Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

“O cristão que não conhece de maneira íntima a Via Dolorosa, está fadado a não reconhecer o que é o Amor!”

Durante o tempo da quaresma a prática devocional da via sacra percorre os caminhos de nossas paróquias. Neste ano, devido ao afastamento social essa tradição foi transferida para as nossas casas ou então via meios de comunicação. É uma prática que podemos fazer sempre e, em muitas congregações religiosas o fazem costumeiramente às sextas-feiras. É a salutar devoção que nos ajuda a refletir sobre o caminho da cruz de Jesus Cristo e nossa caminhada. Queremos abraçar a cruz agradecendo ao Senhor por nos ter dado a vida através de sua morte na cruz, mas também como acolhimento de nossas cruzes, pois só com a cruz de Cristo é que as nossas adquirem sentido.

A devoção popular da Via Sacra trata-se de uma série de estações que nos refaz relembrar os passos da Paixão e Morte de Jesus de Cristo. É perpassar pelas quatorze estações e reviver que “o encontro com a cruz, que se toca e se leva, transforma-se num encontro interior com Aquele que na cruz morreu por nós” (Papa Bento XVI).

No decorrer de cada estação, a Paixão de Cristo e o Amor Incondicional de Deus por nós, se concretiza na entrega verdadeira do Servo Sofredor, onde ocorre: a condenação do Cordeiro Imolado à morte e o carregar da Cruz, gesto de um amor sem limites de Deus por nós; o cair de Jesus com a Cruz três vezes significa que mesmo sentindo todo o peso do mal, com a força do amor de Deus, continua a acreditar no Novo que há de vir; o encontro com sua Mãe, com Verônica que limpa o seu rosto e com as mulheres de Jerusalém, cada um com sua particularidade são necessários para a glorificação de Cristo; a ajuda de Simão de Cirene; o despojamento de suas vestes;

O Corpo de Jesus pregado na Cruz, “Do rei avança o estandarte, fulge o mistério da Cruz, onde por nós foi suspenso o Autor da vida, Jesus” (Liturgia das Horas). Jesus morre na Cruz: “para salvar todo homem, morrer na cruz aceitastes. Preço do nosso resgate, o vosso sangue doastes. Mas ressurgis, recebendo do Pai a glória devida. Por vós, também ressurgidos, teremos parte na vida” (Liturgia das Horas).

Jesus é decido da cruz e é sepultado “porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (cf. Cl 1, 19-20).

A Via Sacra que o Santo Padre participa foi composta por prisioneiros que contam suas experiências, inclusive de um padre condenado injustamente. É o trazer a reflexão uma vida na escuridão do cárcere. Neste tempo de recolhimento e de isolamento social é eloquente este gesto do Papa Francisco (que foi organizado antes da atual situação mundial) e que, o sofrimento e a dor causados pela pandemia, o Senhor está próximo, e caminha conosco para uma vida renovada no Ressuscitado que vence a morte, a maldade, o ódio e instaura a vida plena!

E, cabe a cada um dia nós, viver intensamente este momento de espiritualidade ímpar, afinal, “quem não busca a cruz de Cristo não busca a glória de Cristo” (São João da Cruz). Porém, o cristão que não conhece de maneira íntima a Via Dolorosa, está fadado a não reconhecer o que é o Amor! Por isto, ao contemplar a Via Sacra sejamos ousados a reconhecer todo o mistério de Amor em nossos corações, a fim de glorificar o caminho Doloroso da Salvação na real Graça da Ressureição!

          

 

 

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