Dom Leomar Brustolin
Bispo auxiliar de Porto Alegre
Insiste-se cada vez mais que precisamos fazer um autêntico encontro com Jesus Cristo, para que a nossa vida se transforme em discipulado do Mestre. Apesar da premência, há quem se interrogue: “Como fazer esse encontro com Jesus?” Seguramente, não há uma única regra ou fórmula que estabeleça essa relação entre dois sujeitos: o humano e o divino. Há, contudo, estradas já percorridas que podem inspirar os peregrinos deste tempo. Um caminho instigante é o que Santa Teresa descobriu: a via da oração. Para a Santa, rezar é estabelecer uma relação pessoal de escuta. É um trato de amizade com Deus.
Pela oração, Santa Teresa teve acesso aos segredos revelados somente aos corações que amam o inefável. O Beato Papa Paulo VI, ao declará-la “Doutora da Igreja” em 1970, afirmou: “É desses segredos que nos fala a doutrina de Teresa: são os segredos da oração. Sua doutrina está aqui. Ela teve o privilégio e o mérito de conhecer esses segredos pela via da experiência, vivida na santidade de uma vida consagrada à contemplação e simultaneamente empenhada na ação.” Pode-se dizer que o carisma de Santa Teresa é a oração. A sua prece, contudo, não se articula de forma mecânica, repetitiva e alheia à conversão. Ao contrário, é uma oração de escuta atenta à vontade salvífica de Deus, voltada intensamente à Palavra e destinada a responder prontamente ao Senhor.
No confronto com Santa Teresa é preciso se questionar sobre a qualidade de nossa oração. O quanto ela é um trato de amizade e de amor com Deus para escutar sua vontade? Estamos, muitas vezes, tão absortos em nossos problemas e desafios, que nossa oração se reduz a lamentações e pedidos de ajuda. É claro que isso também é oração. O saltério está repleto de salmos de súplica e lamento que remetem a uma renovada confiança de quem só pode esperar em Deus. Precisamos, entretanto, mergulhar em águas mais profundas, para que, vivendo entre as realidades que passam, escolher aquelas que permanecem.
Santa Teresa deixou-se seduzir pelo Senhor, e seus escritos são uma autobiografia da oração vivida: “Não direi nada que não seja fruto da experiência, ou por ter provado em mim ou por ter observado em outras almas”. Santa Teresa entende que só pode ensinar o que viveu, sentiu e conheceu: o mistério do encontro com o Criador. Ela tem uma forma de conhecer Deus que ama e pede amor como resposta. Ela conseguiu essa sabedoria da vida e revela que não há outro caminho para rezar que não seja viver nesse amor misericordioso. A oração, assim, se traduz como encontro: o humano com Deus e Deus com o humano. Afinal, Deus concede a muitos de chegarem até Ele: “Eu me deixei encontrar também por aqueles que não me procuravam.” (Rm 10,20). Deus se deixa encontrar, e o humano tem o desejo desse encontro. É preciso, portanto, deixar-se descobrir por Deus. E, se alguém ainda não começou a percorrer essa via, vale o conselho de Santa Teresa: “Quanto àqueles que ainda não começaram, eu insisto, por amor do Senhor, de não se privarem de tão grande bem.” (Livro da vida, 8, 5).