Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
A liturgia deste 33º. Domingo do Tempo Comum reflete sobre o sentido da história da salvação e diz-nos que a meta final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da felicidade plena, da vida definitiva. Este quadro (que deve ser o horizonte que os nossos olhos contemplam em cada dia da nossa caminhada neste mundo) faz nascer em nós a esperança; e da esperança brota a coragem para enfrentar a adversidade e para lutar pelo advento do Reino.
À medida que nos aproximamos do final do ano litúrgico, as leituras da Missa apresentam a mensagem de vigilância ante os desafios do mundo presente, mas também de esperança, da certeza de que um mundo melhor nos aguarda.
Na primeira leitura(cf. Ml 3,19-20a), um “mensageiro de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada, céptica e apática que Deus não abandonou o seu Povo. O Deus libertador vai intervir no mundo, vai derrotar o que oprime e rouba a vida e vai fazer com que nasça esse “sol da justiça” que traz a salvação.
O Evangelho(cf. Lc 21,5-19) oferece-nos uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer, até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a velha realidade desapareça e nasça o Reino. Esse “caminho” será percorrido no meio de dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus.
Como nos mostra o Evangelho, os próprios fundamentos de nossa vivência religiosa podem ser abalados(cf. Lc 21,6), podemos nos ver tentados a seguir falsos anunciadores da Boa-Nova(cf. Lc 21,8) e podemos não achar apoio sequer entre os membros da nossa família e amigos(cf. Lc 21,16). Apesar de tudo isto, devemos continuar a levar a nossa vida de trabalho e de oração(cf. 2Ts 3,12), comendo o nosso pão com o suor do nosso rosto(cf. Gn 3,17), pois só assim que poderá nascer para nós o “sol da justiça trazendo a salvação em seus raios”(Cf. Ml 4,2).
A esperança cristã só pode nascer da coragem, da ousadia do seguimento de Cristo até o fim. E quem faz esta experiência e nela persevera “salvará a sua alma”(cf. Lc 21,19) – e a alma de nosso mundo.
A segunda leitura(cf. 2Ts 3,7-12) reforça a ideia de que, enquanto esperamos a vida definitiva, não temos o direito de nos instalarmos na preguiça e no comodismo, alheando-nos das grandes questões do mundo e evitando dar o nosso contributo na construção do Reino.
Neste domingo estamos celebrando o 3º. Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco, que tem como tema: “A esperança dos pobres não será frustrada”. A esperança perdida devido às injustiças, aos sofrimentos e à precariedade da vida será restabelecida. Encontramos, ainda hoje, famílias desterradas; órfãos abandonados, jovens em busca de realização profissional; vítimas de tantas formas de violência, desde a prostituição à droga, e humilhadas no seu íntimos. Temos o drama da migração e do tráfico humano, os mais pobres e marginalizados, muitas vezes tratados infelizmente como lixo. A Igreja, ao se aproximar dos pobres, descobre que é um povo, espalhado entre muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação. Levemos aos pobres conforto, esperança, colaborando diretamente para que ninguém se sinta privado da proximidade, do calor humano, do afeto e da solidariedade da Igreja, de seus ministros e do povo santo de Deus!