Arquidiocese de Mariana se manifesta sobre eventual retorno de atividades mineradoras em área urbana

A arquidiocese de Mariana (MG) se manifestou, em nota, sobre eventual reabertura das atividades minerados em área urbana do município de Mariana. No texto, a arquidiocese destaca a Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e apresenta algumas ponderações quanto à atividade mineradora.

“A abertura de atividade mineradora em área urbana certamente afetará a população, atingirá sua saúde, comprometerá sua qualidade de vida, causará poluição atmosférica, ameaçará as nascentes de água e provocará outras repercussões negativas ao meio-ambiente”, diz um trecho do texto.

A arquidiocese argumenta ainda sobre sua fundamentação com relação à posição da Igreja. “A posição da Igreja a respeito desse tema se fundamenta na correta compreensão da pessoa humana, vocacionada a ser mais, na comunhão com Deus e com os semelhantes”, diz outro trecho. E completa “A Doutrina Social da Igreja ensina que o desenvolvimento só será verdadeiro se for integral, isto é, se contemplar todas as pessoas e todas as dimensões da vida humana. Por isso, não basta apenas o progresso material. Para seu adequado funcionamento, a economia precisa ser regulada também por princípios éticos”.

Leia nota na íntegra, abaixo

NOTA DA ARQUIDIOCESE
SOBRE A EVENTUAL REABERTURA DE
ATIVIDADE MINERADORA EM ÁREA URBANA DE MARIANA

Diante do debate sobre a possível retomada da mineração na área urbana de Mariana, MG, à luz da Campanha da Fraternidade deste ano, que abordou o tema FRATERNIDADE E A VIDA NO PLANETA e das exigências cristãs em relação à vida digna do ser humano, como Pastor desta Arquidiocese, sinto-me no dever de apresentar as seguintes ponderações:

1.       A concessão do direito de lavra ou mineração deve levar em conta o princípio da destinação universal dos bens, que visa a garantir a dignidade do ser humano e a promoção do bem comum.

2.      A abertura de atividade mineradora em área urbana certamente afetará a população, atingirá sua saúde, comprometerá sua qualidade de vida, causará poluição atmosférica, ameaçará as nascentes de água e provocará outras repercussões negativas ao meio-ambiente.

3.      O rico acervo histórico, artístico e cultural de Mariana, patrimônio não só da Igreja, mas também de nossa Cidade, de nosso Estado e de nosso País, não pode ser ameaçado, mas deve ser cuidadosamente preservado.

4.      É preciso estudo criterioso do impacto social, econômico, ambiental e cultural da atividade mineradora, envolvendo as instâncias competentes e representativas de toda a comunidade marianense, bem como as autoridades no âmbito municipal, estadual e federal, em debate aberto, transparente e democrático.

5.      Mariana, primeira vila, primeira cidade e primeira diocese de Minas Gerais, reconhecida como Monumento Nacional, poderá ver prejudicada a indústria do turismo, que é hoje uma importante fonte de sustentação e renda para muitos de seus habitantes.

A posição da Igreja a respeito desse tema se fundamenta na correta compreensão da pessoa humana, vocacionada a ser mais, na comunhão com Deus e com os semelhantes. A Doutrina Social da Igreja ensina que o desenvolvimento só será verdadeiro se for integral, isto é, se contemplar todas as pessoas e todas as dimensões da vida humana. Por isso, não basta apenas o progresso material. Para seu adequado funcionamento, a economia precisa ser regulada também por princípios éticos.

Como a fé cristã implica compromisso social, a Igreja quer contribuir na construção de uma sociedade fraterna e solidária, fundada no amor, na verdade e na justiça, à luz do projeto de Deus para a humanidade, expresso na afirmação de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Imploro a Nossa Senhora do Carmo, Padroeira de Mariana, que interceda junto a seu Divino Filho pelo bem de nossa Cidade e pelo desenvolvimento integral deste Município.

Mariana, 16 de julho de 2011

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo Metropolitano

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