Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
A Igreja, e eu como vosso Bispo, nos unimos aos trabalhadores e às trabalhadoras, da cidade e do campo, por ocasião deste 1º de maio, manifestando-lhes estima, solidariedade e gratidão.
Esta santa missa tem como centro Jesus Cristo:“o filho do carpinteiro”(Mt 13,55), um trabalhador como tantos de sua época, que lutavam para ganhar o pão em uma sociedade agrária e exploradora. Jesus é aquele que Deus mandou para salvar o mundo: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho para salvá-lo (Jo 3,16). Ele não veio para condenar, mas para ensinar o caminho da vida verdadeira, a vida com Deus! Quem nele crer não morrerá, não será condenado. Crer no que Jesus ensinou é andar na luz. Vida na luz é vida no amor solidário, na justiça que não exclui, no trabalho que sustenta a vida e não tira a vida e antes dela tira a dignidade.
O trabalho digno, para além de cumprir a necessária tarefa de prover as necessidades materiais, “constitui uma dimensão fundamental da existência do ser humano sobre a terra” e de sua participação na obra do Criador (cf. João Paulo II in Laborem Exercens, 4). Como vosso bispo afirmo que este é o desejo de Deus.
A partir da missão de Jesus o Filho de Deus que se encarnou, tornou-se homem e trabalhou em Nazaré, o horizonte do mundo do trabalho somente tem uma inspiração: a solidariedade. Porque Deus se tornou solidário conosco, devemos ser solidários entre nós. O mundo do trabalho deve ser regido pela solidariedade e não pelo lucro a qualquer custo!
Quem pratica o mal odeia a luz e ama a escuridão diz o Evangelho (cf. Jo 3,19). Todo sistema de exploração e ganância precisa de escuridão para agir. Escuridão que desvaloriza a vida e a dignidade humana. É preciso acender a luz da fé, da fraternidade, da observância dos direitos garantidos pela Constituição.
É urgente assegurar o direito ao trabalho e reafirmar a dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras, de modo a garantir seu justo sustento e de suas famílias, combatendo o desemprego, o trabalho escravo, a precarização das relações de trabalho e a perda de direitos trabalhistas, dentre outros problemas que têm causado tanto sofrimento ao povo brasileiro.
Para tanto, é indispensável a atuação dos Poderes Públicos, bem como a participação da sociedade civil: empresários, sindicatos, igrejas, trabalhadores e trabalhadoras. Neste esforço, como ensina o Papa Francisco, “é preciso reconhecer um grande mérito àqueles empresários que, apesar de tudo, não deixaram de se comprometer, de investir e arriscar para garantir o emprego” (Papa Francisco, 22 de setembro de 2013).
Ao mesmo tempo, devemos reconhecer o valor dos sindicatos, expressão do perfil profético da sociedade (cf. Papa Francisco, 28 de junho de 2017). A participação dos trabalhadores e dos sindicatos, na discussão da Previdência social, é fundamental para a preservação da dignidade dos trabalhadores e de sua justa e digna aposentadoria, especialmente dos que se encontram mais fragilizados na sociedade.
Com toda a Igreja reafirmamos o princípio orientador da Doutrina Social da Igreja sobre a primazia do trabalho e do bem comum sobre o lucro e o capital. Nos nossos dias, difunde-se o paradigma da utilidade econômica como princípio das relações sociais e, por isso, de trabalho, almejando a maior quantidade possível de lucro, imediatamente e a todo o custo, em detrimento da dignidade e dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
A CNBB em sua Mensagem para o Dia do Trabalho deste ano recorda: “Manifestamos, de modo especial, a nossa preocupação com o grave problema do desemprego. A flexibilização de direitos dos trabalhadores, institucionalizada pela lei 13.467 de 2017, como solução para superar a crise, mostrou-se ineficiente. Além de suscitar questionamentos éticos, o desemprego aumentou e já são mais de treze milhões de desempregados. O Estado não pode abrir mão do seu papel de mediador das relações trabalhistas, numa sociedade democrática. Reconhecer a necessidade de avaliar o sistema não permite desistir da lógica da solidariedade e da proteção social através da capitalização, como propõe a PEC 06/2019. Também não é ético desconstitucionalizar regras da Previdência, inseridas na Constituição de 1988”
Meus irmãos e irmãs. A situação que vivemos é fruto de governos passados que não pensaram no povo mas no partido, não pensaram um projeto de pais democrático e de bem estar para todos. A corrupção serviu ao projeto dos grupos econômicos de chegar onde chegamos. É a reação à irresponsabilidade de governar para o grupos e não para a Nação. Nosso olhar volta-se também para os jovens. O desemprego juvenil é a “primeira e mais grave” forma de exclusão e de marginalização dos jovens (cf. Christus Vivit, 270). A impossibilidade de trabalho gera a perda do sentido da vida, leva à pobreza e à marginalização.
A primeira leitura nos mostra a força da ressurreição de Cristo capaz de libertar da prisão os apóstolos. Desde o início do Cristianismo a Igreja foi perseguida por anunciar o Evangelho da Vida. E hoje não é diferente. A Igreja não segue ideologias nem tem partido político, mas anuncia o Evangelho da Paz. Paz que é fruto da justiça.
Irmãos e irmãs, Incentivamos os trabalhadores e trabalhadoras e as suas organizações a colaborarem ativamente na construção de uma economia justa e de uma sociedade solidária e democrática.
Trabalhadores e trabalhadoras, sobre cada um de vocês e de suas famílias, suplicamos as bênçãos de Deus, pela intercessão de São José Operário e Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
Coragem, não desanimem. Saibam construir a união porque sem ela não haverá futuro para o mundo do trabalho. Amém!