Último domingo do ano eclesiástico: Festividade de Cristo Rei do Universo

Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP)

Cristo não é, apenas Rei do universo, mas supremo Pastor do rebanho, sumo Sacerdote da nova aliás definitiva Aliança e profeta dos profetas. Ele é único, pois Filho de Deus.

Rei? Sim, mas crucificado. Rei amoroso e justo. Diferente. Modelo. Interrogado, se de fato, era rei, Jesus respondeu: sim, Eu O sou (CfJo18,33). Rei, não com exércitos, armas, mas crucificado e ressuscitado, por isso, vencedor. Homens e mulheres o seguiram, pelos séculos: leigos(as), religiosos(as), sacerdotes, bispos, papas, médicos, filósofos, políticos, reis etc… Felizes morreram. Muitos, até como, exemplos para nós. Houve também traidores? Sim, os houve e não poucos. Infiéis? Também, até, começando por Davi e Salomão. Até Juliano, o apóstata, (sobrinho de Constantino) sentiu-se obrigado a exclamar, no fim da vida: venceste Galileu. O Galileu era Jesus Cristo.

Herodes, Dele (de Jesus) gozou e O ridicularizou. Soldados nele bateram. Pilatos, covarde demonstrou ter autoridade, afirmando: “não sabes que tenho poder, para te condenar ou libertar”? Tinha-o, mas o usou mal. Por isso, certamente, a situação se inverteu, depois, quando, ele-Pilatos-apareceu diante de Cristo: o eterno juiz. O que houve então? Não sei, mas se arrependido, esteve, ter lhe-á-dito Cristo: “vem bendito de meu Pai, meu sangue te salvou”. Pergunto, por ventura: hoje em dia, não estão soltando novos Barrabás (Mt27,15-26), prendendo novamente Cristo, ou ao menos, Cristãos? Ademais, os Cireneus, de hoje, não continuam a negar ajuda aos que precisam carregar suas cruzes e sofrimentos?

Cristo é o autor da maior e melhor, revolução que, já houve nesse mundo: a do amor, da diaconia, ou seja, do serviço. Ele mostrou que somos todos irmãos(as): brancos, negros, amarelos. Valorizou as crianças, perdoou pecadores e curou doentes. Reconheceu a dignidade das mulheres, mandou, através do evangelho, libertar escravos e olhando para o ladrão crucificado à Sua direita, disse: “ainda hoje estarás comigo no Paraíso!” (Lc23,43). Ele, Jesus Cristo, quis e quer sempre a verdadeira justiça e solidariedade.

O que, tem Ele a dizer-nos, hoje? Muito. A sua Igreja, poderá afirmar, que deveria evangelizar, mais e melhor. Ir ao encontro dos mais fragilizados, saindo, mais das sacristias, tornando-se verdadeiramente uma Igreja, em saída. Mostrando, mais amor, presença, solidariedade e serviço, tornando-se, assim verdadeiramente Mãe e Mestra, como afirma. Exigindo mais fraternidade entre os povos, mais justiça dos governantes, dos legisladores e dos intérpretes das leis. Lembrar que o Brasil é belo e rico e que os brasileiros são pobres, pois, lhes faltam chances de trabalho, de educação, de mais saúde e justiça social. Postular, certamente, mais respeito de todos e mais dignidade para todos, também, entre os cristãos.

Cristo é o Rei que precisamos, pois veio, não para impor, mas para mostrar, como ser e agir para tornar-se verdadeiros discípulos Seus. Veio servir, amando. Mostrar que ter autoridade, não é, apenas, mandar, mas fazer e exigir justiça de todos, para todos, principalmente dos grandes. Incriminaria certamente, os privilégios que levam à corrupção ou abuso do poder. Deixaria claro que o trabalho é coisa nobre e para todos, principalmente, para pequenos ou fragilizados, aos quais frequentemente falta.

Em tempo: Cuidemos com os termos “Rei e realeza”, eles não têm assepsia. Podem contagiar e infectar. Jesus somente, no fim da sua missão, aceitou ser chamado Rei: aliás seu trono foi a cruz. Dali, “atraiu todos a Si” (Jo12,32), e a partir desse ângulo, quis ser visto e seguido: “Olharão para Aquele que transpassaram” (Jo19,27).

 

 

 

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