A Igreja no mundo celebra hoje, 10 de agosto, o Dia Internacional da Solidariedade Cristã como um dos valores humanos fundamentais para o desenvolvimento adequado das relações nacionais e internacionais entre as pessoas e nações. Segundo o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a solidariedade é um princípio que deve estar presente, sempre, na vida de todo cristão. “Cada pessoa, especialmente nos momentos de dificuldade, tem a oportunidade de reconhecer e se dedicar ao cultivo desse princípio”, disse.
Dom Walmor alertou que, na atualidade, fala-se muito em diferentes tipos de inteligência. Todas importantes, segundo ele. Contudo, o presidente da CNBB advertiu que ainda não se valoriza adequadamente uma inteligência essencial, que ultrapassa até mesmo os limites da razão humana: “a inteligência do coração”, que permite vencer indiferenças, aproximar-se de quem sofre e cuidar.
“A inteligência do coração chama-se compaixão. Compadecer não é simplesmente sentir pena, oferecer sobras a quem precisa de ajuda. Trata-se de genuinamente estar com o próximo, que é irmão, sensível às suas dores e, consequentemente, determinado a ajudar na superação de seus muitos sofrimentos”, definiu.
“É Tempo de Cuidar”
Um forte exemplo de solidariedade cristã no Brasil ganhou expressão, no contexto da pandemia do novo Coronavírus, com a realização pela CNBB e pela Cáritas Brasileira da Ação Emergencial “É Tempo de Cuidar”. Dados atualizados de 10 de agosto, apontam que 890 mil pessoas foram beneficiadas por diferentes ações realizadas em 131 circunscrições religiosas, o que inclui dioceses e arquidioceses.
Das 593 ações registradas, foram arrecadados 4.635.732 toneladas de itens alimentícios, distribuídas 557.049 alimentos prontos para o consumo, 428.104 unidades de roupas e calçados, 338.915 kits de higiene e limpeza e 280.809 equipamentos de proteção individual. A ação recebeu, em recursos financeiros, o total de R$ 3.386.353,00.
Pesquisa sobre a ação social da Igreja
Na Igreja no Brasil, dioceses, paróquias, associações, novas comunidades e institutos mobilizam um exército de caridade que atua em todo país. Junto com as 21 Pastorais Sociais estruturadas nacionalmente, as Obras Sociais da Igreja chegam à somatória de 499,9 milhões de atendimentos a cerca de 39,2 milhões de pessoas e aproximadamente 11,8 milhões de famílias.
Os dados são da pesquisa sobre a Ação Social da Igreja no Brasil encomendada pela CNBB à Fundação Grupo Esquel Brasil (FGEB), cujo presidente, o cientista social Silvio Sant’Ana, foi o responsável por organizar os dados no relatório. A pesquisa se desenvolveu no campo ocupado por duas instâncias institucionais muito próprias no contexto eclesial: as “Obras Sociais” e as “Pastorais Sociais”.
De acordo com o responsável pela pesquisa, Silvio Sant’ana, obras sociais são organizações quase sempre com existência legal (pessoas jurídicas de direito privado) e, geralmente, vinculada a Institutos e Ordens Religiosas, ou à diocese, com pessoal especializado, dispondo de instalações físicas, recebendo pessoas e as demandas de interessados no atendimento. “É, de certa forma um núcleo ‘receptivo’, um local onde é ofertado à população um atendimento ou um serviço”, descreve.
Amostra da pesquisa
A amostra da pesquisa é de 26 Igrejas Particulares no Brasil, entre dioceses e arquidioceses, e admite um erro amostral de até 5% para mais ou para menos. Os dados referem-se ao ano de realização da investigação, 2014. Foi decidido não incluir na pesquisa as organizações dedicadas a assistência de Saúde (hospitais) e as de Educação (escolas católicas). No entanto, as Obras Sociais criadas e patrocinadas por hospitais e escolas católicos fazem parte da amostra.
É considerado o número de 10.760 paróquias, dado disponível de 2010, para encontrar mais de 32 mil iniciativas estruturadas, uma vez que, a partir de uma outra pesquisa, feita pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), em 1999, que apontava pelo menos três iniciativas de ação social em cada paróquia do Brasil. A este número, somam-se as associações de obras sociais dispostas em cada diocese e as iniciativas dos mais de 500 institutos e ordens religiosas e de vida apostólica distribuídos em 1026 sedes em todo o país.
Dos 499,9 milhões de atendimentos da Igreja, 393,5 milhões correspondem às Obras Sociais. Este número corresponde a quase 30,3 milhões de pessoas atendidas, número equivalente a 88% do número total de pobres do país.
As Pastorais Sociais realizaram, em 2014, 106,4 milhões de atendimentos. São 8,9 milhões de pessoas atendidas e 2,7 milhões de famílias. A cobertura nas dioceses do Brasil tem destaque pela presença da Pastoral da Criança na totalidade das Igrejas Particulares do Brasil. Em seguida, somente a Pastoral Carcerária e a Pastoral da Pessoa Idosa têm cobertura em mais da metade das dioceses brasileiras. No menor grau de capilaridade, as pastorais do Surdo, da Mobilidade Humana, da Ecologia, Afro-Brasileira e dos Direitos Humanos estão em 9% das dioceses, cada, o que significa 25 localidades, praticamente coincidindo com o número de cidades capitais.
As áreas do atendimento
A pesquisa encomendada pela CNBB também faz uma classificação das pessoas atendidas nas obras e pastorais sociais a partir de funções sociais, assim divididas: saúde, assistência social (saúde + educação + proteção social básica), desenvolvimento e defesa de direitos e outros. Na ação da Igreja, há forte concentração nos serviços de atendimento na área da saúde, seguidos da assistência social. No âmbito das Obras Sociais, refere se a 40,9% e 46,7% dos atendimentos, respectivamente, sendo que a Assistência Social engloba, em conjunto, os serviços de saúde, educação e proteção social básica.
As Pastorais Sociais destacam-se na defesa de direitos ou promoção de iniciativas de melhoria de renda ou emprego. São 3,1 milhões de pessoas atendidas, o que corresponde a 35% dos atendimentos. Assim como nas obras sociais, contudo, o atendimento na área da saúde é o mais expressivo: são 5,5 milhões de atendidos, 62,3% do total de pessoas a quem se destinam ações das pastorais.
Segundo a pesquisa, parte significativa do esforço na área de saúde está associada ao atendimento materno infantil, mas também são contemplados segmentos populacionais como pessoas soropositivas, dependentes químicos (de drogas permitidas ou não), pessoas ou grupos vítimas de violência e abusos de toda ordem, portadores de necessidades especiais.
Quem é quem no atendimento
No recorte por tipo de público atendido pela ação social da Igreja, o destaque vai para as crianças e jovens, que concentram 18% do número de atendidos. A Pastoral da Criança, por exemplo, atende mensalmente 1,2 milhão de crianças. Os idosos são o segundo grupo mais expressivo no atendimento, principalmente se o recorte for as Obras Sociais, onde se encontra um número até maior do que o de crianças e jovens: são 2,6 milhões de pessoas na terceira idade atendidas.
A população em situação de rua, a exemplo dos que recebem atenção do grupo da “Kombi da sopa”, em Santa Catarina, refere-se a 2,7% do total de atendidos por obras e pastorais sociais da Igreja. De acordo com a pesquisa, o número de atendidos, apesar de parecer pequeno dentro do universo estimado, representa quase metade dos “moradores de rua” recenseados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas capitais e áreas metropolitanas.