Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo

No dia 15 de outubro de 2017, portanto faz dois anos, o Papa Francisco anunciou a convocação de um Sínodo Especial para a Amazônia. Desde o dia 06 até 27 de outubro os Bispos, junto com convidados e observadores estão no Sínodo em Roma. Depois disso, o papa pode fazer um documento pontifício sobre tudo o que foi falado e apresentado.

O Concílio Ecumênico Vaticano II, acontecido de 1962 a 1965, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 22, apresenta o episcopado como um “Colégio” que tem à sua frente o sucessor de São Pedro, o Papa. A Igreja está presente em lugares muito diferentes no mundo manifestando a sua variedade e universalidade. A Igreja tem como uma marca fundamental a unidade que se dá sob o comando do papa. Os bispos reunidos revelam esta variedade e a universalidade e, também, a missão de zelar pela unidade. Um Concílio reúne todos os bispos e um Sínodo reúne parte do episcopado.

Em 15 de setembro 1965 o Papa São Paulo VI, a partir dos ensinamentos do Concílio, definiu e regulamentou o funcionamento dos sínodos. O Sínodo tem uma função “consultiva”, mas também pode ter uma função “deliberativa”, que precisa ser ratificada pelo Papa. São mais de 50 anos que regularmente acontecem sínodos ordinários e extraordinários e a prática vai apontando acertos e ajustes a serem feitos.

O papa Francisco no documento chamado “Constituição Apostólica Episcopalis Communio”  diz que “o Sínodo dos Bispos deve tornar-se cada vez mais um instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus: Para os Padres sinodais, pedimos antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama”.

Depois de anunciado, o Sínodo para a Amazônia começou uma longa escuta. Centenas de reuniões foram realizadas, nos nove países da região amazônica, para que seus habitantes falassem. Esta grande região do mundo que tem uma diversidade e riqueza de recursos naturais, mas também tem uma diversidade e uma riqueza de povos, culturas, tradições, línguas. Na região, em torno 80% das pessoas vivem nas cidades, há vários povos indígenas, outros povos, em torno de 110 a 130, são os “Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIAV), além de ribeirinhos, pescadores, agricultores, fazendeiros e tantos outros agrupamentos humanos.

É preciso admitir que escutar não é fácil. Depois fazer uma síntese das falas se torna um desafio imenso que será sempre incompleta e insuficiente. Da escuta e da síntese foi elaborado o chamado “Instrumentum Laboris”, isto é, um instrumento de trabalho. Através dele, os bispos têm uma visão ampla da realidade e das diferentes propostas oriundas das escutas. Tantas pessoas falando, certamente muitas falas não foram convergentes e as propostas muitas vezes são contraditórias. Porém é preciso admitir que é uma riqueza que nasceu da escuta das pessoas e povos que vivem e respiram o chão da Amazônia.

O “Instrumento Laboris” consta de três partes: 1ª ver-escutar:  “A voz da Amazônia” e tem a finalidade de apresentar a realidade do território e de seus povos; 2ª “Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”, aborda a problemática ecológica e pastoral; 3ª “Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças”, trata da problemática eclesiológica e pastoral. Temos aqui um indicativo do que está acontecendo no Sínodo. É bom lembrarmos que os participantes do Sínodo iniciam o dia de trabalho ouvindo a Palavra de Deus, rezam e depois escutam o que os colegas têm a dizer.

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