O tempo da Quaresma nos prepara à celebração da maior solenidade religiosa da Igreja – a Páscoa de Jesus. É-nos propício passar pela experiência do Cristo da doação de vida. Ele nos convida a tomar um caminho diferente do comum. Só ganha a vida quem der a própria pelo semelhante. Para convencermos nosso eu sobre isso, precisamos de treinamento ou ascese, com a exercitação da penitência, da oração, do jejum, da caridade, do compromisso com o bem comum. Nesta direção, usamos textos próprios ou cartilhas que nos ajudam a orar em comum com as famílias vizinhas e as comunidades, meditando na Palavra de Deus, examinando nossas atitudes, comparando-as com o projeto dele e tomando melhores decisões para colocarmos em prática nossa fé e sermos coerentes com o seguimento a Cristo.

Durante o tempo quaresmal, realizamos a Campanha da Fraternidade para canalizar nossa prática da fé com os frutos da vida. O tema deste ano “Fraternidade e Segurança Pública” nos estimula a vivermos o compromisso de promoção e defesa da vida de qualidade para todos. Cada um é responsável pelo bem do semelhante. Tirar as causas da violência é preciso. Todos queremos paz. Ela só acontece quando há justiça para todos. O lema da Campanha é justamente “A paz é fruto da justiça” (Is 32, 17). Precisamos dominar a selvageria da destruição para conseguirmos o amor da construção da pessoa nova. Jesus, logo Ele que não tinha pecado, quis nos dar o exemplo da doação total de si para que, imitando-O, tenhamos condição de promover a regeneração do ser humano. Somente com a conversão para o amor, conseguiremos ter um convívio na justiça. Aprendemos com o Salvador. Ele veio erradicar o mal, que está no coração do ser humano. Consertar o coração é preciso, com a educação para o amor e alteridade. Pensar no bem da pessoa, da família, da sociedade é pensar no nosso próprio bem. Na complexidade da conjuntura social agressiva, podemos levar o lenitivo ou o remédio que cura, ou seja, a justiça misericordiosa apresentada pelo Divino Mestre. Ele veio salvar a mecha ainda fumegante do desejo humano de justiça e de paz.

A justiça de Cristo realiza o bem, não porque o ser humano mereça ou deixa de merecer. É a justiça do amor que vai além da retribuição por mérito. Ela faz cada um dar de si pelo bem do outro, sem interesse. O resultado será muito rico em compreensão, fraternidade, compromisso com os mais fragilizados e com todos, à semelhança do bom samaritano. A superação da vingança, dos interesses egoístas, da má política, do desrespeito à criança, ao adolescente, à mulher, à família, da discriminação, da agressão ao meio ambiente, ao pensar só em si em detrimento dos outros… Tudo, enfim, que agride a vida, a dignidade humana e ambiental é banido. A cultura da paz deve ser uma educação contínua para pensarmos no eu social, com o eu individual pensando no todo. O resultado, de fato, advirá com solidariedade, amor e vida de qualidade para todos. Jesus é o maior estímulo para nós. Com Ele, nos tornamos novas criaturas. Superamos qualquer tipo de ódio, agressão e massacre da vida. Daremos, com Ele, vida abundante para todos.

Com a Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos este tempo profundamente propício para repensarmos nossa caminhada de superação da violência, que levou o ser humano a matar aquele que veio nos dar vida. Mas “agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Joel 2, 12-13). Seguindo a Jesus, teremos a vida nova da ressurreição pessoal, comunitária e social, já aqui na terra e um dia na eternidade.

Dom José Alberto Moura

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