Ter lucidez, mudar de estilo de vida, oferecer ao mundo uma vida ao sabor do Evangelho, pensar a vacinação universalizada, superar qualquer tipo de contraposição à ciência. Esses foram alguns dos apontamentos de necessidades da sociedade brasileira no momento atual feitos pelo arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, durante a live “Ciência e fé católica: Universalização do acesso à vacina e amizade social”, promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB em parceria com a Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos, na última quinta-feira, 4 de fevereiro.
A conversa, baseada no diálogo entre a fé e a razão, tratou da universalização do acesso à vacina contra a covid-19, no objetivo de superar a pandemia, em consonância com a proposta da Igreja de uma Fraternidade Social, apresentada pelo Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti.
Sem fraternidade humana, não vamos avançar
O Papa Francisco fala na encíclica Fratelli Tutti que a união de pessoas para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos “entra no «campo da caridade mais ampla, a caridade política». Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social”. A partir dessa ideia, dom Walmor ressaltou que, “sem fraternidade humana, não vamos avançar”.
Tal avanço prescinde de uma mudança de estilo de vida, perspectiva própria do Evangelho de Jesus e que aponta a conversão, como destacou dom Walmor.
“Precisamos oferecer ao mundo uma vida ao sabor do Evangelho. O Evangelho de Jesus Cristo é uma fonte inesgotável de humanismo, de espiritualidade, de fraternidade humana, de ensinamentos que se nós vivermos nós faremos grandes revoluções. Muitas vezes estamos amarrados em sentimentos, em disputas, incompreensões que não nos ajudam”, afirmou.
Acesso às vacinas
Dom Walmor partilhou a exposição com o professor doutor titular do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (MG), Hercílio Martelli Júnior. O acadêmico partilhou produções científicas que relacionam o contexto da pandemia com o olhar da humanidade com os mais pobres, destacando a necessidade de cooperação mútua entre os países.
“Se as nações pensarem em si, apenas nos seus habitantes, e esquecerem que estamos numa casa comum que é o planeta terra, dificilmente passaremos por esse desafio que estamos vivendo. Não encontraremos solução, não superaremos o momento pandêmico se nós tivermos o olhar, mais uma vez isolado”, explicou Hercílio, citando a conclusão de outros estudiosos de que o novo coronavírus não reconhece fronteiras.
O acesso universalizado às vacinas, nesse sentido, foi destacado em estudos como premissa para, junto com a fraternidade e a amizade social, evitar que a humanidade pague “um preço muito alto”, o que já tem acontecido.
“Falou-se muito da politização em relação à vacinação. E é um fato, mostrando deficiências muito graves na gestão do Governo Federal, de governos estaduais e municipais e de uma desarticulação. O preço, estamos pagando, e vamos pagar alto pelas consequências exatamente de atrasos, de não entendimentos adequados, de não definição de estratégias a seu tempo”, salientou dom Walmor.
“Precisamos fazer um caminho para que a vacinação chegue para todos. Mas não basta. É preciso vacinação e um novo estilo de vida”, reforçou o presidente da CNBB.
Assim, ao pensar a amizade social, dom Walmor reforçou a importância de pensar a vacinação universalizada, “de modo estratégico, com investimento, sem manipulações, sem mesquinhez política, exatamente olhando os vulneráveis que não podem estar esquecidos e que tem aumentado”.
Superar contraposição à ciência
Ao final da live, dom Walmor fez um convite a todos: “que nós superemos decisiva e definitivamente qualquer tipo de contraposição à ciência”. Para o arcebispo, “é importante que governos e que segmentos da sociedade providenciem com inteligência, competência e celeridade vacina para todos e que todos a recebam”.
Doutor Hercílio Martelli Júnior, por sua vez, reforçou a importância “da responsabilidade da informação que estamos gerando” e desejou, “acima de tudo, que junto à vacina, além da capacidade de gerar anticorpos contra o sars-cov, que gerasse também anticorpos imbuído a responsabilidade, o amor fraterno, a melhor convivência”.
Confira a live completa: