A primeira semana do Sínodo dos Bispos, inaugurado pelo papa Bento XVI no domingo, 5, foi marcada pelo pronunciamento dos padres sinodais que abordaram vários aspectos da Palavra de Deus, tema do Sínodo. Cada um dos padres sinodais tem cinco minutos para sua apresentação. Do Brasil, já usaram a palavra o bispo de Petrópolis (RJ), dom Filippo Santoro, na terça-feira, dia 7; o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, na quinta-feira, 9, e o bispo de Goiás (GO), dom Eugène Rixen.
Segundo o secretário geral do Sínodo, dom Nikolas Eterovi, são 253 os padres sinodais (90 da Europa, 62 da América, 51da África, 41 da Ásia, e 9 da Oceania). “Os padres sinodais participam da Assembléia Geral Ordinária de diferentes formas. 173 foram eleitos, 38 participam ex officio, 32 foram nomeados pelo Santo Padre e 10 foram eleitos ela União de Superiores Gerais”, explica dom Eterovi. Entre os participantes estão: 8 patriarcas, 52 cardeais, 2 arcebispos maiores, 79 arcebispos e 130 bispos. Ainda de acordo com o secretário, dentre os padres sinodais, 10 são chefes das Igrejas Orientais sui júris; 30 são presidentes de Conferências Episcopais, 24 são chefes de Dicastérios da Cúria Romana, 185 são bispos diocesanos e 17 auxiliares.
A seguir um resumo da primeira semana de trabalho do sínodo
Domingo – Dia 5
O papa Bento XVI preside a missa de abertura do XII Sínodo dos Bispos, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. Em sua homilia, o papa alertou para a tendência atual de abandonar Deus, inspirando-se no texto do evangelho proclamado na celebração. “Ao afastar-se de Deus e sem esperar Dele a salvação, o homem crê que tem a capacidade de fazer o que lhe agrada e que se pode colocar como único patrão de si mesmo e de seu modo de atuar. Mas quando o homem elimina Deus de seu próprio horizonte, declara Deus ‘morto’, é verdadeiramente feliz?”, disse o papa. “Quando os homens se proclamam proprietários absolutos de si mesmos e únicos proprietários do criado, podem, verdadeiramente, construir uma sociedade onde reinem a liberdade, a justiça e a paz?”, indagou.
Segunda-feira – Dia 6
Ao longo da semana, os trabalhos do Sínodo são realizados pela manhã e pela tarde. Na segunda-feira, 6, pela manhã, o papa Bento XVI abriu os trabalhos após o canto de invocação do Espírito Santo. “Uma vez mais a Palavra de Deus e fundamento de tudo, é a verdadeira realidade. E, para ser realistas, temos que contar precisamente com esta realidade. Devemos mudar nossa idéia de que a matéria, as coisas sólidas, que se tocam, são a realidade mais sólida, mais segura”, exortou o Pontífice.
O papa lembrou a crise mundial dos bancos. “Vemos agora a quebra dos grandes bancos. Este dinheiro desaparece, não é nada”, disse. “Quem constrói sua vida sobre estas realidades, sobre a matéria, sobre o êxito, sobre tudo o que é aparência, constrói sobre a areia. Somente a Palavra de Deus é o fundamento de toda a realidade, é estável como o céu e, mais que o céu, é a realidade. Por isso, devemos mudar nosso conceito de realismo”, completou. Para Bento XVI, “realista é quem reconhece na Palavra de Deus, nesta realidade aparentemente mais fraca, o fundamento de tudo”.
O presidente do Sínodo, cardeal Levada saudou o papa e os demais participantes do Sínodo. “A vida e a missão da Igreja se fundam na Palavra de Deus, que a alimenta e a expressa, já que é a alma da teologia e, ao mesmo tempo, inspiradora de toda a existência cristã”, observou o cardeal. Ele lembrou que o Magistério da Igreja é chamado a ser “o autêntico intérprete da Palavra de Deus a serviço de todo o povo cristão e para a salvação do mundo”.
Outro que usou a palavra na primeira reunião de trabalho do Sínodo, foi o secretário geral, dom Nikola Eterovi. Ele apresentou o número dos participantes e explicou o processo de preparação da Assembléia dos Bispos. Segundo afirmou, os padres sinodais somam 253 vindos dos cinco continentes.
Os trabalhos da manhã da segunda-feira se encerraram com o pronunciamento do relator geral do Sínodo, o cardeal canadense, dom Marc Quellet, que definiu como pastoral e missionário o objetivo do Sínodo. “Consiste na escuta conjunta da Palavra de Deus com o fim de distinguir como o Espírito e a Igreja aspiram a dar uma resposta ao dom do Verbo encarnado por amor das Sagradas Escrituras e o anúncio do Reino de Deus à humanidade inteira”, explicou.
Segundo o relator, o Sínodo proporá orientações pastorais para “reforçar a prática do reencontro com a Palavra de Deus como fonte de vida”. “Reconhecemos que a vida de fé e o ímpeto missionário dos cristãos têm sido profundamente afetados por diferentes fenômenos sócio-culturais como a secularização, o pluralismo religioso, a globalização e a expansão dos meios de comunicação, fenômenos de inumeráveis conseqüências, como as diferenças cada vez maiores entre ricos e pobres, o aumento de seitas esotéricas, as ameaças à paz, sem esquecer os ataques atuais contra a vida e a família”, advertiu.
Relatório dos Continentes
Na tarde de segunda-feira foram destaques a participação do reitor emérito do Instituto Bíblico de Roma, cardeal Albert Vanhoye e do convidado especial Shear-Yashurv, Gran Rabino de Haifa (Israel) e os relatórios dos continentes.
Pelo continente da América, falou o arcebispo de Tegucigalpa (Honduras), cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga. Ele fez um relato histórico do uso da Bíblica no continente. “O cristianismo chegou à América no tempo da Reforma, quando a Bíblia perdeu seu lugar privilegiado na Igreja Católica; quando a maior parte do povo de Deus, especialmente o laicato, foi privado de um acesso direto à Sagrada Escritura”, recordou.
Para o cardeal, as inúmeras línguas indígenas na América dificultam a tradução da Bíblia. “As traduções latino-americanas para as línguas indígenas se tornavam particularmente difíceis. Deu-se uma substituição do texto bíblico pelo catecismo e pela doutrina, sem sabor bíblico”, afirmou.
Segundo dom Maradiaga, atualmente, circulam na América 26 versões ou traduções da Bíblia em língua espanhola, aprovadas pela Igreja Católica. Há, ainda, 12 traduções em português; 2 em inglês da Bíblia completa (5 traduções do Novo Testamento); 8 em francês. “Diferentes instituições têm traduzido o Novo Testamento para 216 idiomas nativos da América, o que constitui um grande acervo cultural. Muitas destas traduções também são usadas pela Igreja Católica”, destacou. O cardeal disse que, desde 1972, já foram distribuídos 62 milhões da Bíblia Latino-americana. Já a Bíblia de Jerusalém, desde 1970, são 5 milhões. No Brasil, o cardeal disse que já foram distribuídas mais de 9 milhões do livro sagrado.
Terça-feira –Dia 7
Os trabalhos da terça-feira, 7, tiveram como destaques os pronunciamentos dos padres sinodais. Cada um deles tem cinco minutos para suas considerações. Pela manhã, primeiramente, procedeu-se à primeira votação para a escolha dos integrantes da comissão que deverá redigir a mensagem do Sínodo. A votação é eletrônica e se dará em três turnos. A segunda votação ocorreu na abertura dos trabalhos à tarde.
O bispo de Petrópolis (RJ), dom Filippo Santoro, foi o primeiro dos brasileiros a falar aos padres sinodais, na sessão da tarde. Ele chamou a atenção para os desafios em relação à Palavra de Deus.
“Existe um desafio que nosso anúncio deve superar. O desafio é, antes de tudo, antropológico”, disse dom Filippo. Outro desafio enumerado pelo bispo foi o método. “A Palavra feita carne indica não somente um conteúdo salvífico, mas também um método mediante o qual os apóstolos começam a entender-se a si mesmos”, observou. “O método implicado pela encarnação é o de seguir o acontecimento no qual o milagre se faz presente”.
Para dom Filippo, na atual discussão sobre os ministérios extraordinários, “nos permitimos observar que estes, por si mesmos, não suscitam o encontro, mas podem terminar aumentando a burocratização da Igreja”. “O que suscita o encontro é somente a ação do Espírito”, afirmou.
Quarta-feira – Dia 8
Pela primeira vez, os padres sinodais se reuniram em grupo, na manhã de quarta-feira, para a eleição dos Moderadores e dos Relatores do Sínodo. À tarde, foram divulgados os nomes dos eleitos entre os quais está um brasileiro. O arcebispo de Aparecida (SP), dom Raymundo Damasceno Assis foi eleito como um dos Moderadores. Os trabalhos da tarde continuaram com os pronunciamentos dos padres sinodais.
Quinta-feira – Dia 9
Pela manhã, houve a última votação para a escolha da comissão da mensagem do Sínodo. Em seguida, continuaram as apresentações dos padres sinodais. Às 11:30h, horário local, o papa Bento XVI presidiu a missa lembrando os 50 anos de morte do papa Pio XII. Em sua homilia, Bento XVI lembrou os tempos difíceis em que PIO XII atuou.
“A guerra pôs em evidência o amor que [Pio XII] nutria por sua ‘Roma dileta’, amor testemunhado pela intensa obra de caridade que promoveu em defesa dos perseguidos, sem distinção alguma de religião, etnia, nacionalidade, ideologia política”, afirmou o papa.
“Lamentavelmente, o debate histórico, nem sempre sereno, sobre a figura do Servo de Deus Pio XII, tem deixado de lado alguns aspectos de seu poliédrico pontificado. Foram muitos os discursos, as alocuções e as mensagens que manteve com cientistas, médicos e expoentes dos mais variados grupos profissionais, alguns dos quais continuam sendo ainda hoje de uma extraordinária atualidade e um ponto seguro de referência”, asseverou Bento XVI.
À tarde, continuaram os pronunciamentos dos padres sinodais, entre os quais o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, que destacou a experiência, no Brasil, da Celebração da Palavra feita pelas comunidades que não têm a celebração da eucaristia aos domingos. Antes,
foi divulgada a Comissão eleita para redigir a Mensagem do Sínodo.
Foram eleitos: Presidente – dom Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura; Vicepresidente – dom Santiago Jaime Silva Retamales, bispo auxiliar de Valparaíso (Chile); Membros – cardeal Godfried Danneels, arcebispo de Malinas-Bruxelas; cardeal Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa (Honduras); cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos; dom Anthony Sablan Apuron, arcebispo de Agaña (Oceania); dom John Olorunfemi Onaiyekan, arcebispo de Abuja (Nigéria); dom Thomas Menamparampil, arcebispo de Guwahati (Índia); dom Zbigniew Kiernikowski, bispo de Siedlce (Polônia); dom Basil Myron Schott, arcebispo de Pittsburg dos Bizantinos (Estados Unidos); dom Louis Pelâtre, administrador apostólico do Exarcado Apostólico de Estambul (Turquia); padre Carlos Alfonso Azpiroz Costa, mestre geral dos frades pregadores.
Sexta-feira – Dia 10
A programação de sexta-feira, 10, constou de pronunciamentos dos padres sinodais. Neste dia, mais um brasileiro fez o uso da palavra. O presidente da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, dom Eugène Rixen, ressaltou como a Bíblia tem sido cada vez mais usada na catequese.
Outro brasileiro que também fez seu pronunciamento foi o arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno. Ele frisou a necessidade da formação dos futuros padres dar ênfase na formação bíblica, incluindo a experiência da lectio divina. “O contexto atual da Igreja na América Latina e Caribe é necessário e urgente que o projeto formativo e o currículo dos seminários, além de destacar a formação acadêmica na Sagrada Escritura, coloque um maior cuidado na capacitação dos formandos numa espiritualidade bíblica sólida, fazendo uso criativo de todos os meios ao alcance, dando uma especial relevância à lectio divina”, disse.
Sábado – Dia 11
Os trabalhos na manhã de hoje tiveram início às 9h, horário local, e foram presididos pelo cardeal de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, um dos presidentes do Sínodo. Mais de 20 padres sinodais fizeram suas intervenções na manhã desta sábado.
Assessoria de Imprensa da CNBB (Com informações da Sala de Imprensa da Santa Sé)