Anglicanos acolhidos na Igreja Católica

No dia 04 de novembro passado, o papa Bento XVI publicou a Constituição Apostólica Anglicanorum coetibus, acerca da instituição de Ordinariados Pessoais para os

Anglicanos que desejam entrar em plena comunhão com a Igreja Católica. De fato, de algum tempo para cá, a Igreja Católica tem sido procurada com frequência por pessoas, singularmente, e por grupos organizados, que desejam estar em plena comunhão com ela.

Os Ordinariados pessoais, a serem criados pela Santa Sé, serão assimilados à Dioceses, não limitados ao território de uma Diocese, mas situados no âmbito das Conferências Episcopais, onde isso se fizer necessário; tais Ordinariados são “pessoais”, enquanto seu cuidado pastoral é confiado pessoalmente a um “Ordinário”- bispo ou padre designado pela Santa Sé. Os Ordinariados dependem diretamente da Congregação para a Doutrina da Fé, mas deverão relacionar-se também com outros organismos da Cúria Romana, para as questões que são da competência desses: clero, laicato, religiosos, bispos…

Os fiéis anglicanos acolhidos na Igreja Católica devem professar a fé católica e terão no Catecismo da Igreja Católica a exposição autêntica da sua fé. Mas a liturgia poderá ser celebrada segundo os rituais da tradição litúrgica anglicana, devidamente aprovados pela Santa Sé. Evidentemente, poderão ser usados por eles também os rituais do nosso rito romano. O ordinário exercerá suas competências, ajudado por um “Conselho de Governo”, devidamente instituído, e regido por estatutos próprios, aprovados por ele e confirmados pela Santa Sé; ele também deve ter um Conselho de Assuntos Econômicos e um Conselho Pastoral, como acontece nas dioceses territoriais.

A Constituição Apostólica é explicitada, ainda mais, nas respectivas Normas Complementares, aprovadas pela Congregação para a Doutrina da Fé na mesma data de 04.11.2009. Prevê-se que os padres anglicanos casados, que aderirem à comunhão plena com a Igreja Católica, possam continuar a exercer seu ministério, mesmo casados. Porém os sacerdotes novos, a serem formados para os Ordinariados, deverão assumir, normalmente, o celibato sacerdotal; contudo, em casos particulares, a Santa Sé também poderá dispensá-los do celibato. Os bispos dos Ordinariados, no entanto, deverão ser celibatários.

Os seminaristas devem ser, normalmente, formados junto com os demais seminaristas diocesanos, recebendo formação especial apenas para o que seria próprio da tradição espiritual, litúrgica e mística anglicana. Os Ordinariados poderão receber como seminaristas, somente candidatos que tenham vindo do anglicanismo. Prevê-se ainda que deve haver uma colaboração harmoniosa do Ordinariado com a Diocese, na qual esteja estabelecido; os bispos responsáveis pelos Ordinariados Pessoais também pertencerão, às Conferências Episcopais do país onde estiverem situados e com elas terão convivência e colaboração harmoniosa.

Os Ordinariados constituem uma estrutura eclesial nova, onde o Direito Canônico é flexibilizado e onde a Igreja Católica também inova para acolher em seu seio fiéis provenientes da comunidade Anglicana; de um lado, são mantidos os requisitos da comunhão na Igreja Católica; de outro, são levadas em consideração e valorizadas as riquezas autênticas da tradição anglicana. Na única Igreja Católica Apostólica Romana existem diversas expressões autênticas de vida eclesial.

Como reagiu a Comunhão Anglicana a esta decisão da Santa Sé? Isso não vai criar novas dificuldades para o diálogo ecumênico? Sabe-se que, antes da publicação desta Constituição Apostólica, houve diálogo com o Arcebispo de Cantuária, primaz da Igreja Anglicana, que respeita a liberdade de escolha e de consciência dos fiéis anglicanos; e a Igreja Católica nada mais faz que acolher o pedido livre e pessoal que recebe de fiéis da Igreja Anglicana.

No sábado, dia 21 de novembro, pouco mais de duas semanas após a publicação da Constituição Apostólica, o mesmo Arcebispo de Cantuária fez visita a Roma e foi recebido pelo papa Bento XVI. É sinal claro de que as relações ecumênicas com a Comunhão Anglicana não foram arruinadas, ou diminuídas. O Ecumenismo vai adiante e vai produzindo frutos, mediante a ação do Espírito Santo. Graças a Deus!

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