Comitê Emergencial de Recursos e Ações se reúne e define critérios para aplicação de recursos da Campanha É Tempo de Cuidar do RS

O povo gaúcho segue sofrendo as consequências das fortes chuvas que atingiram o Estado em maio. Algumas regiões já conseguiram se reorganizar frente à destruição, enquanto outras têm apenas agora a possibilidade de voltar para suas casas e enfrentar a realidade desoladora deixada pelas enchentes. Por outro lado, no Sul do Estado, os municípios que ficam à margem da Laguna dos Patos ainda sofrem com as águas invadindo ruas e residências.

Este contexto de sofrimentos diversos em todo o Rio Grande do Sul foi o principal motivador para que os bispos do Estado decidissem pela criação do Comitê Emergencial de Recursos e Ações. O grupo tem como principal objetivo indicar formas de aplicação dos recursos arrecadados pela Campanha lançada pela CNBB Sul 3 e CNBB em favor das vítimas das chuvas: “É Tempo de Cuidar do RS”.

A primeira reunião do comitê aconteceu na noite de segunda-feira, de junho, em modalidade online, e contou com a presença do presidente do Regional Sul 3, dom Leomar Brustolin; do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler; do bispo auxiliar de Porto Alegre, dom Odair Gonsalves dos Santos; e do padre Rogério Ferraz de Andrade, secretário executivo do Regional Sul 3.

Além deles, foram convidados para compor o grupo o diretor da Cáritas da arquidiocese de Porto Alegre, Luiz Carlos Campos; a decana da Escola de Saúde da Unisinos, professora Denise Zaffari; o professor do programa de Pós-Graduação em Psicologia na PUCRS, professor Christian Haag Kristensen; e o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sul, o general Adilson Akira Torigoe.

Abatidos, mas não destruídos

Dom Leomar Brustolin iniciou o encontro com as palavras de São Paulo aos Coríntios: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados (4, 8-9)”. Segundo o Presidente do Regional, a 2ª Leitura do último domingo traduz o pensamento do povo gaúcho neste momento que ergue a cabeça, olha para frente e diz com firmeza: ‘vamos recomeçar’.

Durante a reunião, os participantes foram convidados a refletir sobre a realidade atual da população gaúcha e, neste contexto, indicar quais seriam as melhores formas de aplicar os recursos arrecadados pela Campanha.

O professor Christian Haag Kristensen dedica sua carreira de pesquisador aos estudos de transtornos de estresse pós-traumático e iniciou o debate pontuando justamente a necessidade do cuidado com a saúde mental das pessoas afetadas. “Já vemos e logo teremos ainda mais o aumento dos transtornos de depressão e ansiedade, além dos traumas que estas pessoas carregam. Especialmente a médio e longo prazo isto se tornará ainda mais preocupante”, alertou Christian.

Na ativa desde o início da tragédia que afetou o RS e comandando as forças militares – marinha, exército e aeronáutica – o general Akira ressaltou o que tem visto na região metropolitana: “O que estamos vendo nas ruas é que as pessoas estão voltando para casa e fazendo a limpeza do jeito que dá, ou seja, sem equipamento de proteção individual”.

Este relato reforçou a decisão prévia dos bispos em reunião na última semana para a aquisição equipamentos de proteção individual como primeira aplicação dos recursos arrecadados. Apesar da dificuldade em adquirir estes materiais no momento, a CNBB Sul 3 seguirá buscando fornecedores que possam efetivar a entrega enquanto ainda há a necessidade destes produtos.

O General ainda explicou que a escassez de água e de roupas já foi superada e que estas não são demandas no Rio Grande do Sul neste momento, que agora também precisa de móveis, eletrodomésticos e insumos para readequar suas casas. “Não há como nivelar uma necessidade geral para todo o Estado”, pontuou. Por fim, valorizou a capilaridade da Igreja e sustentou que as “paróquias são bons e importantes instrumentos de medida de necessidade da população”.

Fidelidade aos que contribuíram: uma ação organizada

Ao ouvir a exposição de todos, dom Leomar sintetizou: “Concordamos que precisamos trabalhar sobre a saúde mental e também olhar para a emergência das famílias nos diversos momentos”. Para o arcebispo de Santa Maria e Presidente do Regional, é preciso ter cuidado para não fazer o que muitos outros já fazem e descuidar de aspectos que não são vistos por estes agentes:

“Existem muitas forças se organizando neste momento e não queremos um retrabalho. Não nos parece ser uma solidariedade organizada e pensada fazer um trabalho que outros já estão fazendo. Não queremos e não podemos comprar produtos e estocá-los, mas precisamos garantir a fidelidade da ação com aqueles que doaram”, afirmou dom Leomar.

Por fim, o grupo concordou que o investimento dos recursos deve ser realizado em 3 etapas: Imediato – Equipamentos de Proteção Individuais; Curto Prazo – Móveis e eletrodomésticos para as famílias atingidas; Médio Prazo – Buscar formas de incidir no cuidado com a saúde mental.

Para garantir que estas ajudas sejam oferecidas a quem realmente precisa, a CNBB Sul 3 contará com a capilaridade, a organização e incidências das paróquias situadas nas regiões mais atingidas.

Na noite da próxima quinta-feira está marcada mais um reunião do episcopado gaúcho, a fim de seguir monitorando a realidade do Estado e definir encaminhamentos concretos a partir das sugestões indicadas por este Comitê Emergencial de Recursos e Ações.

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