Apesar dos tristes números de mortes e desabrigados na Região Serrana do Rio de Janeiro (750 mortos e mais de 15 mil desabrigados), as dioceses de Petrópolis e Nova Friburgo atribuem os primeiros passos à vida normal ao trabalho “solidário” que vem sendo desenvolvido em toda a região.
A assessoria de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entrevistou os bispos das duas dioceses, dom Filippo Santoro [Petrópolis] e dom Edney Gouvêa Mattoso [Nova Friburgo]. Os dois relataram o que houve, de fato, na região que foi destruída pelas enchentes e deslizamentos; descreveram também como está sendo o trabalho organizado em parcerias com outras entidades, entre elas a Cruz Vermelha e o Governo, e as ações das dioceses frente à catástrofe.
Dom Filippo chamou de “dramática” a situação da Região Serrana do Rio por nunca ter havido, na história do Brasil, tantos mortos num único evento trágico ambiental. O que o bispo de Petrópolis ressalta, porém, não é a tragédia, mas a solidariedade que é visível em todas as partes. “Podemos falar das inúmeras causas da tragédia: a ocupação irresponsável das encostas, a falta de planejamento urbano, a depredação ambiental, mas não podemos deixar de falar em algo muito bonito que vemos todos os dias, que é a solidariedade por todas as partes”, ressaltou o bispo.
Além da Cruz Vermelha, Governos estaduais e federal, a diocese de Petrópolis tem trabalhado arduamente em parceria com outras entidades, inclusive com a Prefeitura do município. Dom Filippo destaca que os templos e colégios, antes locais para a educação e oração, agora são designados para a acolhida de centenas de desabrigados. “É uma corrida pela solidariedade que não tem como medir. As pessoas estão firmes em busca de suas vidas e a melhor forma de realizar esse trabalho tem sido através da união e parcerias, como temos feito”, afirmou dom Filippo.
Ainda segundo dom Filippo, a Igreja em Petrópolis tem sido uma referência para ajudar as vítimas das enchentes. O principal trabalho tem sido acolher desabrigados temporariamente e arrecadar e distribuir utensílios de primeira necessidade. Ele destaca, no entanto, que no momento, a diocese estuda a possibilidade de acolher os desabrigados de maneira “digna”. “A Igreja está pensando em solucionar a questão dos desabrigados: oferecer a eles abrigos dignos. Estamos estudando essa possibilidade, seja por meio de acampamentos com barracas ou cedendo casas religiosas para eles morarem”, destacou.
“Ajuda vem de todas as partes”
Dom Filippo Santoro atribui às dioceses espalhadas por todo o Brasil e à Igreja no mundo a vontade de ajudar as vítimas da Região Serrana. Ele observou que recebeu dezenas de ligações de bispos de outras dioceses espalhadas pelo país, que tiveram como único objetivo se solidarizar com a Igreja da Região e ajudar por meio de doações em dinheiro a reconstruir a vida das vítimas da tragédia. “Tenho recebido ajuda de várias dioceses de norte a sul do Brasil. Disponibilizamos uma conta bancária para receber o dinheiro e é grandioso o que vemos lá. Senhoras fazem suas doações pequenas, outros fazem grandes doações e assim a ajuda chega. A Conferência Episcopal da Itália fez uma doação de 1 milhão de euros e com isso estamos podendo ajudar a confortar a vida das pessoas que sofrem com a tragédia”, contou dom Filippo. Ele disse que as pequenas doações na conta bancária da diocese já somam pouco mais de 40 mil reais. O município de Petrópolis chora a morte de 62 duas pessoas até o momento.
Dom Filippo presidiu nesta quarta-feira, 19, na Catedral São Pedro de Alcântara, uma missa em memória aos mortos da tragédia. Neste domingo, 23, ele celebrará outra missa pelas vítimas das chuvas no Santuário de Aparecida (SP). A missa será pela manhã e terá também a presença do bispo de Nova Friburgo (RJ), dom Edney Gouvêa Mattoso.
Nova Friburgo
“Atendimento aos desabrigados, resgate de corpos e disponibilização de infraestrutura necessária para o atendimento às comunidades”. Segundo o bispo de Nova Friburgo, dom Edney, este tem sido o trabalho da diocese de Nova Friburgo frente à tragédia que retirou a vida de 359 habitantes do município [dados da Prefeitura de Nova Friburgo atualizados na quinta-feira, 20].
Da mesma forma que a diocese de Petrópolis, a diocese de Nova Friburgo tem trabalhado em parceria para articular as ações de busca de corpos e atendimento às vítimas. “A nossa ação tem sido efetiva na doação de materiais de primeira necessidade, abrigos, como também o trabalho fraterno e espiritual a essas pessoas, muitas delas só ficaram com a roupa do corpo, desnorteadas, perambulando pelas ruas”, lembrou dom Edney.
Áreas isoladas
“Chegar a algumas regiões só é viável no momento por meio de helicópteros”, relatou dom Edney. Ele afirmou que esta tem sido uma das dificuldades da diocese em ajudar nos trabalhos de resgate, atenção e busca de corpos. “Sabemos o que está acontecendo, mas o acesso a essas localidades ainda é bastante difícil, principalmente a parte comunicativa, que dificulta uma articulação imediata”. O acesso a que se refere dom Edney acontece principalmente nas pequenas comunidades fora da região urbana de Nova Friburgo. São áreas cercadas por montanhas, que foram duramente castigadas com as enchentes e deslizamentos.
Sobre os prejuízos da diocese, dom Edney apontou que houve várias percas de agentes de pastorais, outros ainda estão desaparecidos. As perdas materiais ainda estão sendo levantadas, mas já há dados de que desabaram várias capelas na cidade e no interior, alguns templos e uma parte do antigo seminário da diocese que está desativado.
Nesta quinta-feira, 20 de janeiro, dom Edney faz exatamente um ano que está na diocese de Nova Friburgo. Ele tomou posse no dia 20 de janeiro de 2010.