Sant’Ana do Seridó e a família

“Todo ano tem uma grande festa na região. É a Festa de Sant’Ana, Padroeira do Sertão”. Este grandioso evento é forjado na alma do Seridoense. Um evento de fé, que expressa a crença cristã na importância e no valor da família. Deus escolheu para encarnar-se na nossa história uma família. Esta escolha não foi por acaso. Deus quis destacar a família como o lugar essencial para formar as pessoas no amor e na fé. Seu Filho encontrou a mais terna acolhida no ventre de uma Virgem e no aconchego de uma família de Nazaré.

O povo apreendeu no mistério da vida o sentido modelar de mãe e mestra, que Sant’Ana viveu com todas as letras. Foi no santuário do amor, a família, que Ana educou a figura humana mais bela e mais dócil ao Criador e, por isto, a mais pura, mais santa, mais dominada pela graça, que é a Virgem Santíssima, a escolhida de Deus.

A própria Bíblia Sagrada afirma que “pelos frutos se conhecereis a árvore”. O fruto de Sant’Ana e São Joaquim é Santa Maria. Os pais são santos e a filha também. Nesta família, a santidade é comum a todos. Não podia ser diferente, a família que Deus escolheu para seu filho nascer é toda ela ungida pelo Espírito santificador. Gerar, com as graças de Deus, alguém com as características de Maria: amável, bela, doce, terna, solidária, humilde, servidora da humanidade, amante do bem e da verdade, obediente a Deus, fiel até o fim, paciente a toda prova, é uma dádiva divina, uma inigualável grandeza de espírito, porque é participação no mistério da obra criadora de Deus.

Não nos é permitido contemplar Sant’Ana sem enxergar a sua filha Maria Santíssima, o fruto do seu amor e de sua fé. Por isso, na imagem de Sant’Ana a menina está ao lado. Ana dedicou todo o seu tempo a educar Maria na fé e no santo temor de Deus. No coração da filha Ana plantou o respeito ao Senhor Deus a quem Maria se consagrou. Mostrou-lhe que o essencial nesta vida é viver para Deus. E viver para Deus é fazer aquilo que Deus mesmo colocou no coração de cada um. Realizar a “vocação”, o chamado misterioso que conduz cada pessoa a fazer o melhor de si para contribuir na edificação da obra divina. Ana fez o melhor de si, moldou na fé e no amor o espírito da Virgem Santíssima, que se fez toda obediente a Deus.

A Festa de Sant’Ana está associada ao mistério da Encarnação do Verbo de Deus. Ao venerarmos Senhora Sant’Ana estamos contemplando o desígnio de Deus que escolheu sua filha para ser a mãe do Cristo Salvador. De Ana nasceu Maria, de Maria o Salvador.

A estas motivações bíblicas acrescentam-se aquelas da história da devoção do povo seridoense a Sant’Ana. São 260 anos de veneração, festejos, preces tecidas de fé e graças alcançadas. Cada seridoense tem gravado na alma a experiência da presença de Sant’Ana, o seu testemunho de amor à família, sua confiança a Deus e sua intercessão constante pelos seus netos, os irmãos adotivos de Jesus. A imagem majestosa de Sant’Ana fala da mulher que se consagra a educar a filha no temor de Deus. Ela é a primeira catequista da filha. Transmite a fé. Esta missão de mãe educadora na fé exige tempo. É uma consagração. Ana foi exímia nesta missão sagrada. Quantas mães hoje se dedicam a transmitir aos filhos a fé. Quantas mães rezam todos os dias com os filhos, ensinando-os a chamar Deus de Pai e a confiar na sua infinita misericórdia? Toda devota de Sant’Ana deve se esforçar para fazer o que Ana fez. É verdade que hoje os tempos são outros e muitas mães trabalham fora de casa e não têm tanto tempo para dedicar-se aos filhos. As mães deviam sempre fazer a opção de ficar com os filhos. Sabemos que o dinheiro que a mulher ganha é importante para compor o salário da família. Mas não se compara com o benefício sagrado de educar o filho na fé e no amor. Hoje, muitos filhos não conhecem os pais. Estes não têm tempo para os filhos, que se tornam seus grandes desconhecidos. São filhos órfãos de pais vivos, devotados ao dinheiro, à profissão, aos amigos, menos a quem deveria se dedicar. As conseqüências todos conhecem: filhos educados por terceiros e fragilizados nas suas estruturas humanas, porque lhes faltaram na infância as referências das figuras do pai e da mãe. Que Sant’Ana nos ajude a priorizar a Família e que as mães encontrem o melhor jeito de educar os filhos, estando com eles.

Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz

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