Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Celebrando este Segundo Domingo da Páscoa, também chamado de “Domingo da Divina Misericórdia”, a Santa Igreja vive, com força transformadora, a vida nova que o Ressuscitado nos dá. A liturgia apresenta-nos essa comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.
Na primeira leitura(cf. At 2,42-47) temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que testemunha – com gestos concretos – a salvação que Jesus veio propor aos homens e ao mundo.
No Evangelho(cf. Jo 20,19-31) sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
O Evangelho deste domingo nos relata duas aparições de Jesus ressuscitado: a primeira, à tarde no mesmo domingo da sua ressurreição(cf. Jo 20,19) e a segunda, oito dias após a primeira(cf. Jo 20,26). Na primeira aparição, Jesus mostra aos discípulos as suas mãos e o lado com as chagas de sua paixão como prova de sua identidade pessoal; Jesus vivo em carne e osso está diante deles(cf. Jo 20,20). Eles, que duvidaram, tornaram-se testemunhas oculares da presença real de Jesus vivo(cf. Lc 24,39; 1Jo 1,2-3). Oito dias depois, Jesus aparece novamente e se dirige diretamente ao apóstolo Tomé, que não estava presente na primeira aparição(cf. Jo 20,26) e resistia em acreditar em seus companheiros, que afirmavam que Jesus havia estado com eles. Tomé exige provas concretas: se não vejo e não toco, não acredito(cf. Jo 20,25). Jesus dirigiu-se a Tomé, mas também a todos nós, como o próprio Jesus dá a entender: “Você acreditou porque me viu! Felizes são aqueles que acreditaram sem terem visto”(cf. Jo 20,29). Esta palavra é como uma nova Bem-Aventurança: Bem-Aventurados os que creem sem terem visto.
A segunda leitura(cf. 1Pd 1,3-9) recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de cada crente com Cristo – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – conduzirá à ressurreição. Por isso, os batizados são convidados a percorrer a vida com esperança (apesar das dificuldades, dos sofrimentos e da hostilidade do “mundo”), de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação definitiva. São Pedro, na sua primeira carta que ouvimos na segunda leitura de hoje, repete o mesmo pensamento. Mas para obtermos a salvação, é necessária a conversão, a mudança de vida, arrependermo-nos de nossos pecados. Todos nós pecamos e experimentamos a infinita misericórdia de Deus que nos perdoa.
E para celebrar este inefável amor misericordioso de nosso Deus, manifestado por seu Filho Jesus Cristo, São João Paulo II instituiu no dia 23 de maio de 2000 este segundo domingo pascal como a Festa da Misericórdia. Viver uma vida redimida e pacificada é consequência de uma experiência da ressurreição e de ter experimentado a infinita misericórdia de Deus.
Na Páscoa do seu Filho unigénito Deus revela plenamente a si mesmo, a sua força vitoriosa sobre as forças da morte, a força do Amor trinitário. A Virgem Maria, que viveu intimamente a paixão, morte e ressurreição do Filho e aos pés da Cruz tornou-se Mãe de todos os batizados, nos ajude a compreender este mistério de amor que muda os corações e nos faça gozar plenamente a alegria pascal, para a poder depois, por nossa vez, comunicar aos homens e às mulheres a boa notícia de que o Senhor Ressuscitado está vivo entre nós! Sejamos testemunhas do Ressuscitado!