Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo

 

A Semana Santa de 2020 será vivida e celebrada de forma diferente da tradicional por vivermos em tempos de COVID-19. Se a fé cristã, a Igreja e a sua liturgia fossem alheias ou paralelas à vida cotidiana e à história dos povos, não seria necessário mudar nada. Jesus, rezando ao Pai, pediu: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. (…). Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” (João 17,15.18). A Igreja está no mundo e por isso sofre com as pessoas e altera as suas celebrações e programações.

Viver a Semana Santa é abraçar o mundo na sua dramaticidade atual. Não é possível ignorar as ameaças à vida. Mas como viver a Semana Santa se não posso participar presencialmente das celebrações? Jesus foi questionado porque curou doentes em dia de sábado. É bem conhecida a importância do sábado na tradição judaica. Um a dia a ser vivido conforme as prescrições. Jesus não o desvalorizou, mas a situação era de emergência. “É permitido em dia de sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou deixá-la perecer” (Marcos 3, 4), questionou?

É preciso recordar que para a Igreja, a Semana Santa, especialmente o Tríduo Pascal, são o coração da fé cristã. É uma Semana Santa! A Páscoa é a proclamação da vida.  Como diz São Paulo o último “inimigo” foi vencido. Este inimigo é a morte que foi vencida pela ressurreição Jesus Cristo. Graças a Deus hoje conhecemos, pela ciência, que é um dos dons do Espírito Santo, como se transmitem as doenças virais e quais são os meios possíveis de controlar a sua transmissão. Não se reunir, neste ano, para as celebrações da Semana Santa e realizar os rituais tradicionais e populares é salvar vidas. É expressão de amor ao próximo. Não há nada mais sagrado do que a vida. Por isso a Igreja a defende desde a concepção até a morte natural.

A Semana Santa inicia com a solenidade denominada de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor” que dá a tonalidade do vai acontecer. A liturgia vai ressaltar o que há de mais nobre e belo do agir humano, até o mais medíocre e diabólico da maldade. No centro está Jesus Cristo. Por um lado, multidões aplaudem, louvam, transformam suas roupas em tapetes, um ajuda a carregar a cruz, outros acompanham-no no caminho do calvário, vão até a cruz e o reconhecem como o Salvador. Por outro lado, traição, negação, falso testemunho, torturadores, Pilatos lava as mãos, deboche e por fim um golpe de lança e morte.

Jesus para entrar na cidade de Jerusalém envia dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide ao povoado (…) encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. (…) Se alguém disser alguma coisa, direis: ‘O Senhor precisa deles, mas logo os devolverá” (Mateus 21,2). Toda a vida e a missão de Jesus foi servindo e dando a vida. Preferencialmente deu atenção aos marginalizados. Agora que estava chegando o momento da glória, entra na cidade com o auxílio de uma jumenta e um jumentinho. Disse que “precisava deles”, pois não tinha uma montaria própria, mas depois seriam devolvidos. Aquele que foi aclamado como rei, não confisca, apenas empresta um animal de serviço. Entra aclamado como “bendito”, como fonte de bem.

Outra cena chocante da abertura da Semana Santa é a atitude de Pilatos. “Pilatos falou: “Mas, que mal ele fez?” (…) Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é problema vosso!” (Mateus 27, 23- 24). Pilatos tinha a oportunidade de fazer um grande bem, isto é, salvar um inocente. A outra atitude maldosa dele foi dizer “este é problema vosso”.

Para esta Semana Santa convido os irmãos e as irmãs que partilham a mesma fé a lerem, meditarem e rezarem todos os textos bíblicos e litúrgicos propostos pela Igreja para cada dia. Se puderem fazer isto com as pessoas da sua casa será ainda melhor e acompanhem pelas redes sociais.

 

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