Embora a Palavra de Deus possua eficácia em si mesma, no entanto, sua credibilidade, em grande parte, está condicionada pelo testemunho pessoal dos discípulos de Jesus, por sua ação missionária e pela vivência da comunidade eclesial.
Pela pregação de Paulo, fecundada pela graça do Espírito Santo, o carcereiro de Filipos reconhece a intervenção divina, confessa sua condição de pecador e manifesta sua necessidade de salvação, como ouvirmos na primeira leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos.
“Senhores, que devo fazer para ser salvo?”, pergunta o carcereiro. Paulo e Silas responderam: “Crê no Senhor Jesus e sereis salvos tu e todos os de tua família” (At 16,30-31). A resposta direta, clara e precisa dos discípulos de Jesus rompe com a indiferença, a superficialidade e o relativismo que tomam conta do coração humano.
A conversão do carcereiro apresenta de forma sintética os passos do catecumenato que devem caracterizar o processo de iniciação cristã: à pergunta do convertido: ‘que devo fazer?’ seguem-se a exposição do evangelho, o banho batismal e a refeição eucarística, que introduzem o convertido na comunidade eclesial formada pelos discípulos de Jesus. Essa forte experiência de fé, marcada pelo encontro com Jesus Cristo vivo, leva o discípulo a transformar-se em missionário da Boa Nova.
O evangelho que nos foi proclamado nos diz que, diante do anúncio da partida de Jesus, a tristeza tomou conta dos apóstolos. O Senhor os consola com a promessa: “quando vier o Defensor, ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: o pecado, porque não acreditaram em mim; a justiça, porque vou para o Pai, de modo que não mais me vereis: e o julgamento, porque o chefe deste mundo já está condenado” (Jo 16,9-11)
O Defensor convencerá o mundo de seu pecado. O testemunho vital da Igreja, perpetuando, ao longo dos tempos, a vida divina que Cristo lhe comunicou, colcoará em luz que Jesus foi inocente e que o mundo (no sentido próprio de João) é culpado “porque não acreditou no Filho de Deus (cf. Jo 3,19-21; 15,21-25). O Paráclito convencerá o mundo com respeito à justiça, pois, a vida dos cristãos, voltada para a justiça, deve colocar em luz a justiça de Cristo, na media em que os cristãos vivem do Espírito Santo, a Igreja que vive a vida de Cristo mostra que “o príncipe deste mundo já foi julgado” (cf. Jo 12,31; 14,30).
Chegando ao término de sua vida pública, há muitas coisas que Jesus ainda não pode dizer e que devem esperar a vinda iluminadora do Espírito da verdade. A glorificação que o Filho recebe do Pai, e que por sua vez é glorificação do Pai, continua na Igreja por meio da atividade do Espírito santo, que perpetua a obra de Cristo.
Ontem como hoje, o Espírito de Deus desperta nos discípulos de Jesus a coragem para anunciar os valores autênticos e a engajar-se efetivamente na contestação dos contra valores. Essa contestação, suscitada pelo Espírito Santo, não se reduz a simples denúncia verbal, mas se encarna na promoção dos valores evangélicos nas situações concretas da vida, e desperta o ardor missionário que impulsiona para o anúncio de Jesus Cristo, de sua pessoa e de sua mensagem, “para que nele nossos povos tenham vida”.
O carcereiro, “depois de batizado, junto com todos os seus familiares, fez Paulo e Silas subirem até sua casa, preparou-lhes um jantar e alegrou-se com todos os seus familiares por ter acreditado em Deus” (cf. At 16,33-34). Agora quem nos prepara a refeição é o próprio Senhor. Aqui ele nos congrega ao redor da mesa do Pai, oferece-nos este Banquete Sagrado, no qual reparte conosco o seu corpo e o seu sangue, doando-nos sua própria vida.
No início da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que se realiza nesta terra abençoada de Aparecida, nós imploramos com o Salmista: “completai em nos a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Nós vos pedimos: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (cf. Sl 137). Amém!
Missa de terça-feira, 15 de maio, durante a Conferência de Aparecida