Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA
No dia 17 de abril, celebrou a comunidade eclesial a passagem dos 22 anos do massacre em Eldorado dos Carajás, Sul do Estado do Pará, na curva do S, Diocese de Marabá onde 19 colonos foram mortos pela polícia militar.
O episódio ficou conhecido mundialmente como o massacre de Eldorado dos Carajás. Na época, os trabalhadores sem terra faziam uma caminhada até a capital Belém quando foram impedidos de prosseguir pelo aparato militar, onde houve o confronto e morte de muitas pessoas. O que deveria ser um ato de grito em favor do ser humano que vive no campo contra a demora na desapropriação de terras, acabou em tragédia. Por isso é importante fazer a memória aos mortos e na defesa da reforma agrária para que ocorra porque a terra foi dada por Deus, para todos e não somente para alguns, assim diziam os padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos. Até o momento poucas pessoas foram julgadas e condenadas. O fato é que a impunidade continua sendo a regra para crimes cometidos contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo, assim dizia a Anistia internacional. É preciso a investigação correta dos fatos e haja justiça e paz no campo, sobretudo no Pará onde morrem muitas pessoas no campo, não só na cidade.
Recordamos dia 17 de abril de 1996 onde correram a violência e a morte de muitos agricultores e agricultoras tirando a vida de muitas pessoas inocentes. Queremos pedir justiça e o judiciário possa julgar as pessoas com o tempo. Pedimos o descanso eterno de nossos irmãos e irmãs assassinados pela causa da terra. A luta continua em favor da paz e do amor no campo e na cidade. Estamos refletindo a CF – 2018 que fala sobre a superação da violência. A violência perpassa todos os níveis da sociedade brasileira. Precisamos implementar sempre mais uma cultura de paz, a civilização do amor, na expressão do bem aventurado Papa Paulo VI, onde Jesus Cristo é a paz entre as pessoas e os povos, onde vivamos bem, nos querendo bem e todos com vida digna. A Igreja católica convida a todos para que vivamos o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Estamos unidos a todas as pessoas que foram na celebração, na curva do S, perto de Eldorado dos Carajás, pelo ato de louvor ao Senhor em favor da vida sobre a morte, pedindo o descanso eterno dos que tombaram pela luta da terra. Queremos nos unir a muitas pessoas que foram assassinadas no campo e na cidade por causa do bem e da justiça social. Queremos nos unir a muitas pessoas que fazem o bem de uma forma silenciosa e levam para frente os compromissos familiares, comunitários e sociais.
O fato é que a violência no campo continua com índices bem altos de mortes de agricultores e de agricultoras, sobretudo na Região Norte, Sul do Estado do Pará. É preciso lutar pela Reforma Agrária e pela paz no campo. Na Diocese de Marabá temos muitos acampamentos e assentamentos de colonos. Como Igreja queremos suplicar para que as autoridades olhem com carinho para muitas famílias que não tem terra para que possam usufruir algum dia de um pedaço de terra, para ter vida digna e também buscam a vida comunitária no seguimento a Jesus Cristo.
Nós fazemos memória de 22 anos de massacre de Eldorado dos Carajás. A memória diz que muito sangue foi derramado naquele dia, por causa da luta pela terra. A terra é um dom de Deus. Deus criou a terra para ser de todos e não apenas de algumas pessoas. Essa data não pode ser esquecida, mas está na lembrança de todos nós, do município de Eldorado dos Carajás, da Diocese de Marabá, do Estado do Pará, do Brasil e do mundo. Queremos a justiça no campo, queremos a fraternidade, a superação da violência, das mortes de trabalhadores e trabalhadoras do campo e na cidade. São vinte e dois anos de memória, de sangue derramado, mas de muita esperança e caridade no Deus da vida, no Deus Uno e Trino.