Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

 

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022 

“Fala com sabedoria, ensina com amor” (Parte 9) 

Introdução 

Estamos iniciando mais um tempo quaresmal e, com ele, somos chamados a promover a Campanha da Fraternidade (CF). O tempo quaresmal nos estimula à conversão, à melhoria de nós mesmos, e isso não é possível sem revermos a qualidade da nossa relação com os outros. Eis porque fica bem o compromisso de Fraternidade. Não devemos reduzir essa mobilização numa perspectiva social. A fraternidade é, antes de tudo, um compromisso pessoal. 

A cada ano a Igreja do Brasil assume um aspecto desse compromisso de promoção da fraternidade e da justiça, como caminho de exercício de conversão. Neste ano nos é proposto o tema “fraternidade e educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26).  

 Quaresma: educar-se para a fraternidade 

A quaresma é tempo favorável para conversão do coração para não cairmos no individualismo, na violência, na indiferença aos outros. Assim como não existe verdadeiro amor a Deus sem o amor ao próximo, também não existe autêntica conversão sem nos educarmos para a fraternidade.  

A conversão profunda passa por um processo de educação de cada um de nós como mudança de mentalidade que reorienta a nossa vida, que gera atitudes novas e promove o nosso desenvolvimento integral. A educação tem uma profunda relação com a conversão da mente (nosso modo de pensar) e do coração (gestão da nossa afetividade). A educação que não gera conversão, como mudança positiva de mentalidade e estilo de vida, é estéril.  

Nesta CF somos chamados a olhar para a educação com um olhar mais profundo, muito além de uma pura questão social. A educação vista à luz da fé, iluminada pela Palavra de Deus, tem uma enorme profundidade e amplitude.  

A Palavra de Deus nos educa para a prática de boas obras (cf. 2Tm 3,17) que nos leva a promover a cultura do diálogo, da paz, da justiça, da fraternidade, do perdão, da solidariedade.   

 Os objetivos da Campanha da Fraternidade  

O texto base deste ano nos apresenta como objetivo geral da CF: “promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário”.  

Objetivos específicos: analisar o contexto da educação e da cultura atual com seus desafios; verificar o impacto das políticas públicas na educação; identificar valores e referências da Palavra de Deus e da tradição Cristã para a educação humanizadora; pensar o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo de educação; incentivar propostas educativas; estimular a organização da Pastoral da Educação; promover uma educação comprometida com novas formas de economia, política e de progresso a serviço da Vida, em especial dos mais pobres… 

 A importância da escuta 

Para podermos falar com sabedoria e ensinar com amor, é necessário nos educarmos para a escuta. A educação profunda pressupõe uma atitude de escuta por parte do educador. A experiência da escuta é de fundamental importância nas relações interpessoais e na educação. Podemos dizer que não há educação onde se negligência a experiência da escuta. Aprendemos e ensinamos através da escuta, interativa.   

A escuta faz parte da comunicação e isso supõe proximidade. Da mesma forma a educação. A educação é um encontro de sujeitos. Escutar é uma condição básica para a qualidade das nossas relações interpessoais, mas também para a compreensão do que se passa na sociedade; somos chamados também a “escutar” a sociedade que nos fala através dos acontecimentos.  

Quem não sabe escutar também não será capaz de discernir e nem de comunicar com sabedoria. Sem a escuta que proporciona o justo diagnóstico da realidade, não será possível ensinar com amor. O amor pressupõe a acolhida do outro com suas necessidades e recursos.  

Por tudo isso é de fundamental importância a pedagogia da escuta, sinal de amor e que pressupõe o silêncio. 

A educação está em muitos contextos

A educação não é uma realidade específica das escolas. Por isso, para melhor sabermos como vai a educação é necessário um amplo olhar sobre todas as realidades onde acontece a educação. 

A educação de uma sociedade está na cultura, na vida das pessoas, nas relações interpessoais. A educação está por de trás dos acontecimentos e nos sinais dos tempos. Neste tempo de pandemia surgiram novos dramas humanos, mudanças sociais, desafios e conquistas. As circunstâncias sociais nos educam, exigem de nós novas atitudes e nos desafios continuamente.  

A educação está na família, que é o seu berço; está nas escolas com seus múltiplos desafios pedagógicos, técnicos e profissionais; a educação está também, muitas vezes, com muita evidência nas Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, ONGs, movimentos sociais, associações; a educação está nas Instituições de Ensino superior etc. A educação ultrapassa os limites e interesses das escolas.  

 Desafios da educação  

A educação enquanto processo de promoção do desenvolvimento integral do ser humano enfrenta muitos desafios em todas as dimensões. Antes de tudo, a educação saudável pressupõe uma visão profunda (holística) do ser humano, acolhendo-o como um ser com muitas dimensões a serem desenvolvidas. O reducionismo é um dos mais fortes desafios para a educação em nossos dias.    

Outro grande desafio da educação é aquele de pensar um projeto social amplo que implica a promoção de projeto de vida dos indivíduos. Toda educação deve mirar um ideal de sociedade. A construção de uma sociedade melhor que implica a superação dos problemas concretos, é consequência de um projeto. A educação deve estimular a cultura de processos, superando o imediatismo, o presentismo, a fragmentação; isso significa estimular a cultura do cuidado, da preventividade, do senso coletivo e estimular a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento humano integral.  

A educação é um direito humano, um bem público, por isso, não deve ser tratada como objeto de comércio. O Estado tem a responsabilidade, em parceria com a sociedade, em preservar o caráter de bem público da educação. Por isso, um plano de educação que não considera os legítimos direitos e anseios do povo é deficitário.   

A educação alicerçada na dignidade humana enfrenta o desafio da promoção da cultura do encontro estimulando a superação de preconceitos, barreiras, ódio, indiferença porque a meta da educação é promover autênticas relações de fraternidade e justiça na sociedade. Isso pressupõe, portanto, a superação de uma pedagogia tecnicista. 

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:  

Qual é a relação entre quaresma, educação e fraternidade? 

Por que não é possível a educação sem a escuta? 

Quais desafios da educação você percebe hoje? 

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