Sofrimento humano e esperança cristã

A vida humana é cheia de ilusões e de dores. Mas existe alguém que pode vencer o mal, é capaz de curar, de trazer a confiança: o Cristo. Os seus milagres manifestam que

chegou a era da salvação, que Deus está vizinho da pessoa humana. Esta boa notícia pressionou Paulo a fazer-se “tudo por todos para salvar alguém a todo custo”. Estimula também hoje o cristão à confiança, à solidariedade com quem sofre, a ser testemunha da esperança.

Antiqüíssima tradição vê em Jó o herói da sabedoria e da resistência diante da desgraça. Jó 7, 1-4. 6-7, ele fala do seu destino pessoal. Lembra a vida miserável do trabalhador forçado na milícia, do mercenário, do estado de escravidão. Enfim, resignado a morrer, esboça oração para pedir a Deus algum instante de paz antes do fim.

À pergunta sobre o sentido do sofrimento, o Antigo Testamento não tem resposta suficiente. O evangelho de Marcos 1,29-39 nos indica em Cristo aquele que se inclina sobre a miséria humana para vencê-la.

Jó se exprime de modo radical sobre o problema do sofrimento humano. Não reconhece nem encontra algum nexo causal entre culpa e sofrimento. Reconhece porém que a pessoa humana não deve acusar Deus, infinitamente superior. A imperscrutável sabedoria de Deus reduz o homem ao silêncio também diante de um sofrimento insuportável. Quem pode ter a presunção de compreender a obscuridade da vida humana? Quem seria capaz de dar conselhos a Deus? O livro de Jó por isso convida a submeter-se não a uma concepção teológica de pecado-dor, mas somente a Deus.

A resposta de Deus aos interrogativos de Jó e de toda a humanidade não é uma filosofia ou um convincente raciocínio teológico, mas Cristo que se solidariza com os pobres, os enfermos, os excluídos; o Cristo empenhado a livrá-los de suas situações de dor e de marginalização como as enumeradas pelo evangelho: “Curou muitos que estavam aflitos por várias doenças e expulsou muitos demônios”. A atitude de Cristo indica que o mal deve ser enfrentado, pode ser vencido, e será superado não somente na solidariedade com os que o suportam. Os milagres operados por ele manifestam a presença de Deus agindo na história humana, sustentando sua luta de libertação vitoriosa: por seu poder salvífico e por empenho humano. A salvação que experimentamos é somente parcial: por isso não deve faltar o empenho.

Paulo compreendeu bastante o Cristo, fez-se “servo de todos”, “tudo a todos”. Aí está a salvação, conforme a primeira carta aos Coríntios 9,16-19.22-23. Nisto está “pregar o evangelho”: não um ensinamento teórico, mas pessoal participação nas situações de todos a quem se comunica; não uma vanglória, mas um serviço, um “dever”.

No fundo, as escolhas de Cristo, de Paulo, correspondem plenamente às expectativas da pessoa humana. Também os homens do nosso tempo esperam de nós cristãos não uma teologia que explique tudo, mas uma plena participação de seus problemas e ansiedades; a contribuição de nossa colaboração para tomar consciência de seus males, denunciá-los a quem de  direito, e positiva luta para eliminá-los. A contribuição de nossa esperança é dar a certeza da vitória final como dom de Deus e fruto de nosso empenho, sustentado e estimulado sempre, não obstante as faltas quotidianas.

Charles Péguy escreve em “O Mistério da Caridade de Joana D´Arc”: “A pequena Joana diante da violência feroz que percebe no mundo, se queixa:

“Se estivesses aqui, ó Deus, as coisas não teriam acontecido dessa maneira. Nunca.” Sua mãe Gervaise responde a seu desespero:

“Deus está aqui. Está aqui como no primeiro dia. Está aqui entre nós como no dia da sua morte. Eternamente está aqui entre nós exatamente como no primeiro dia. Pela eternidade, todos os dias. Está aqui entre nós em todos os dias da sua eternidade. O seu corpo, o seu mesmo corpo, pende da mesma cruz; os seus olhos, os seus mesmos olhos, tremem com as mesmas lágrimas; seu sangue, o seu mesmo sangue, jorra das mesmas chagas; o seu coração, o seu mesmo coração, sangra com o mesmo amor. O mesmo sacrifício faz escorrer o mesmo sangue. Uma paróquia brilha com esplendor eterno. Mas todas as paróquias brilham eternamente porque em todas as paróquias há o Corpo de Jesus Cristo”.

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