Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos hoje o 26º Domingo do Tempo Comum e o tema da liturgia dessa semana continua sendo o perdão, assim como temos acompanhado já há alguns Domingos. Hoje de maneira de especial observamos que todos nós podemos nos arrepender de nossos “erros” passados e escolher o caminho da verdade e do amor.
Nós temos o livre arbítrio para escolhermos qual caminho devemos seguir e se cairmos em si e vermos que estamos no caminho que desagrada a Deus ou fizemos a escolha errada para a nossa vida naquele momento, poder examinar a nossa consciência e optar pelo caminho certo.
Que esta celebração deste domingo, em que celebramos o Dia Nacional da Bíblia, nos ajude a “descobrirmos” qual o caminho que estamos escolhendo. Se é o da mentira ou o da verdade, e se estamos sendo fiéis na missão a qual o Senhor nos chamou desde o nosso Batismo.
Seguindo essa linha de pensamento que o profeta Ezequiel (Ez 18,25-28) na primeira leitura de hoje se dirige ao povo de Israel. O profeta questiona o povo que estava dizendo que a conduta do Senhor era errada. E o profeta indaga o povo: “É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta”?(Ez 18,25) O profeta diz que quando um justo se desvia do caminho da justiça e pratica a injustiça, é pela injustiça que ele cometeu que morrerá. E quando o ímpio se arrepende de seus pecados ele conserva a sua vida. Essa leitura será iluminada pelo Evangelho deste domingo.
O profeta alerta a praticar o direito e a justiça e com certeza viveremos e não morreremos. Não coloquemos a culpa em Deus por causa de nossos erros, pois se caímos foi por nossa própria vontade e não a dele. Sempre nos guiemos pelo caminho da verdade e da justiça para sempre estarmos de pé diante do Senhor.
O salmo responsorial 24 (25) nos recorda da bondade e da ternura do Senhor que está sempre propenso a perdoar as nossas faltas, desde que de coração nos arrependamos. Devemos nos pautar pelo caminho do Senhor que é a verdade e essa verdade nos conduz para a salvação e o caminho da mentira nos conduz para a “perdição”.
Na segunda leitura (Fl 2,1-11) São Paulo se dirige a comunidade de Filipos. O Apóstolo São Paulo nos mostra qual é o caminho da humildade, e que não importa o “cargo” que tenhamos na vida devemos sempre respeitar o próximo, nunca nos acharmos superiores ou melhores que ninguém. O texto de Paulo é solene: ele explicita que a sua maior consolação, alento e unidade no Espírito ele pede para que eles ajudem a tornar completa a sua alegria: viver na unidade, harmonia, mesmo amor, nada fazendo por competição ou vanglória. Daí ele cita o grande hino cristológico d’Aquele, que sendo Deus se fez homem e deu a vida por nós. E o apóstolo ainda diz para termos os mesmos sentimentos de Cristo, que não usou do poder que ele tinha como uma “usurpação”, mas esvaziou-se completamente e assumiu a condição humana e deu a sua vida por nós.
No Evangelho de São Mateus (Mt 21,28-32) Jesus lança uma pergunta aos anciãos e sacerdotes do templo. Um homem tinha dois filhos, primeiro esse homem se dirige a um de seus filhos e pede que este vá trabalhar na vinha, ele diz “não”, mas depois mudou de opinião e foi. Em seguida o Pai se dirige ao outro filho, este diz “Sim”, mas não foi. Em seguida Jesus pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do Pai”?(Mt 21,31) Todos eles unanimem-te disseram que foi o primeiro.
Jesus usa da resposta deles para dizer que os cobradores de impostos as prostitutas os precedem no Reino dos céus. Pois ouviram a pregação de João Batista e se arrependeram de seus pecados e os anciãos e sacerdotes do templo que se entendiam fiéis a lei não aceitavam a pregação de Jesus. Eles mesmo vendo os sinais que Jesus realizava estavam como que “cegos” e não se arrependiam para crer nele.
Observamos no Evangelho de hoje, que sempre há tempo para o arrependimento, então, podemos num primeiro momento dizer “não” a verdade de Deus, mas depois ter tempo de cair em si e optar pelo “Sim” a essa verdade. E quando cairmos por algum motivo devido aos nossos erros, não por a culpa em Deus, mas nos levantarmos e mudar a nossa conduta.
Agradecidos pela celebração do mês da Bíblia, que neste ano aprofundou o livro do Deuteronômio, e que teve como tema “Abre tua mão para o teu irmão!” (Dt 15,11). Somente sabe repartir e socorrer os mais necessitados aqueles que dizem “Sim” a Deus vivendo uma vida misericordiosa que é traduzida em caridade e compaixão. Nunca deixemos de abrir nossas mãos para os nossos irmãos, principalmente, os mais pobres, necessitados e os doentes de toda natureza.
Além disso comemoramos hoje o 106º Dia Mundial do Migrante e Refugiado com a mensagem do Papa Francisco: Forçados como Jesus Cristo a fugir”, acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos.
Estamos também comemorando “O Tempo da Criação” que começou dia 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e vai terminar em 4 de outubro, em memória a São Francisco de Assis. A iniciativa deste ano acontece durante o Ano Especial de aniversário da Encíclica Laudato si’, 5 anos de sua publicação, lançada pelo Papa Francisco, que vai até 24 de maio de 2021, organizada pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O tema da edição deste ano da preocupação com a criação que veio da tradição oriental é “Jubileu da Terra: novos ritmos, nova esperança”.
Neste domingo comemoramos também o Dia Nacional do doador de órgãos, gesto de caridade tão importante dos familiares de alguém que faleceu, ou mesmo, em alguns casos, grande generosidade evangélica da doação entre vivos.
Também comemoramos o Dia Mundial do Turismo que nestes tempos tanto tem sofrido e ocasionado muito desemprego. A Igreja tem uma Pastoral do Turismo, não apenas voltada para o turismo religioso, mas também para a causa do turismo em geral.
Iluminados pela Palavra de hoje, vivamos o amor e a justiça e experimentemos o perdão e a misericórdia do Senhor em nossa vida e transmitamos esse amor há quem nós encontrarmos. E assim como Jesus nos ensina, apresentemos o caminho da verdade para aqueles que estão no caminho do erro, assim construiremos o Reino dos Céus.
Que São Jerônimo, cuja festa que será no próximo dia 30, ocasionou esse 49º mês da Bíblia e também o Dia Nacional da Bíblia, e que comemora neste ano 1600 anos de sua morte, interceda por nossa vida para que pela vivência da Palavra de Deus e pela prática do arrependimento e pelo perdão efetuado a quem dele precisa, cheguemos a uma vida nova.