Já entramos na segunda semana do Advento, tempo litúrgico breve, mas muito bonito e de muito significado. Para vivê-lo bem, tenhamos presente a sua dupla
dimensão: por um lado, celebramos o Mistério do Filho de Deus que vem a este mundo e seu nascimento maravilhoso da virgem Maria e somos estimulados a acolher novamente, com fé e alegria, o grande presente de amor que Deus nos faz.
O Salvador já veio e, com sua luz, iluminou a noite deste mundo e o mistério de nossa vida; Ele nos convida a entrar na família de Deus, a aderir ao reino de Deus, que já se faz presente no mundo na sua pessoa e mediante seu Evangelho, a formar uma grande comunidade de irmãos. O Advento é marcado pela presença certa de Deus em nossas vidas e na vida do mundo e pela esperança. Não estamos sós, Deus não nos deixou abandonados no universo… “Ele está no meio de nós”.
Mas há uma segunda dimensão no Advento: A Igreja nos recorda neste tempo que Jesus prometeu manifestar-se novamente, não mais como frágil criancinha, mas “com poder e glória, para julgar os vivos e os mortos”, como professamos em nossa fé católica. A comunidade dos discípulos, que somos nós, vive na expectativa desta segunda vinda do seu Senhor, clamando constantemente: “maranatá” – vem, Senhor Jesus. Com esta prece, que manifesta o desejo ardente dos cristãos de estarem definitivamente com Cristo glorificado, termina o livro do Apocalipse e o próprio texto da Bíblia (cf. Ap 22,20). E também é esta aclamação que fazemos em cada Missa, após a consagração. A Igreja, de fato, vive num constante estado de Advento; não só antes do Natal, mas durante o ano todo e a vida inteira. Quando este mundo e suas “vaidades” tiverem passado, é o encontro com o Senhor glorificado que poderá saciar plenamente o coração humano. É o que ele mais busca e deseja, durante toda a sua vida!
Por isso, o Advento nos recorda as atitudes fundamentais que devem marcar a vida cristã, à espera da manifestação gloriosa do Senhor: A vigilância, para não passar a vida distraídos e absorvidos pelas ocupações terrenas (“as preocupações da vida”), nem tomar caminhos errados, que levam para longe de Deus, e não ao encontro com Ele; a esperança alegre e confiante no Deus fiel, que cumpre suas promessas e não desilude o homem: “Naquele dia se dirá: Este é o nosso Deus, em quem esperamos!” (Is 25,9). Ele já deu provas de amor infinito, enviando seu Filho ao mundo. Mas é própria do Advento também a operosidade na prática do bem, sobretudo na prática da justiça e no amor ao próximo: “amor e verdade se encontrarão; justiça e paz se abraçarão” (Sl 84/85). Não se trata de uma espera passiva, nem do desinteresse pelas realidades deste mundo; numa das leituras da primeira semana do Advento, S. Paulo exorta a perseverar na fé e a “fazer progressos” na vida cristã.
Finalmente, o Advento nos recorda que o Senhor glorioso virá como juiz, “para julgar vivos e mortos”; por isso, é também um tempo de conversão e penitência, pedir perdão pelos nossos pecados e “esperar com amor a sua vinda”. Nas palavras de S.João Batista, somos chamados a “preparar os caminhos do Senhor”, a endireitar os caminhos tortuosos, a aterrar os vales (dos nossos vazios e da vida sem Deus…), a abaixar as colinas e lugares altos (da soberba e das idolatrias), para “ver a salvação de Deus” (cf Lc 3,4-6). Por isso, durante o Advento, é especialmente importante fazer uma pausa, para refletir sobre os rumos que nossa vida pessoal e a vida da sociedade vão tomando… Pena é que, por causa da psicose do consumismo que tomou conta deste período do ano, seja muito difícil parar para pensar e refletir… Mas, como cristãos, deveríamos fazê-lo e ajudar também o mundo a fazer o mesmo. Num belo texto do 2º domingo do Advento, nós pedimos a Deus que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro de Cristo mas, instruídos pela sua sabedoria, cheguemos à plenitude da vida.
Esta “sabedoria divina”, que nos vem através da “Palavra que se fez carne e habitou no meio de nós”, é que deve ser buscada, mais do que a corrida frenética atrás de sacolões de Papai Noel e de festas de fantasia, que deixam, depois, o mesmo vazio dos balões dos balões que se estouram, ou dos brinquedos que se quebram… Que o Senhor, quando vier, nos encontre firmes na fé, alegres na esperança e operosos na caridade!