Jesus quis ser batizado por João. Ele, o Filho de Deus, veio com as naturezas divina e humana, para nos dar o direito de sermos tratados também como filhos de Deus, uma vez que não temos a natureza divina. Pelo batismo nos é aplicado esse direito. Podemos chamar e ter a Deus como Pai, sendo elevados, de meras criaturas, à filiação divina.

No batismo conferido por João, Jesus foi mostrado em sua realidade divina: “E logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado, em ti ponho meu bem-querer’” (Mc 1, 10-11). O batismo que recebemos, à diferença do recebido por Jesus de João, nos eleva à condição de filiação adotiva. De ora em diante somos tratados por Jesus como seus irmãos. Nossa missão está aí fixada: os irmãos de Jesus devem tratar o semelhante como se trata o próprio Jesus. Não é o simples ato de manifestação religiosa ou devocional a nos fazer ser vistos por Deus como seus filhos. Nosso mérito dentro dessa perspectiva está justamente na nossa ação de convivermos com amor ao semelhante, dando de nós pelo bem do outro. Este é justamente o mandamento do amor com dupla dimensão: o amor a Deus e ao próximo. Teremos a avaliação por Deus pelo bem realizado ao outro. Quanto mais o fizermos mais ganharemos diante do Pai celeste.

A religião, com sua comunidade e seus instrumentos de fomento da espiritualidade, deve ajudar-nos à ligação da fé com a vida. Quanto mais fervorosos e atuantes na comunidade religiosa, mais o deveremos ser também no convívio com o semelhante. Jesus fundou sua Igreja como instrumento eficaz de ajuda, com meios adequados a nos impulsionar à vitalidade da prática da justiça, da solidariedade, do amor, da misericórdia, do perdão, da promoção do bem comum, da defesa do meio ambiente, da prática das virtudes, dos mandamentos de Deus, da ética, da moral e tudo o que nos faz ser pessoas de doação para ajudar o convívio a ser autenticamente humano e fraterno. O próprio Cristo indica sua missão de ser luz para o mundo. Assim vão acontecer a política de real serviço à comunidade, com ética, justiça e inclusão social, a profissão exercida com ideal, a família preparada e desenvolvida com os valores inerentes às finalidades instituídas por Deus. A mídia vai apresentar valores de educação para a verdade e a promoção dos atributos humanos e éticos, respeitando a dignidade humana, a família e o bem comum…

O profeta Isaías lembra as qualidades e a natureza do Salvador: “Eis o meu servo… ele promoverá o julgamento das nações… Não esmorecerá nem se deixará abater enquanto não estabelecer a justiça na terra… constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42, 1.4-7). Quem se torna filho, como Jesus, assume a mesma postura dele, imitando seu comportamento e seguindo seus ensinamentos. Toda pessoa batizada, coerente com sua fé, não tira os olhos da pessoa, do caminho e do projeto de Jesus.

Dom José Alberto Moura

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