Dom Peruzzo comenta Motu Proprio do Papa que estabelece formalmente ministério de catequista

A Sala de Imprensa do Vaticano anunciou que na terça-feira, 11 de maio, será apresentado à mídia o Motu proprio “Antiquum ministerium”, com a presença do arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e dom Franz-Peter Tebartz-van Elst, delegado para a catequese do dicastério.

O documento, do Papa Francisco, estabelecerá formalmente o ministério de catequista, desenvolvendo a dimensão evangelizadora dos leigos desejada pelo Concílio Vaticano II. Um papel ao qual, disse o Papa Francisco em vídeo-mensagem, que cabe a responsabilidade do “primeiro anúncio”.

Diante da iminência do documento, o portal da CNBB conversou com o arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, dom José Antônio Peruzzo, sobre a importância da ação do Papa e o seu significado.

Confira a entrevista:

Dom Peruzzo, o que é um Motu Proprio? 
A expressão Motu Proprio, expressão latina, significa movido dele mesmo, digamos assim de própria iniciativa. É algo querido pelo próprio Papa. O romano pontífice, ele não é apenas o executivo, vitalício, a exercer uma função, ele é o pastor da Igreja universal, sucessor dos apóstolos, com uma responsabilidade de pastorear a igreja e movido por sua própria iniciativa e percepção pastoral originada de suas próprias motivações, claro que assessorado sempre, mas motivado por suas próprias determinações. E como pastor da igreja universal decidiu publicar um determinado escrito cuja característica é da própria moção pessoal, isto quer dizer Motu Proprio.

Qual é a importância e o que esse documento significa para o serviço catequético?

São várias centenas de milhares de catequistas no Brasil. Ministério é a palavra “munus” e também especialmente ministro,  originalmente significa aquele que age em nome de. Reconhecer o serviço catequético como um ministério é algo que procede já daquela mais genuína teologia e eclesiologia do Vaticano II. O Papa Francisco é enfático nos seus pronunciamentos explícitos ou de maneira nem sempre explícita, mas ele é sempre muito afeiçoado ao que o Concílio Vaticano deixa a entrever.

O que se vislumbra com esse Motu Proprio?

De certo modo não é uma novidade. Já estava de maneira latente e presente no que a Igreja queria projetar de si mesma. Para o serviço da catequese sem nenhuma dúvida é um serviço solene. É uma nova experiência que aqui no Brasil já se discutia e em algumas dioceses já se praticava. Valoriza a catequese, os catequistas e a atuação da catequese como um todo.  O Papa é muito sensível especialmente ao ministério da ministerialidade feminina, digamos assim. Na catequese é imensa a maioria feminina nesse serviço. 

E o que o Documento significa em termos pastorais?

O catequista se sente como leigo ministerialmente instituído. Não é apenas um serviço que presta a uma comunidade. Diz o Papa: é vocação, sim!

Servir em nome da igreja à comunidade, à educação da fé, e fazê-lo por causa do batismo que recebeu e a verdade que professa; assumir isso e a Igreja reconhecer este papel não como papel, mas como missão, não como um atributo, mas como algo próprio da identidade do batizado. Assumir isso como ministério responsabiliza a própria hierarquia. Não é um título que se dá, mas uma missão que se reconhece. É dom de Deus. Não é uma distribuição efetiva e prática e/ou pragmática de tarefas é pronunciar a verdade de si mesmo, o catequista, na condição de ministro e não apenas de colaborador funcional. E isto educa a Igreja e os hierarcas bispos, presbíteros e também diáconos. Educa-nos para tomar no devido apreço e reconhecer na devida grandeza o que significa educar a fé de um povo.

Haverá um ritual para instituí-los ou reconhecê-los ministros e ministras. Será uma liturgia específica, tem a solenidade própria. Não será apenas uma titulação, mas formular pública e liturgicamente uma missão que há séculos a igreja exerce, mas precisava educar-se para reconhecer que não apenas no serviço oficial da liturgia, mas no serviço ministerial da educação da fé, os leigos e aqui – de maneira mais destacada as mulheres – podem conferir um novo rosto ao discipulado. São discípulas. No Brasil centenas de milhares que podem dizer à Igreja o quanto de maternidade a própria Igreja precisa se deixar matizar pela presença do ministério dessas mulheres.

Há uma fala do Papa que diz que “o catequista é uma vocação”. E que “Ser catequista, esta é a vocação, não trabalhar como catequista”. Para o senhor, a catequese é uma vocação?

O Papa diz sim que a catequese é uma vocação. A diferença e o que significa vocação? A palavra vocação vem de vox, procede de dentro. Não é uma palavra que alguém de fora pronuncia e determina, mas é uma voz interior que ressoa e ecoa e espera daquele ou daquela escolhida para a missão uma resposta. A resposta se dá em expressão de serviço catequética. O ministro catequista não presta um mero serviço, ele não dá aulinhas sobre a fé, ele partilha a experiência de ter encontrado Jesus Cristo, isso começa deste dentro, por isso é voz interior, por isso é vocação.

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