Senhor que eu veja: compaixão!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

 

A liturgia do 30° Domingo do Tempo Comum fala-nos da preocupação de Deus em que o homem alcance a vida verdadeira e aponta o caminho que é preciso seguir para atingir essa meta. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o homem chega à vida plena, aderindo a Jesus e acolhendo a proposta de salvação que Ele nos veio apresentar. Somos chamados a exultar em Deus e dar-lhe graças pelas maravilhas realizadas por Ele na pessoa de Jesus, que na pessoa de Jesus, que nos livra da ignorância e do erro e cura nossas cegueiras. Neste dia das missões, o Papa Francisco nos alerta sobre a “necessidade de missionários da esperança, capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho”.

A primeira leitura(Jr 31,7-9) afirma que, mesmo nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, quando o Povo parecia privado definitivamente de luz e de liberdade, Deus estava lá, preocupando-se em libertar o seu Povo e em conduzi-lo pela mão, com amor de pai, ao encontro da liberdade e da vida plena. O profeta Jeremias anuncia, com exultação, uma boa notícia. É o retorno dos que estavam espalhados pelo  mundo, sem casa, sem pátria, sem esperança. Ele anuncia uma nova libertação, recordando aquela do Egito antigo. Essa palavra reanima, dá coragem e vigor àqueles que estão perdidos. A presença e a força de Deus salva das tristezas do exílio e traz o povo para o caminho novo da paz. Se não se mantém essa esperança, os dias são tristes e as noites sombrias, mas é Deus quem toma o seu povo e a cada um pela mão e os conduz “por torrentes d’água, por um caminho reto onde não tropeçarão”(Jr 31,9)

A segunda leitura(Hb 5,1-6) apresenta Jesus como o sumo-sacerdote que o Pai chamou e enviou ao mundo a fim de conduzir os homens à comunhão com Deus. Com esta apresentação, o autor deste texto sugere, antes de mais, o amor de Deus pelo seu Povo; e, em segundo lugar, pede aos crentes que “acreditem” em Jesus – isto é, que escutem atentamente as propostas que Ele veio fazer, que as acolham no coração e que as transformem em gestos concretos de vida. Todo ministro e servidor da comunidade é escolhido por Deus do meio do povo para o serviço do próprio povo. Precisa ter a humildade de reconhecer as próprias fraquezas e limitações e interceder a Deus pelo povo e por si próprio. Participando da condição humana. Jesus é o autêntico sacerdote da Nova Aliança que se solidariza com o povo em suas fraquezas.

No Evangelho(Mc 1046-52), o catequista Marcos propõe-nos o caminho de Deus para libertar o homem das trevas e para o fazer nascer para a luz. Como Bartimeu, o cego, os crentes são convidados a acolher a proposta que Jesus lhes veio trazer, a deixar decididamente a vida velha e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Dessa forma, garante-nos Marcos, poderemos passar da escravidão à liberdade, da morte à vida. A alegria de Bartimeu que, de marginalizado, vem para o meio do povo que segue com Jesus. A ele uma palavra de ânimo: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!”. E é isso que não lhe falta: coragem para vencer todos os obstáculos que se colocam entre ele e o Mestre.  Quão grande foi sua alegria em poder ver novamente. Com certeza, a primeira pessoa que viu foi o próprio Senhor. Alegremo-nos com Ele e peçamos a graça de sempre podermos enxergar.

Neste dia mundial das missões, como pede o amado Papa Francisco, a quem reafirmamos nossa unidade e devoção filial, “ recordamos com gratidão todas as pessoas cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar nosso compromisso batismal de ser apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho. Lembramos especialmente aqueles que foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir, sem demora e sem medo, as aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção”.

O novo contexto da pandemia da COVID-19 que se estende de forma prolongada, evidenciou e ampliou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que tantos já padeciam. Desmascarou nossas falsas seguranças e desnudou nossa fragilidade humana. Jesus, modelo de missionário da compaixão e da esperança, convida-nos a não ficar indiferentes ao sofrimento e à dor de tantas pessoas atingidas pelas consequências da pandemia e da marginalização. Ao cego Bartimeu, Jesus perguntou: “O que queres que eu te faça?” Hoje, faz-se necessário repetir a mesma pergunta aos que estão a beira do caminho. Senhor que eu veja: compaixão! São os mais pobres e vulneráveis deste contexto pandêmico que nos interpelam a compaixão. Compaixão e esperança é o que devemos viver neste domingo como discípulos-missionários!

 

 

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