
A vida desse ilustre pastor, que abnegou das honrarias que lhe eram devidas pela sua dignidade episcopal, sem se descuidar do principal, que é o múnus conferido pelo Sacramento, sua vida é um constante hino de louvor. Sim, um hino em que, em meio às provações, às dificuldades, as incertezas, está sempre a louvar o Senhor: “Bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1,21).
Sou de uma geração em que, diferente dos jovens de hoje, tivemos muitas referências. Era uma época em que sentíamos inflamados pelos nossos ideais. A Igreja no Brasil vivia uma renovação de aspirações. O momento que o mundo passava, de claras e às vezes até alarmantes mudanças, exigia uma postura mais atenta e enérgica, principalmente da Igreja. E Dom Helder foi uma das figuras que, embora de pequena estatura, se sobrelevava com sua palavra carismática, seus gestos largos, seu destemor sustentado pela confiança em Deus, fazendo-se um lídimo pescador lançando redes em águas mais profundas, certo da determinação evangélica “duc in altum” (Lc 5,4) – “Faze-te ao largo”.
Durante toda sua vida, deu o exemplo de uma fidelidade a Cristo que se assemelha à dos grandes santos, inclusive os mártires, destemidos pelo Evangelho. Só quem se entrega inteiramente ao Mestre, assim como o fizeram os Apóstolos, consegue naturalmente experimentar essa união e fazê-la frutificar. Explica-nos, a propósito, o saudoso João Paulo II que “quem abre o seu coração a Cristo não só compreende o mistério da sua própria existência, mas também o da sua própria vocação e amadurece excelentes frutos de graça” (Dia Mundial de Oração pelas Vocações 2005).
Nesta ocasião, temos lido pela imprensa diversas declarações e testemunhos sobre a figura ímpar de Dom Helder, durante as celebrações de seu centenário. Mas não bastam apenas essas homenagens. É preciso, acima de tudo, fazer com que o seu pensamento seja reavivado nos projetos, nas campanhas, nas escolas, de forma a incutir na sociedade, desde a adolescência, uma consciência cristã de fraternidade, de vida em comum, de solidariedade, de amor ao próximo. Desta forma, estaremos concretizando a profecia de Dom Helder: “Um sonho sonhado sozinho é apenas um sonho. Um sonho sonhado juntos é o princípio de uma nova realidade”.