Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros amigos, há pouco cantávamos o aleluia da Vigília Pascal. E mesmo no período quaresmal esta alegria não se afastou dos nossos corações, mas se consolidava pela oração, pelo jejum e pela perseverança nas boas-obras. Por isso, o cântico novo que entoamos foi um transbordamento de alegria.
Passadas estas celebrações, precisamos assumir a alegria da ressurreição! Não como algo já conquistado, mas como uma meta, tanto mais elevada, quanto mais limpo se tornou nosso olhar de fé, esperança e caridade, lavados pelo sangue do Cordeiro. Pensemos nisto!
Uma fé ressuscitada é concreta. Não é uma teoria que nunca se encarna porque se sente mais confortável na palavra escrita dos livros. São Tiago explica isso em sua carta: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não tem as obras? (…) A fé: se não se traduz em ações, por si só está morta” (Tg 2, 14.17). Assim, viver na fé é assumir todos os trabalhos e cansaços pela verdade. Pela certeza da fé, os fiéis abandonam o pecado, mudam de vida e fazem da sua existência uma luz para os seus irmãos.
Uma esperança ressuscitada é alegre, pois luta por superar as expectativas provisórias deste mundo para outra mais estável e certa. Assim explica o Papa Emérito Bento XVI: “precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar todo o resto, aquelas não bastam. (…) Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim” (Spe Salvi, 31). Esta é a esperança que supera o cansaço e as incompreensões para encontrar no meio da tribulação uma visita suave de Jesus Cristo, que nos anima a não desistir do bem.
Uma caridade ressuscitada é verdadeira. Ensina o Papa Francisco: “Nunca a misericórdia da Boa-Nova poderá ser uma falsa compaixão, que deixa o pecador na sua miséria, não lhe dando a mão para se levantar nem o acompanhando para dar um passo mais no seu compromisso” (13/04/2017). Assim, a caridade cristã é maior que todo romantismo utópico e mais concreta do que o mero altruísmo humano. Ela se envolve nos problemas do irmão, não para torná-lo dependente de si, mas para dar-lhe condições de caminhar com Deus, em justiça e dignidade.
Sei que todos queremos um mundo ressuscitado. Mas, para isto, devem ser transformados primeiramente os nossos corações por uma fé concreta, uma esperança alegre e uma caridade verdadeira. Deus abençoe a todos!