Repam é apresentada na Santa Sé

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) foi apresentada na manhã desta segunda-feira,  2, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Na ocasião, a coordenação geral da entidade divulgou a proposta de trabalho e a missão que irão desempenhar. O arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Comissão para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Cláudio Hummes, não pôde participar do evento, mas enviou uma mensagem gravada. Para ele, a Repam ”representa um novo incentivo e um subterfúgio para a obra da Igreja na Amazônia, fortemente desejada pelo santo padre”.

 Dom Cláudio Hummes destacou o desejo de que a presença eclesial no ambiente amazônico seja de uma Igreja missionária, misericordiosa, profética, de cuidado aos povos da região, especialmente os mais pobres, os excluídos, os descartados, os esquecidos e os feridos. “Uma Igreja com ‘rosto amazônico’ e um ‘clero autóctone’, como proposto pelo papa em um discurso aos bispos do Brasil”, disse, referindo-se à formação de agentes de pastoral e um clero que tenha raízes amazônicas.

Presente na apresentação, o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz do Vaticano, cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, descreveu três características principais da Repam: a transnacionalidade, a eclesialidade e o compromisso pela defesa da vida.

Quanto à transnacionalidade, o cardeal destacou a necessidade de uma sinergia das “forças vivas de todas as nações” envolvidas na rede, uma vez que a região Pan-Amazônica compreende um território de 6 milhões de quilômetros quadrados, que se estende por Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Venezuela, Equador, Colômbia, Bolívia, Peru e Brasil.

Ao lado da primeira característica o cardeal Turkson falou sobre a proposta da Repam de “instaurar uma colaboração harmoniosa” entre os diversos componentes da Igreja: as congregações religiosas, as Cáritas, as dioceses e os leigos, por exemplo.

“A Repam nasce para responder a desafios importantes. Está em jogo a defesa da vida de numerosas comunidades que, somadas, representam mais de 30 milhões de pessoas”, disse o cardeal Peter Turkson a respeito da terceira característica da rede. Para ele, a poluição, as mudanças climáticas e a ausência da tutela de seus direitos fundamentais representam as ameaças às suas vidas.

Sobre a realização da apresentação em Roma, ele afirmou que a forma de estruturação da Repam e sua atuação podem servir de modelo a outras igrejas locais de outros continentes que enfrentam desafios parecidos.

“Além disso, a Repam foi concebida como uma ferramenta que pode ser adotada em vários campos e chaves: a justiça, a legalidade, a promoção e  proteção dos direitos humanos, a cooperação entre a Igreja e as instituições públicas em vários níveis, a prevenção e gestão de conflitos, estudo e divulgação de informações, desenvolvimento econômico inclusivo, a utilização responsável e sustentável dos recursos naturais, respeitando a criação, a proteção das culturas e modos de vida dos diferentes povos”, elencou.

O arcebispo de Huancayo, no Peru, e presidente do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), dom Pedro Barreto Jimeno, ressaltou na manhã de hoje que a região amazônica é “’um território devastado e ameaçado pelas concessões dos Estados às corporações transnacionais. Os grandes projetos extrativistas, as monoculturas e as mudanças climáticas põem em grave risco suas terras e seu ambiente natural”.

Para o arcebispo, a realidade contribui para a destruição da cultura, da autodeterminação dos povos e “afeta a Cristo encarnado nas pessoas que ali habitam”, como os povos originais, ribeirinhos, camponeses, afrodescendentes e populações urbanas.

Neste contexto, a Repam se mostra, de acordo com dom Barreto, “como a resposta de Deus a esta necessidade sentida e urgente de cuidar da vida das pessoas para que vivam em harmonia com a natureza a partir da vasta e variada presença de membros e equipamentos da Igreja na Pan-Amazônia”.

O secretário executivo da Repam, Mauricio López, falou sobre os objetivos da Rede. “A ideia é a de promover um trabalho conjunto. Não podemos nos dar ao luxo de trabalhar de forma fragmentária. Se este desafio consegue chegar ao fundo de nosso coração, a resposta deve ser conjunta na Igreja e também com os outros. Portanto, é necessário antes de tudo um consenso eclesial, que é o que a Repam quer animar. Focamos a promoção integral da pessoa: os nossos projetos tratam temáticas primárias que dizem respeito à ecologia, que às vezes é tratada como se fosse uma moda ou algo passageiro. Devemos pensar integralmente, porque o desafio é comum”, explicou.

Dados

Alguns dados foram mostrados na manhã de hoje. Segundo as informações, na região vivem cerca de 2,7 milhões de pessoas que correspondem a 390 povos indígenas e 137 povos isolados e que possuem os valores de suas culturas ancestrais. São 240 línguas pertencentes a 49 famílias linguísticas.

Criação

A Repam foi criada em setembro de 2014, durante encontro ocorrido na sede das Pontifícias Obras Missionárias, em Brasília (DF). Lideranças de 11 países, entre bispos, sacerdotes, missionários e missionárias de congregações que trabalham na Floresta Amazônica, representantes de algumas Cáritas nacionais e leigos pertencentes a várias estruturas da Igreja, estiveram envolvidos na reflexão sobre o fortalecimento da presença missionária na região.

 

 

 

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