Sínodo dos Bispos em assembleia extraordinária

 

 

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

Nos dias 5 a 19 de outubro deste ano, o Sínodo dos Bispos reúne-se em assembléia extraordinária, convocada pelo papa Francisco, para tratar dos desafios pastorais da família no contexto atual da evangelização. Mais uma vez, a Igreja mostra sua atenção especial para com a família, como tem feito muitas vezes no passado recente.

A questão de fundo é a evangelização: como levar a Boa Nova de Jesus Cristo e da Igreja às pessoas que vivem esses desafios? Os problemas enfrentados pela família são antigos e novos e o Sínodo não vai fazer uma simples avaliação sociológica sobre o tema em pauta. Mais que tudo, a própria Igreja se questiona: diante das questões enfrentadas pela família, o que vamos fazer? Qual será nossa atitude, para ser coerente com a de Cristo, o bom pastor, que “veio buscar e salvar o que estava perdido”? Ou que ensinou: “não são os sadios que precisam de médico, mas os doentes”?

Poderíamos ter a tentação de evangelizar de maneira “genérica”, sem nos defrontarmos com as situações reais vividas pelas pessoas e famílias; e assim, nos iludir que a evangelização está alcançando e envolvendo a todos, mais preocupados em colher frutos do que em semear… O tema posto pelo papa Francisco para a próxima assembléia extraordinária do Sínodo é um convite à Igreja para se deixar questionar pelas situações reais e desafiadoras vividas pela família, e para se perguntar: como o anúncio e a missão da Igreja serão “boa nova” nas mais diversas situações da família?

Os desafios enfrentados pela família em nossos tempos também são desafios sérios para a própria ação da Igreja. A Igreja valoriza muito a família e reconhece nela, além de um desígnio especial de Deus, também uma expressão de sua própria realidade: a família é “Igreja doméstica”, célula básica da comunidade humana e eclesial.

De quais desafios se ocupará o Sínodo? Começa com a acolhida e o conhecimento do desígnio de Deus sobre a família. A verdade que a Igreja ensina sobre a família está longe de ser acolhida e aceita por todos; difundiu-se largamente a idéia de que a família é uma simples criação humana, fruto da evolução da espécie e de suas culturas; que ela não depende de nada mais do que da vontade do próprio homem e da sociedade. A partir dessa concepção, a família perde seu referencial sólido, relegada ao terreno pouco consistente das ideologias e no espaço vaporoso dos gostos e das culturas.

Damos por suposto que todos conhecem o fundamento bíblico da família e o desígnio de Deus sobre ela, explicado pelo Magistério da Igreja; na realidade, porém, isso é largamente ignorado ou menosprezado. O mesmo se diga em relação à lei natural: sem levar em conta a lei natural, perde-se de vista o fundamento natural da família e a palavra da Igreja acaba sendo vista como “imposição religiosa” indevida. A pretensão do “casamento”, de duas pessoas do mesmo sexo parte da confusão grave decorrente do abandono da lei natural no que diz respeito à pessoa humana, ao casamento e à família.

Há o drama muito estendido dos casamentos frustrados, desfeitos e refeitos, que envolvem famílias feridas e destroçadas e novas uniões, a pedir legitimação; também na Igreja, com o anseio de participar plenamente dos sacramentos e da vida da Igreja. Há também uma gama imensa de questões relativas ao papel da família nas sociedades atuais, mais caracterizados como sociedades de indivíduos que produzem e consomem, do que de pessoas que se relacionam e dependem umas das outras. Há toda a questão do papel educador da família; e aí se acrescenta o seu papel na transmissão da fé e na vida da comunidade eclesial.

Ninguém se iluda, pensando que as discussões do Sínodo vão se resumir às questões da comunhão para as pessoas divorciadas e recasadas, ou às uniões de pessoas do mesmo sexo. Seria caricatural. A 3ª. assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos terá uma vasta gama de questões a tratar: questões que desafiam a evangelização.

 

 

 

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